A depressão, ainda que seja um tema bastante tratado nas mídias, ainda é responsável pela liderança, como um dos transtornos de humor mais prevalentes na população, e seu crescimento é cada vez maior. Sua origem já foi atribuída a crenças mitológicas, mas é na Grécia que surge a observação da natureza e a difusão do conhecimento. Hipócrates, considerado o pai da medicina, cria a teoria humoral segundo a qual a vida é um equilíbrio entre quatro humores: bile, fleuma, sangue e bile negra. O desequilíbrio entre esses humores é o que acarreta a doença. Cada um dos fluidos está ligado a um humor, sendo coléricos, fleumáticos, sanguíneos e melancólicos, respectivamente. A predominância da bile negra é o que caracteriza o ser melancólico. Embora simples, a teoria hipocrática é importante para substituir a superstição pela biologia.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5, na sigla em inglês), criado pela Associação Americana de Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais, classifica depressão como “presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo”.
Entretanto, o conceito e, principalmente, a forma como a doença é encarada pela sociedade, já passou por grandes transformações. Apenas em meados do século 19 os distúrbios mentais foram reconhecidos como doença e o primeiro DSM só surgiu em 1952. Anteriormente, casos de depressão e loucura estavam associados a mitos e superstições. É importante fazer a distinção entre a tristeza que ocorre por eventos de perda, como o processo de luto, por exemplo, ou de outros momentos em que ficamos tristes por algo que
aconteceu.A tristeza também é uma emoção saudável quando o objetivo é elaborar alguma situação ruim, entretanto, a tristeza tem um caráter breve, enquanto a depressão tem um caráter persistente.
As alterações somáticas referem-se ao sono, apetite ou cansaço excessivo, sem que exista uma outra condição clínica que justifique esses sintomas, além de alterações cognitivas como memória prejudicada, problemas em se concentrar, e pensamentos de derrota e fracasso, ou de desesperança persistentes, e a perda de prazer em fazer coisas ou estar com pessoas que até aquele momento era algo que o sujeito gostava muito de fazer. O sinal de alerta que devemos deixar ligado é o tempo que esses sintomas persistem, quando acontecem por 2 semanas sem sinal de melhora, talvez esteja na hora de procurar um profissional ou familiar que possa escutar e orientar essa pessoa sobre o tratamento.
A depressão é um transtorno mental multifatorial, e por esse motivo necessita que seja feita uma avaliação clínica para que comece o tratamento, lembrando aqui que não existe fórmula mágica e em dose única para tratamento, justo por ser multifatorial requer na maioria das vezes trabalho multiprofissional e apoio da família e amigos para que o paciente volte a ter qualidade de vida.
Mas aqui também gostaria de dar algumas dicas de coisas que não vão decididamente ajudar seu familiar, amigo ou até você mesmo. E o primeiro lugar nesse ranking está quase óbvio: Depressão não é frescura e nem fraqueza, nem falta de Deus ou qualquer dessas coisas que lemos por aí todos os dias. Ah, e também não adianta dizer para a pessoa que ela não tem motivos para se sentir assim, que ela “tem tudo” e que não tem motivos para isso, nem criar rótulos como preguiça e mau humor para justificar a falta de ajuda.
É também muito importante que quando observarmos essa perda de prazer, ou mudança de comportamento, tenha-se como base você mesmo ou que costumava fazer e que te trazia bem-estar, neste caso, não adianta você tomar como base modelos de felicidade alheios…
Mas se você quer ajudar alguém, ou você mesmo, o primeiro passo é não ter preconceito e ajudar o outro e você (se for o caso) a observar as próprias emoções e a encarar o fato de que as coisas não estão como deveriam estar, sendo este o primeiro passo rumo ao tratamento e a qualidade de vida. Outra coisa importante é estar realmente disposto a ouvir o outro. Não adianta dizer que está disponível, mas não estar de fato presente. Eu sei que muitas vezes, na tentativa de ajudar um amigo, falamos frases de incentivo e positividade, e mesmo que nossa intenção seja a melhor possível, o que acontece é que a pessoa volta novamente a varrer a emoção pra debaixo do tapete e não procura ajuda.
A depressão causa prejuízo significativo na vida das pessoas, desde o trabalho até os relacionamentos pessoais, e pode tornar-se incapacitante se não for dada a devida atenção, sendo entre outros fatores, um de maior risco para suicídio, por exemplo.
Para finalizar, deixo as palavras de Frejat, em sua música “Amor pra Recomeçar” que nos diz, com poesia, o mais importante: “Se você ficar triste, que seja por um dia, e não o ano inteiro, e que você descubra que rir é
bom, mas que rir de tudo é desespero”. Mas também quero dizer, que assim como Frejat acredito que mesmo que você esteja muito cansado, ainda existe amor pra recomeçar.
Vanessa Santos – Psicóloga CRP 07/25298
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