A referência histórica pioneira sobre o ordenamento urbano de Cachoeira vem no ano de 1800. As guerras de demarcação de fronteiras trouxeram para a então Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira novos moradores e com eles a necessidade de construção de casas residenciais e comerciais.
José de Saldanha, geógrafo e cartógrafo português que servia como engenheiro na demarcação dos limites do Rio Grande do Sul, elaborou o traçado urbano usando como referência a Praça da Igreja, atual Praça Balthazar de Bem. As ruas largas e amplas foram distribuídas em quadras quadradas, seguindo o modelo das cidades portuguesas.
Até 1853, os limites eram os terrenos entre o córrego Lava-pés e o Rio Jacuí, na direção Norte Sul, e, na direção Leste Oeste, os terrenos entre o arroio Amorim e o córrego denominado Sanga da Aldeia.
Segundo as posturas, os proprietários de terrenos só podiam edificar dentro dos limites da Vila mediante licença da Câmara. Havia regras para o alinhamento e largura das ruas e calçadas, para o nivelamento das soleiras das por tas, para a altura das casas e restrições à construção de degraus e escadas que desembocassem diretamente nas ruas.
Ainda era vedado, o depósito de materiais de construção em praças e vias públicas sem o consentimento da Câmara.
A falta de uma planta que retratasse as ruas e terrenos existentes dificultava ainda mais o trabalho do arruador e do fiscal da Câmara. A ata de 4 de maio de 1850 registra o recebimento da primeira planta e o correspondente livro de cadastro dos proprietários de terrenos da Vila Nova de São João da Cachoeira,
elaborados pelo engenheiro João Martinho Buff:
Foi presente a esta Câmara a Planta e Cadastro desta Vila, remetida pelo Engenheiro da Comarca João Martinho Buff, e exige a quantia de 4$500 réis, importância da despesa feita com os utensílios para a mesma Planta. A Câmara ficou inteirada e resolveu que dita Planta fosse arquivada assim como o
Cadastro dela e que se ordenasse ao procurador da Câmara que pague ditas despesas e que se leve ao conhecimento de S. Excia. o Presidente da Província orecebimento da dita Planta e Cadastro…
Para a distribuição correta dos terrenos, Buff traçou os limites da Vila, destacando os terrenos da Praça do Pelourinho (atual José Bonifácio), delimitado desde 1830; o da Praça da Igreja (atual Balthazar de Bem) e o da Praça de São João, onde seria erguido o Hospital de Caridade mais de cinco décadas depois.
O engenheiro registrou cada propriedade a partir da apresentação dos títulos pelos proprietários com lançamento simultâneo em um livro de cadastro. Além do nome do proprietário, foram registradas a data da concessão ou aquisição do terreno, a autoridade que concedeu os títulos, a sua localização, medidas e a observação de edificado ou não.
As Posturas Municipais do ano de 1862 determinavam que o alinhamento, largura e nivelamento das ruas
seguissem o arruamento marcado na planta de Buff. Sua confecção permitiu ainda determinar os terrenos destinados para a construção de edifícios públicos, impedindo sua concessão a particulares.
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Johann Martin Buff nasceu em Rödelbhein, próximo a Frankfurt, na Alemanha, em 8 de maio de 1800. Era filho de Josef Ludwig Buff. Contratado pelo Império do Brasil para integrar o 28º Batalhão de Caçadores Alemães, denominados por D. Pedro II como os “Diabos Brancos”, participou do combate à Confederação do Equador, em Recife.Ao dar baixa no batalhão, Buff seguiu para Rio Pardo, onde casou com Josefina de Melo Albuquerque, em 12 de julho de 1830. Sua nova dedicação passou a ser para a engenharia e a agrimensura. O casal teve três filhas.
Em 1851, Buff foi nomeado diretor da Colônia de Santa Cruz, ocupando suas atividades com medição de terras e instalação de vários colonos.
Seu trabalho incluiu plantas de Rio Pardo e Cachoeira, projetos de construção da ponte do Couto, do Jacuí e do Botucaraí (Ponte de Pedra) e da antiga Escola Militar de Rio Pardo, hoje Centro Cultural Regional de Rio Pardo.
Buff faleceu aos 80 anos, em Rio Pardo.