*por Jeferson Francisco Selbach

Que a inflação voltou todos nós estamos sentindo no bolso.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor ultrapassou os 5% nos últimos 12 meses, com 1,5% de alta somente em fevereiro, o pior dos últimos 22 anos.
Isso levou o Banco Central, com Gabriel Galípolo à frente, subir a taxa Selic em 1 ponto percentual, de 13,25% para 14,25%, maior patamar desde a crise do Governo Dilma.
E vem mais aumento de juros por aí!
A causa está motivando discórdia entre governistas e oposição.
Lula culpa o desequilíbrio entre oferta e demanda, alegando, erroneamente, que aumentou o consumo em função da melhoria na renda. Como se estivéssemos ganhando mais, sobrando mais e pudéssemos, portanto, gastar mais.
Seria cômico, se não fosse trágico.
Pretende se eximir da sua responsabilidade pela inflação, que é gastar desenfreadamente. Por maior que seja a fúria na arrecadação de impostos, nunca é suficiente para custear a máquina e as políticas públicas compensatórias, leia-se bolsa-família, BPC, aposentadorias, pé-de-meia, dentre outras.
Ao gastar mais do que arrecada, aumenta a dívida e corrói as contas públicas, encharcando o mercado com mais moeda e diminuindo o valor do que já existe em circulação.
Essa antiga constatação é Nobel de Ciências Econômicas de 1976, o norte-americano Milton Friedman, que demonstrou que a oferta monetária pelos governos fazia com que os preços se elevassem, sem o aumento equivalente na produção de bens e serviços.
O brasileiro Roberto Campos foi pelo mesmo caminho, explicando que inflação é a expansão monetária, cujo culpado será sempre o governo que controla a emissão da moeda em circulação.
Trocando em miúdos, o governo aumenta a quantidade de dinheiro circulando, dividindo a moeda disponível em circulação, retirando sorrateiramente para si uma parte. Governos gastadores subtraem assim recursos da população de forma sutil, como se elevassem os impostos, mas sem dar esse nome.
A população não percebe o impacto de imediato desse “imposto com outro nome”, mas pouco-a-pouco vê diminuir seu poder de compra, aumentando o nível de descontentamento, pois percebe que o culpado é o próprio governo que deveria ser comedido, mas não o é.
Lula comete dois erros crassos: primeiro, ao gastar cada vez mais acreditando que vai fazer a economia crescer; segundo, atacar o aumento dos preços, que é consequência da inflação e não sua causa.
Em mais uma ação populesca, zerou o imposto nacional e reduziu o imposto de importação sobre produtos da cesta básica, como carne, café, açúcar, milho, óleo, biscoitos e massas. A diminuição, em torno de 10%, vai ser absorvida sem grandes impactos, para em poucos meses voltar a crescer os índices da inflação.
O pai dos pobres se nega a controlar os gastos públicos porque sabe que sem custear os benefícios assistencialistas perderá de vez sua base eleitoral, principalmente no Nordeste, enterrando sua última chance de seguir como presidente e entrando para a história como o bravateiro que de fato é.
Javier Milei domou a inflação na Argentina perseguindo o déficit zero, com o Estado gastando menos do que arrecada para não precisar emitir moeda, e o ajuste fiscal, cortando com a sua motosserra ministérios, servidores públicos, financiamento de obras de infraestrutura, subsídios, publicidade e transferências discricionárias.
Donald Trump deu a Elon Musk a missão de cortar gastos supérfluos. Começou pelo USAID, que deveria prestar auxílio humanitário, mas que financiava a agenda WOKE, num verdadeiro show de absurdos.
Paulo Guedes diminuiu o tamanho do Estado, cortou gastos públicos, baixou o custo de vida e, consequentemente, os juros. Aí explodiu a pandemia e o governo precisou auxiliar os afetados, algo fundamental em momentos de verdadeira crise.
Vivemos – como escreveu Oswaldo Wendell – na pior ditadura que um povo pode suportar, que é a contínua alta dos preços.
Enquanto o governo Lula gasta mais do que arrecada, resta à população mais pobre comer menos e obedecer ao grande líder: é só não comprar!
*Sociólogo, Doutor em História e Professor Titular da Universidade Federal do Pampa