Faleceu o papa argentino Jorge Mario Bergoglio, jesuíta que adotou o nome de Francisco para demonstrar ao mundo a necessidade da vida simples e dedicação aos mais pobres.
Após algumas semanas de homenagens e luto, o Colégio Cardinalício se reunirá no Vaticano para escolher o próximo pontífice.
São mais de 240 cardeais em todo o mundo, mas somente os 138 clérigos com até 80 anos estão aptos a votar, número que pode ser reduzido aos 120 tradicionais.
Deste universo, 110 cardeais foram nomeados por Francisco, o que levaria a uma suposição simplista de que o novo Papa viria a ser de espectro ideológico semelhante, voltado ao chamado progressismo e a abertura dogmática.
Cogita-se novamente um cardeal de fora da tradicional Europa, da África ou da Ásia, regiões que cresceram em termos de representatividade dentro do catolicismo, devido a recente internacionalização que reduziu o peso dos europeus.
Os favoritos ou papabili são em maior número e de diversas origens.
Dentre os europeus estão os italianos Angelo Bagnasco, Fernando Filoni, Matteo Zuppi, Mauro Piacenza e Pietro Parolin; além de Kurt Koch da Suíça, Gerhard Müller da Alemanha, José Tolentino de Mendonça de Portugal, Willem Eijk dos Países Baixos e Péter Erdő da Hungria.
Dentre os outsiders estão Fridolin Ambongo Besungu do Congo, Charles Bo do Mianmar, Robert Sarah de Guiné, Daniel Sturla do Uruguai, Luis Antonio Tagle das Filipinas, Raymond Burke dos Estados Unidos e Marc Ouellet do Canadá.
São sete cardeais brasileiros que participam do conclave: Jaime Spengler de Porto Alegre, atual presidente da CNBB, Odilo Pedro Scherer de São Paulo, Orani João Tempesta do Rio de Janeiro, Paulo Cezar Costa e João Braz de Aviz de Brasília, Leonardo Ulrich Steiner de Manaus e Sérgio da Rocha de Salvador, estes dois últimos com chances de serem eleitos papas.
Algumas questões estão na pauta dos candidatos:
– a ordenação de mulheres, com nomeação para cargos de liderança religiosa, como padres e bispos;
– a relativização do celibato sacerdotal ou proibição de casamento dos padres, prática adotada como forma fazer com que se dediquem integralmente ao serviço de Deus e da comunidade;
– a proibição da comunhão eucarística para católicos divorciados em nova união civil, o que contrariaria a indissolubilidade do matrimônio;
– as restrições à missa tridentina, celebração em latim com participação de fiéis pela oração, leitura e observação da celebração, menor diálogo, cantos e músicas.
– a sinodalidade ou caminhar juntos, que valoriza a comunhão, a missão e a participação através de uma escuta ativa de todos os membros na tomada de decisões e na vida da Igreja.
A Igreja Católica perdeu muito de sua força no mundo, já não sendo mais tão influente como fora até o século passado.
A Europa vive uma guerra religiosa sem precedentes, com imigrantes de origem muçulmana ocupando espaços e impondo sua presença de forma violenta.
A Ásia é um mundo à parte, com domínio das religiões não-cristãs.
Na África, os evangélicos brasileiros dominam, convertendo rapidamente as populações mais pobres.
Na América do Norte prevalece o protestantismo, apesar do crescente número de habitantes de origem latina, tradicionalmente católicos.
Na América Latina dos brasileiros, os católicos vêm perdendo espaço para os evangélicos e todos os cristãos, de maneira geral, estão sendo achincalhados pelos ideólogos da esquerda ateus, estatistas e identitários.
Esta luta fraticida inclusive está em curso no próprio catolicismo, entre os conservadores que se voltam para a religação com Deus e os chamados progressistas, que acham que podem escolher quais dogmas seguir.
De qualquer forma, deixou de ser algo que possa influenciar a vida dos reles mortais, restando a curiosidade pop aguardar a fumaça branca indicando que habemus Papa.
*Sociólogo, Doutor em História e Professor Titular da Universidade Federal do Pampa