Preocupar-se excessivamente com a sujeira, ter dúvidas intermináveis, sentir necessidade de verificar constantemente portas e janelas, ou o gás, ter pensamentos indesejáveis, acumular objetos sem utilidade, apresentar preocupação exagerada com simetria, alinhamento, são alguns sintomas do Transtorno Obsessivo compulsivo (TOC), mas muitas vezes nos referimos a essas pessoas com esses sintomas, como pessoas cheias de “mania”. Muitas vezes esses sintomas são leves e quase imperceptíveis, outras vezes são graves e incapacitantes, sendo associados com medo, ansiedade e culpa, interferindo na vida pessoal, social e familiar. De todos os transtornos mentais, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) foi considerado pela OMS como a 10ª causa de incapacidade no mundo.
As obsessões podem ser definidas como eventos mentais, tais como pensamentos, ideias, impulsos e imagens, vivenciados como intrusivos e incômodos. Como produtos mentais, as obsessões podem ser criadas a partir de qualquer substrato da mente, tais como palavras, medo, preocupações, memórias, imagens, músicas ou cenas.
Já as compulsões são definidas como comportamentos o ou atos mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a ansiedade causada pelas obsessões ou para evitar que uma situação temida venha a ocorrer. Não existem limites para a variedade possível das obsessões e das compulsões.
As consequências comuns do TOC estão desde a diminuição da autoestima e do bem-estar subjetivo produzindo uma interferência negativa na vida estudantil, profissional, familiar, afetiva e social. Em casos mais graves pode haver uma completa dificuldade ou incapacidade para atividades rotineiras e alguns portadores podem ficar totalmente presos em casa, em função de comportamentos de esquiva dos estímulos temidos.
A regra é que além dos sintomas obsessivo-compulsivos (OC) típicos do TOC, estejam presentes uma ou mais comorbidades. O chamado de TOC “puro” é raro e na prática é mais a exceção do que a regra. E de fato as pesquisas tem mostrado que mais da metade dos pacientes apresentam concomitantemente outros transtornos psiquiátricos e uma prevalência de comorbidades entre os indivíduos com o transtorno bem maior que e a encontrado na população em geral. Por exemplo, a depressão tem uma prevalência para toda vida ao redor de 15% na população em geral e em indivíduos com TOC pode estar presente em 40% deles ou até mais. Também é muito comum a comorbidade com transtornos de ansiedade (TAG/fobias específicas em especial), com transtornos de tiques (TT) ou Síndrome de Tourette (ST), com transtorno de déficit de atenção com ou sem hiperatividade (TDAH) e com transtornos do controle de impulsos entre outros.
De acordo com Cordiolli (2014), os indivíduos que apresentam o TPOC caracterizam-se por serem perfeccionistas, excessivamente preocupados com detalhes, cumprimento de regras, organização e horários. São exigentes, rígidos e inflexíveis em questões de moral tanto para consigo mesmos como com em relação aos outros. Caracterizam-se, ainda, pelo excessivo devotamento ao trabalho e à produtividade com prejuízo de atividades de lazer e das amizades. São controladores, centralizadores das decisões, excessivamente responsáveis, tendo dificuldades para delegar tarefas e trabalhar com outras pessoas. São teimosos obstinados, com dificuldade em aceitar opiniões divergentes, ouvir críticas e aceitar falhas.
Consideram sua maneira de ser correta (ego-sintônicos) e sentem-se bem em conseguir agir de acordo com seus padrões de exigência mesmo que muito elevados e sofrem quando não conseguem atingi-los (APA-DSM V; Eisen, 2006). Em comum com o TOC os indivíduos com TPOC são perfeccionistas, tendem a ser atormentados por dúvidas recorrentes (intolerância a incerteza), indecisões, necessitam repetir tarefas e demoram a completá-las em razão do perfeccionismo, fazem verificações para ter controle e para não comete.
Como podemos ver, geralmente por serem perfeccionistas e devotados ao trabalho, sendo vistos como produtivos, tornam-se invíseis a um olhar mais atento, afinal, ser perfeccionista pode ser uma habilidade positiva em determinados contextos de trabalho, tornando-se muitas vezes sobrecarregados por assumir tarefas excessivas, na busca pelo perfeccionismo, levando a possibilidade de uma Síndrome de Burnout, que se deu em razão do comportamento obsessivo compulsivo. Portanto, é muito importante que a gente seja sensibilizado quanto a esse olhar em relação a nós mesmos e os outros quando o assunto é perfeccionismo, de modo geral, não apenas aquele presente no Toc.
Vanessa Santos – Psicóloga CRP 07/25298
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