Ícone do site Cachoeira do Sul em tempo real

Filme sobre crime em Cachoeira leva dois prêmios

Crédito: OC/Reproduçao

Os vencedores do 49º Festival de Cinema de Gramado foram divulgados na noite deste sábado. Concorrendo na categoria Longas-Metragens Gaúchos, o filme “Extermínio” ganhou dois prêmios. Dirigido por Mirela Kruel, o filme trata de um crime que ocorreu em Cachoeira do Sul. A vítima foi uma mulher trans que foi assassinada em 2016.

Os dois kikitos de “Extermínio” foram para Melhor Montagem – Joana Bernardes e Mirela Kruel e Melhor Atriz – Luciana Renatha, Alexia Kobayashi e Veronica Challfom.

Crédito: OC/Reprodução

Mirela Kruel (“O Último Poema” e do premiado curta-metragem “Catadora de Gente”) é a diretora do longa distribuído pela Lança Filmes com um recorte sobre a vivência de três mulheres transsexuais, marcadas pela violência, mas também pelos sonhos e a amizade. As três têm algo em comum além das circunstâncias da vivência trans: são amigas de Nickolle Rocha, mulher trans tragicamente assassinada em 2016.

Na época, dois adolescentes – de 15 anos e 16 anos – confessaram ter espancado a vítima, de 19 anos, em Cachoeira do Sul. A declaração foi feita na Delegacia de Polícia, após os dois serem ouvidos separadamente e terem caído em contradição. Porém, os alegaram que não sabiam que Nickolle havia morrido em decorrência da violência.

De acordo com a Polícia, Nickolle – eleita Miss Diversidade de Cachoeira do Sul e Miss Simpatia da Diversidade do Rio Grande do Sul – morreu de traumatismo craniano com lesões como deslocamento da mandíbula.

A investigação contou com o auxílio de uma amiga da vítima para chegar à autoria do crime. As duas saíram juntas quando foram abordadas pelos dois menores, que eram conhecidos de Nickolle.

Ainda de acordo com as apurações no período, os adolescentes agrediram Nickolle após divergências.

Os menores de idade afirmaram à Polícia acreditarem que a vítima estava desacordada e foram para casa.

Crédito: OC/Reprodução

Premiados

“Carro Rei”, de Renata Pinheiro, foi o grande vencedor do festival, levando quatro prêmios: melhor filme, melhor trilha musical, melhor direção de arte e melhor desenho de som.

Como a própria diretora contou durante o debate do filme ao longo da semana, “Carro Rei” é “sobre o quanto estamos nos transformando nesse homem tecnológico e quanto podemos nos desumanizar neste processo”. Trazendo diversas referências que passam pela ficção científica, o longa traz questões sobre a identidade brasileira e o momento recente do Brasil. “Eu queria agradecer por ter essa voz agora, estamos passando por um momento tão difícil de destruição total do nosso setor que emprega tanta gente, um setor que emprega tanta gente, que dá chance para tantos talentos brasileiros entenderem o que é se comunicar, o que é criar uma expressão artística, o que é ser brasileiro. Estão querendo destruir a gente e a gente não pode”, agradeceu Renata emocionada que ainda fez um apelo à Cinemateca e um agradecimento a todos que trabalharam no filme e nas produções brasileiras.

A comédia de western “Jesus Kid” garantiu a Aly Muritiba melhor direção e melhor roteiro em longa-metragem brasileiro, uma adaptação do livro de Lourenço Mutarelli. O filme deu ainda a Leandro Daniel Colombo o Kikito de melhor ator coadjuvante. A melhor atriz coadjuvante foi Bianca Byington por “Homem Onça”.

O ator Nando Cunha consagrou-se melhor ator pelo papel de Mauro em “O Novelo”. O prêmio tem um gostinho todo especial para ele, já que o papel foi conquistado justamente pela visibilidade e reconhecimento em 2017 quando ele foi o melhor ator de curta-metragem brasileiro em Gramado por “Telentrega”, despertando a atenção da diretora Claudia Pinheiro. “Estou feliz demais, feliz demais. Quero agradecer a todos os atores que trabalharam comigo, meu Deus, meu Deus. Hoje a gente fala muito de posicionamento, das pessoas ficarem em cima do muro, é sobre a importância de se posicionar e foi por eu me posicionar que esse filme nasceu. Eu era um moleque que morava na Penha e costumava ver o festival de Gramado como o ‘Oscar brasileiro’. E esse moleque ganhou hoje um ‘Oscar’ de melhor ator com longa brasileiro tendo como concorrente Paulo Miklos e Matheus Nachtergaele que eu sou muito fã, só agradecer demais”, falou emocionado entre lágrimas.

Glória Pires, que já tem um troféu Oscarito, homenagem entregue em 2013 no 41º Festival de Cinema de Gramado, conquistou agora seu primeiro Kikito pela atuação no drama policial “A Suspeita”, de Pedro Peregrino. Ela não pôde participar virtualmente da cerimônia pois estava no casamento da filha Cleo. A produtora Daniela Busoli representou a atriz e leu um depoimento de Glória em agradecimento ao prêmio: “Parabenizo o festival pela sua 49ª edição homenageando com muita justiça os profissionais do audiovisual brasileiro, essa caminhada ininterrupta especialmente nesse momento é uma enorme inspiração. Agradeço a Daniela Busoli e ao Leonardo Lessa por terem me recebido tão generosamente nesse projeto criado por Luis Eduardo Soares e dirigido pelo grande parceiro de tantas aventuras criativas Pedro Peregrino. Agradeço a cada profissional que trouxe sua criativa contribuição ao projeto, especialmente a nossa montadora Joana Collier. A vida é feita de encontros e fazer cinema é reproduzir a vida contando histórias que nos fazem questionar e buscar saídas mesmo quando não parece haver uma”.

Filme uruguaio “La Teoría de Los Vidrios Rotos” vence entre os estrangeiros

A coprodução entre Brasil e Uruguai “La Teoría de Los Vidrios Rotos” venceu o melhor filme de longa-metragem estrangeiro desta edição. Na comédia, o protagonista Claudio Tapia (Martín Slipak) é perito de uma seguradora e foi enviado até uma cidade do interior uruguaio para desvendar uma misteriosa série de incêndios em carros. Além do Kikito de melhor filme, a produção recebeu também o voto do júri popular.

“Planta Permanente”, de Ezequiel Radusky, recebeu os outros dois Kikitos da mostra: júri da crítica e também um prêmio especial do júri oficial “pela abordagem de temas tão presentes em nossa sociedade, que refletem as consequências de um sistema corrompido e afetam diretamente os valores humanos; e pelas interpretações das protagonistas femininas que representam a força das mulheres latinas em nosso cinema”.

Documentário “Cavalo de Santo” leva o Kikito de melhor filme entre os longas gaúchos

O documentário “Cavalo de Santo”, que traz um retrato do universo religioso afro-brasileiro no Rio Grande do Sul, foi eleito o melhor filme entre os longas-metragens gaúchos. O filme é baseado no livro da diretora Mirian Fichtner que passou dez anos pesquisando em terreiros sobre o tema no estado. “Cavalo de Santo” é o primeiro filme do casal Mirian Fichtner e Carlos Caramez, que também levou os prêmios de melhor filme pelo júri popular, melhor roteiro e melhor trilha musical.

Entre muitos beijos de comemoração, o casal agradeceu emocionado. “Pra mim tá sendo uma emoção muito grande, é nosso primeiro trabalho. Quero dedicar ao povo de Santo, de religião, sem eles a gente não estaria aqui”, comemorou Mirian. “Quero dedicar esse prêmio pra Mirian, ela fez todos os méritos desse trabalho. Sem ela não teria esse filme. O batuque é uma coisa que só existe no Rio Grande do Sul e vocês terem valorizado isso.. a gente quer agradecer e está emocionado mesmo”, agradeceu Carlos Caramez.

Gilson Vargas foi eleito o melhor diretor por “A Colmeia”. Além dos Kikitos, todos os vencedores receberam valores em dinheiro oferecidos pela Secretaria da Cultura do Estado (SEDAC),por meio do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), somando R$ 55 mil.

Produção paraibana “A Fome de Lázaro” é o melhor filme de curta-metragem brasileiro

Contando sobre a oferenda de banquetes a cães em promessa à São Lázaro em uma pequena comunidade do interior da Paraíba, o curta “A Fome de Lázaro”, de Diego Benevides, conquistou o prêmio de melhor filme entre os curtas-metragens brasileiros desta edição. “Não sei nem o que dizer… tô muito feliz queria agradecer a minha equipe que acreditou no projeto, ao Sítio dos Monteiros e todos os personagens que trouxeram vida ao filme. Muito importante a gente estar trazendo esse prêmio para o nosso estado, que a gente está a cada dia reinventando o cinema”, agradeceu Benevides.

A produção paulista “Entre Nós e o Mundo”, de Fabio Rodrigo, saiu da premiação com quatro Kikitos: melhor direção, melhor montagem, prêmio especial do júri e melhor filme eleito pelo júri da crítica.

Homenagem ao Cinema, música e emoção no palco do Palácio dos Festivais

A cerimônia foi transmitida direto de Gramado e teve apresentação das jornalistas e apresentadoras oficiais do evento Marla Martins e Renata Boldrini. A banda local Jazz Cinnamon embalou a trilha musical com temas de filmes nacionais.

No momento “in memorian”, a emoção foi grande com a lembrança de nomes como Tarcísio Meira, Paulo José, Paulo Gustavo, Nicete Bruno, Eduardo Galvão e Artur Xexéo que partiram no último ano.

Encerrando a cerimônia, uma homenagem a todos os realizadores do audiovisual brasileiro veio em forma de clipe com imagens de bastidores e grandes cenas do cinema com locução do ator Lázaro Ramos: “É preciso seguir em frente, esse tempo de trevas vai passar”, diz a voz do ator.

O clipe encerra com o desejo de todos para o ano que vem: “O cineasta brasileiro Humberto Mauro disse certa vez uma frase que ficou célebre: cinema é uma cachoeira e a força dessa corrente não tem quem consiga parar. Muito obrigado por ter tomado mais um banho de cinema com a gente nesta 49ª edição, nos encontramos em 2022 para festejarmos juntos o cinquentenário do Festival de Cinema de Gramado”.

CONHEÇA OS VENCEDORES DO 49º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO

CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS

Melhor Filme – “A Fome de Lázaro”, de Diego Benevides
Melhor Direção – Fabio Rodrigo, por “Entre Nós e o Mundo”
Melhor Ator – Lucas Galvino em “Fotos Privadas”
Melhor Atriz – Tieta Macau em “Quanto Pesa”
Melhor Roteiro – Marcelo Grabowsky, Aline Portugal e Manoela Sawitzki, por “Fotos Privadas”
Melhor Fotografia – Rodolpho Barros, por “Animais na Pista”
Melhor Montagem – Caroline Neves, por “Entre nós e o Mundo”
Melhor Trilha Musical – Eli-Eri Moura, por “Animais na Pista”
Melhor Direção de Arte – Torquato Joel, por “A Fome de Lázaro”
Melhor Desenho de Som – Breno Nina, por “Quanto Pesa”
Melhor Filme pelo Júri Popular – “Desvirtude”, de Gautier Lee
Melhor Filme pelo Júri da Crítica – “Entre Nós e o Mundo”, de Fábio Rodrigo
Prêmio Especial do Júri – Fabio Rodrigo, por “Entre Nós e o Mundo” por responder de forma consciente em termos estéticos, afetivos e narrativos a pergunta “Como falar da dor da perda e ainda ter esperança?”.
Menção honrosa da Comissão Julgadora para os curtas brasileiros vai para o filme “A Beleza de Rose”, de Natal Portela, por fazer um delicado recorte da vida de muitas mulheres negras no nordeste do Brasil.
Prêmio Canal Brasil de Curtas – “A Beleza de Rose”, de Natal Portela

LONGAS-METRAGENS ESTRANGEIRO
Melhor Filme – “La Teoría De Los Vidrios Rotos”, de Diego Fernández Pujol
Melhor Filme Júri Popular – “La Teoría De Los Vidrios Rotos”, de Diego Fernández Pujol
Melhor Filme pelo Júri da Crítica – “Planta Permanente”, Ezequiel Radusky
Prêmio Especial do Júri – Pela abordagem de temas tão presentes em nossa sociedade, que refletem as consequências de um sistema corrompido e afetam diretamente os valores humanos; e pelas interpretações das protagonistas femininas que representam a força das mulheres latinas em nosso cinema. O Júri de Longas-metragens estrangeiros do 49º Festival de Cinema de Gramado decidiu conceder o Prêmio Especial do Júri ao filme “Planta Permanente”, de Ezequiel Radusky.

LONGAS-METRAGENS GAÚCHOS
Melhor Filme – “Cavalo de Santo”, de Carlos Eduardo Caramez e Mirian Fichtner
Melhor Direção – Gilson Vargas, por “A Colmeia”
Melhor Ator – João Pedro Prates, por “A Colmeia”
Melhor Atriz – Luciana Renatha, Alexia Kobayashi e Veronica Challfom, por “Extermínio”
Melhor Roteiro – Carlos Eduardo Caramez, por “Cavalo de Santo”
Melhor Fotografia – Bruno Polidoro, por “A Colmeia”
Melhor Direção de Arte – Gilka Vargas e Iara Noemi, por “A Colmeia”
Melhor Montagem – Joana Bernardes e Mirela Kruel, por “Extermínio”
Melhor Desenho de Som – Gabriela Bervian, por “A Colmeia”
Melhor Trilha Musical – Cânticos Sagrados dos Orixás preservados pelos Terreiros gaúchos e Alabê Oni, por “Cavalo de Santo”
Melhor Filme pelo Júri Popular – “Cavalo de Santo”, de Carlos Eduardo Caramez e Mirian Fichtner

Crédito: OC/Reprodução

LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS
Melhor Filme – “Carro Rei”, de Renata Pinheiro
Melhor Direção – Aly Muritiba, por “Jesus Kid”
Melhor Ator – Nando Cunha, em “O Novelo”
Melhor Atriz – Glória Pires, em “A Suspeita”
Melhor Roteiro – Aly Muritiba, por “Jesus Kid”
Melhor Fotografia – Bruno Polidoro, por “A Primeira Morte de Joana”
Melhor Montagem – Tula Anagnostopoulos, por “A Primeira Morte de Joana
Melhor Trilha Musical – Dj Dolores, por “Carro Rei”
Melhor Direção de Arte – Karen Araújo, por “Carro Rei”
Melhor Atriz Coadjuvante – Bianca Byington, por “Homem Onça”
Melhor Ator Coadjuvante – Leandro Daniel Colombo, por “Jesus Kid”
Melhor Desenho de Som – Guile Martins, por “Carro Rei”
Melhor Filme pelo Júri Popular – “O Novelo”, de Claudia Pinheiro
Melhor Filme pelo Júri da Crítica – “A Primeira Morte de Joana”, de Cristiane Oliveira
Prêmio Especial do Júri para Matheus Nachtergaele, em “Carro Rei”, pela construção e domínio do personagem e pela brilhante capacidade de se reinventar.
Menção honrosa para Fernando Lufer, Michel Gomes, Victor Alves, Kaike Pereira, Pedro Guilherme e Caio Patricio por seu talento e potência em “O Novelo”.
Menção honrosa para Isabél Zuaa pela bela e impactante atuação em “O Novelo”

Sair da versão mobile