Gaslighting (ou a manipulação como violência psicológica)

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Gaslighting (ou a manipulação como violência psicológica)
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6 de março de 2021 - psico

Em homenagem ao mês das mulheres, trago a reflexão sobre a violência psicológica contra mulher, já que a violência vivenciada pela mulher é uma questão de saúde pública, e a maior parte das vezes essa violência é praticada por parceiro íntimo, sendo um problema complexo que exige uma atuação interdisciplinar. Mas para isso vamos compreender um fenômeno bastante comum e pouco percebido como violência psicológica: o Gaslighting.

Este termo é derivado do filme de 1944 Gaslight, ou À Meia Luz em português, em que um marido tenta convencer sua esposa que ela é insana, fazendo-a questionar a sua realidade. Recentemente, outro filme, A Garota do Trem também abordam a manipulação psicológica.

Portanto, gaslighting é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador. Ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção, identidade, autoestima e até mesmo, sanidade.

Por isso esse fenômeno gera um impacto destrutivo na vida daquele que sofre o abuso. E por vezes, é de difícil identificação quando feito de forma sutil, e pode ocorrer tanto em contextos profissionais como nos familiares, mas é mais comum nos relacionamentos amorosos. Uma das características marcantes dessa situação é que, acima de tudo, no gaslighting, o agressor domina a vítima, não no sentido físico, mas no sentido psicológico. Com efeito, ele passa para estágios mais crescentes. Quanto mais elevado, mais forte é sentida a agressão pela vítima e maior sua dependência do agressor.

De modo geral, o abusador tenta colocar a vítima contra as pessoas. Inventa coisas sobre seus amigos e sua família para que cada vez mais ela se afaste deles com o objetivo de isolá-la socialmente. Ele, por sua vez, segue sua vida normalmente com os amigos e familiares.

Também podemos identificar algumas expressões comuns utilizadas por essas pessoas como: “você está exagerando”, “está imaginando coisas” ou “você está enlouquecendo” são muito utilizadas nesse contexto pelo agressor. A repetição de uma ideia acaba construindo uma crença e diminui a capacidade de autopercepção da vítima e ela acaba acreditando naquelas afirmações. A sensação é de que está realmente enlouquecendo. O objetivo do abusador é ganhar poder e controle sobre as vítimas.

Outra característica do abusador que utiliza gaslighting é ter uma reação de “morde e assopra”. Quando a pessoa abusada o confronta, ele se comporta de forma pacífica, fazendo vários agrados à vítima. Isso acaba gerando uma confusão e insegurança na pessoa abusada.

Por estar envolvida emocionalmente, alimenta a esperança de que o parceiro irá mudar. Ele sabe disso e exatamente por esse motivo se comporta assim. E como eu sei que eu ou alguém que eu conheço está sendo vítima?

Você pode observar alguns sinais como medo de falhar ao agir sozinha; perguntando a si mesma se está agindo de maneira emotiva; não se sentir feliz, mesmo percebendo que as coisas andam, aparentemente bem ou estar sempre se desculpando ao companheiro. Estar constantemente justificando ações dele aos amigos e família e começar a mentir para si mesma, para amigos e família que as coisas andam bem, criando uma falsa ilusão.

A vítima também passa a esconder informações da relação dos demais para não ter que se explicar. Além de questionar-se sobre se realmente é suficientemente boa no que faz. O sentimento de confusão e dúvidas sobre si mesma a todo o momento também é comum. E ainda é possível que a vítima é a pessoa responsável pelos problemas da relação. E como devo agir se perceber isso? Em primeiro lugar faça o possível para afastar-se, pois isso é um tipo de manipulação, um abuso mental com o objetivo de controlar e ter poder sobre você, retirando sua rede de apoio. Procure ajuda, com um amigo, com alguém da rede de saúde ou outros serviços de apoio contra violência doméstica.

Sem esquecer claro que você está amparada pela Lei Maria da Penha (2006), que define que a violência psicológica está inclusa na violência doméstica e familiar. Desta forma: a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause danos emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito
de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.

Então, procure ajuda e também ajude outras mulheres que são ou foram vítimas de violência.


Vanessa Santos – Psicóloga CRP 07/25298