Desde 2006 as universidades públicas federais passam por um intenso processo de expansão do ensino superior, com a instalação de novos campi em diversos municípios do interior.
A localização destes novos campi foi muito mais política do que técnica, fazendo com que não se tivesse um parâmetro claro, incorrendo em distorções quanto à viabilidade dos cursos e a relação com a comunidade.
Seguiu uma lógica própria em termos de áreas do conhecimento em cada região, com os cursos sendo de áreas correlatas para melhor aproveitar o corpo docente.
Na teoria, os professores poderiam lecionar em vários cursos. Na prática, duplicam as disciplinas com nomes diferentes para justificar carga horária.
Esta decisão de implantar cursos da mesma área do conhecimento no interior se mostrou claramente equivocada, pois distanciou as Universidades das comunidades na qual estão inseridas.
O número de jovens de uma determinada região que busca o Ensino Superior público quer ter várias opções de cursos de graduação. Se não tem, acaba indo embora ou simplesmente não faz nenhum.
Os campi do interior sofrem com alto percentual de vagas ociosas, pois tem capacidade de abrigar certo número de alunos, mas ocupam metade ou menos disso.
Como não se sustentam com alunos locais, sobrevivem com jovens vindos de outras regiões distantes.
Esta política gera um custo enorme aos pagadores de impostos, através da necessidade permanente de bolsas e auxílios diretos e indiretos, como casa de estudante, restaurante subsidiado e transporte.
O custo de um estudante na Universidade Pública ultrapassa mais que o triplo da mensalidade das instituições privadas, contando construção e manutenção dos prédios, servidores técnicos e docentes, despesas correntes e, o que é mais grave, a não ocupação das vagas.
Exemplo clássico é o Campus da UFSM de Cachoeira do Sul.
A primeira proposta do então Reitor Felipe Müller previa 11 cursos de graduação em áreas diversas do conhecimento.
Contudo, com a vitória de Paulo Burmann, o vice-Reitor Paulo Bayard alterou a proposta para a configuração atual, abrindo assim quatro cursos de graduação de Engenharia – Agrícola, Mecânica, Elétrica e de Transportes e Logística – mais Arquitetura e Urbanismo.
Com ingressos semestrais de 40 vagas nas engenharias – exceção da Agrícola que passou este ano para anual – e 30 na Arquitetura, o Campus tem capacidade para 1760 alunos, mas ociosidade maior que 60%, com menos de 700 efetivos.
Resulta em turmas com pouquíssimos alunos, principalmente da metade para o fim da graduação.
No mês de junho a UFSM escolhe um novo Reitor, com Martha Adaime representando a continuidade das gestões de Paulo Burmann e Luciano Schuch, contra a oposição do ex-Reitor Reitor Felipe Müller.
Em termos de futuro, a chapa da situação seguirá tratando Cachoeira do Sul como um Campus.
Com Felipe Müller abre uma esperança de poder abrigar mais cursos de áreas diversas, que atendam os jovens cachoeirenses naquilo que desejam se graduar.
É isso que faz ser uma Universidade, a união da diversidade do conhecimento.
Cachoeira merece o curso de Medicina na ULBRA ou UNISC, mas merece igualmente outros cursos na área da saúde ofertados pela Universidade Federal pública e gratuita.
Merece cursos nas áreas das Humanas, Ciências Biológicas e Agrárias.
Caminhar para uma diversidade de cursos e não se limitar a uma área do conhecimento, sob pena de permanecer eternamente como mera extensão de Santa Maria.
Merece sonhar com maior autonomia, se tornando independente para implantar a Universidade Federal de Cachoeira do Sul.