UCRÂNIA DIVIDIDA – Jeferson Francisco Selbach

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UCRÂNIA DIVIDIDA – Jeferson Francisco Selbach
REFLEXÕES SOCIOLÓGICAS
3 de março de 2025 - Jeferson Selbach / Crédito: Reprodução

 

 

por Jeferson Selbach*

 

 

A Ucrânia caminha para ser palco da nova guerra fria que se avizinha, dividindo o mundo livre e democrático das sociedades ditatoriais.

A contenda pelo domínio da região é antiga. Em 1783, o Império Russo ocupou a Criméia e estabeleceu uma base naval em Sevastopol, às margens do Mar Negro.

Em 1854, ocorreu bloqueio naval e cerco terrestre a Sevastopol pelos turcos. Os britânicos forneciam calças para as tropas turcas e quando o conflito terminou, venderam o excedente para os exércitos do Rio da Prata na Guerra do Paraguai, originando a nossa bombacha.

Embora a região tenha se tornado independente com a revolução bolchevique russa, voltou ao antigo domínio como República Soviética.

A região foi transferida para a Ucrânia em 1954, que fazia parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

A queda do socialismo russo deu independência à Ucrânia em 1991, sendo assinado acordo que assegurou os limites territoriais e a segurança em troca do desarmamento nuclear.

Após a deposição do presidente pró-russo Víktor Fédorovytch Ianukóvytch em 2014, a Criméia voltou a ser ocupada militarmente pela Rússia, justificada em razão da frota naval estacionado no Mar Negro, posição estratégica de defesa da marinha russa e um dos principais motivos de tensão.

Ao mesmo tempo a região de Donbass, que limita os dois países, foi dominada por forças separatistas pró-Rússia.

Enquanto a Ucrânia se ocidentalizava, as duas regiões permaneceram como enclaves em disputa.

Vladimir Putin adotou o discurso irredentista, de retomar antigos territórios das repúblicas socialistas do período soviético.

Essa ocidentalização ucraniana cresceu com a eleição de Volodymyr Zelensky em 2019, que inclusive cogitou fazer parte da OTAN, para receber apoio militar europeu e norte-americano em caso de guerra.

Foi na região de Donbass que começou a ocupação militar das tropas russas em 2022 e desde então os limites fronteiriços se alternam conforme o andamento dos conflitos.

Durante o governo de Joe Biden, os Estados Unidos financiaram grande parte dos armamentos necessários para a defesa territorial ucraniana.

O que Donald Trump está fazendo agora é cobrar a fatura.

Exige da Ucrânia todo valor que já foi gasto pelos norte-americanos e o que ainda será necessário para conter o avanço russo.

Quer garantir o pagamento dos gastos militares com acesso às reservas minerais nas terras raras, que são utilizados em diversos setores industriais, como turbinas eólicas e baterias dos veículos híbridos.

O ex-ator de comédia Zelensky é midiático e faz de tudo para agregar apoio do ocidente contra Vladimir Putin. Semana passada foi assinar o acordo na Casa Branca, mas repetiu o mantra da vitimização e acabou em meio a uma acalorada discussão nunca antes presenciada entre chefes de Estado.

Esquecendo que está numa situação frágil, cobrou reiteradamente maior apoio, mas Trump e o vice J.D. Vance exigiram que o presidente ucraniano demonstrasse maior gratidão pelo que já tinha recebido dos Estados Unidos.

Acusaram Zelensky de estar jogando com a Terceira Guerra Mundial ao não trabalhar pelo cessar-fogo.

Após três anos de guerra, Zelensky acredita ingenuamente que os Estados Unidos vão usar do arsenal nuclear para reconquistar os territórios ocupados por Putin.

Trump quer acabar com a guerra, deixando para a Rússia as regiões que ocupou e subjugando a Ucrânia para garantir a extração dos minerais raros.

Foi por isso que tratou com Putin sem a presença dos europeus nem de Zelensky, pois esta é uma decisão que cabe exclusivamente à Rússia e aos Estados Unidos, quem ocupa e quem pode proteger o restante do território ucraniano.

Zelensky pode ter apoio simbólico dos europeus, mas a paz só será garantida pelo armamento norte-americano.

O resto é verborragia, muita palavra de pouca valia.

Aqui no Brasil, Lula, que acabaria com essa guerra só com uma cervejinha, afirmou que a reunião no Salão Oval foi grotesca, mas grotesco será quando a nova Ministra das Relações Institucionais Gleise Hoffmann começar a fazer a articulação política, um verdadeiro elefante numa loja de cristais.

*Sociólogo, Doutor em História e Professor Titular da Universidade Federal do Pampa