Estudo aponta evolução e caminhos para a produção da indústria do RS

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Estudo aponta evolução e caminhos para a produção da indústria do RS
OCIFRA
25 de maio de 2021 - 25101557_1968056_GD

Quando se pensa na evolução da produção industrial gaúcha e brasileira, especialmente da indústria de transformação, as duas primeiras décadas do século 21 podem ser divididas em três momentos. O acelerado crescimento na produção registrado entre 2003 a 2008 foi seguido de um período de estagnação de 2009 a 2013 e por uma queda acentuada a partir de 2014. A crise mundial decorrente dos impactos da pandemia de Covid-19 encontrou a indústria nacional e gaúcha em um cenário debilitado, o que levou a um dos menores patamares de produção da série histórica da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, iniciada em 2002.

Considerações sobre a evolução industrial brasileira e o parque industrial gaúcho no período de 2002 a 2020 foram abordadas em publicação elaborada pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), divulgada nesta terça-feira (25/5). O material faz parte da série Textos para discussão e foi produzido pelo pesquisador André Luis Contri.

A partir das avaliações sobre o contexto gaúcho, brasileiro e internacional, o documento busca entender as explicações para o desempenho do parque industrial instalado no Rio Grande do Sul e aponta caminhos para a retomada do crescimento da produção industrial e o reposicionamento da indústria nacional e estadual.

“A indústria se constitui em um setor primordial para estimular o crescimento econômico de uma região. A partir do desenvolvimento industrial, se pode pensar em melhoria na qualidade de vida, distribuição de renda, aumento da arrecadação tributária e financiamento do aparelho estatal, por isso é tão importante compreender seus movimentos e transformações no longo prazo”, aponta Contri.

Desempenho ligado ao Brasil

De forma geral, o texto relaciona os movimentos da indústria local com a dinâmica nacional do segmento. Com exceção da reduzida participação da indústria extrativa no total da produção gaúcha, que no mercado brasileiro tem maior representatividade, as demais atividades, em especial as da indústria de transformação, estão representadas no Estado. A semelhança faz com que os movimentos de crescimento, estagnação e recessão pelos quais o país passa tenham reflexo direto aqui.

Considerando os três momentos da evolução da indústria nacional e gaúcha nos últimos 20 anos, o período de 2003 a 2008 foi de crescimento na produção física no Estado inferior à média nacional (1,4% contra 3,8% do Brasil), uma vez que a indústria extrativa mineral apresentou um desempenho superior ao da indústria de transformação no país. Ao mesmo tempo, algumas das atividades com maior participação no parque industrial gaúcho, como produtos do fumo e calçados, tiveram taxas negativas de crescimento no período.

“As atividades da indústria extrativa mineral, por demandarem equipamentos sofisticados, têm elevado impacto multiplicador sobre a produção de peças, equipamentos, máquinas e produtos de metal”, destaca Contri.

Na segunda fase, entre os anos de 2009 a 2013, o documento mostra que as taxas de crescimento da produção da indústria no país e no Estado tiveram desempenho semelhante, ambas com alta geral de 0,5%, com resultados negativos em diversas atividades. No período, de acordo com o documento, a produção de veículos automotores e a produção de máquinas e equipamentos evitaram uma queda geral dos números devido ao seu desempenho positivo.

O período mais recente analisado, entre 2014 até 2019, mostra que os sinais de recuperação dos dois últimos anos não foram suficientes para recuperar a queda acumulada na produção física (-1,9% no RS e -2,6% no Brasil). Em 2019, o volume de produção na indústria de transformação gaúcha estava 11% abaixo do pico da série, registrado em 2013, enquanto no Brasil o percentual estava 15,9% abaixo.

Maior concentração

Apesar da grande diversificação nas atividades da indústria de transformação do Rio Grande do Sul, a crise do período mais recente analisado acentuou a concentração da produção em poucos setores. Se em 2007 as seis principais atividades industriais do Estado detinham 55,7% do total do valor produzido, em 2018 esse percentual cresceu para 61%, com incrementos na fabricação de produtos alimentícios e de produtos derivados do petróleo e baixas na produção física de calçados e artefatos de couro.

Outro setor que apresentou crescimento nos últimos anos foi o de fabricação de celulose e produtos de papel, que de uma participação de 1,7% no valor produzido em 2014 subiu para 5,5% em 2018, crescimento relacionado diretamente ao aumento nas exportações no período. Mas apesar do aumento, o estudo indica o impacto limitado da evolução positiva no setor.

Crise de 2020

O cenário de crise sanitária decorrente da pandemia do novo coronavírus atingiu a indústria em um momento de grande debilidade. O documento aponta a queda no volume de produção física de 5,4% no Rio Grande do Sul e de 4,6% no Brasil, o que levou o Estado a um dos menores patamares da série histórica iniciada em 2002 pelo IBGE.

“A desaceleração na produção industrial no Estado já havia iniciado em meados de 2019, mas, conforme mostramos no estudo, a produção no Rio Grande do Sul segue as tendências da indústria nacional, fato que sinaliza para uma equalização dos comportamentos da produção ao longo de 2021”, ressalta o pesquisador.

As quedas significativas na produção de máquinas e equipamentos, na fabricação de veículos automotores, na produção de artefatos de couro e na indústria química foram as que mais impactaram no resultado final do Estado, enquanto a fabricação de produtos de metal, celulose e produtos do fumo atenuaram a baixa.

Para o pesquisador, o processo de recuperação industrial para superar a crise irá demandar uma atuação articulada do Estado brasileiro por meio de uma renovada política industrial, orientada por um projeto de desenvolvimento econômico para o país que contemple e articule os interesses do Estado, dos empresários e dos trabalhadores, além de medidas para a recuperação do mercado interno e o aumento da competitividade internacional.

“A economia brasileira somente sairá definitivamente da crise que se iniciou em 2015 a partir do momento em que a produção industrial apresentar uma retomada mais consistente. A geração de empregos, a recuperação da renda das famílias, a melhora nas contas públicas e o resgate da dívida social somente serão possíveis com uma recuperação mais sólida da indústria de transformação nacional”, conclui Contri.

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