É SÓ NÃO COMPRAR! – Jeferson Francisco Selbach

Por
É SÓ NÃO COMPRAR! – Jeferson Francisco Selbach
REFLEXÕES SOCIOLÓGICAS
11 de fevereiro de 2025 - Crédito: Reprodução

por Jeferson Francisco Selbach*

 

 

 

O fantasma da inflação insiste em nos assombrar. Está no nosso dia-a-dia: nas compras do mês; nas contas de luz, água, telefonia; nas despesas com saúde, educação e transporte; no boleto da casa e do automóvel.

Por mais que o presidente atual insista em culpar o consumidor, afirmando erroneamente que o aumento de preços é devido ao aumento do consumo de bens e serviços, a causa é justamente a explosão da dívida pública, ocasionada pelo aumento sem precedentes dos gastos governamentais.

Para se ter uma ideia, a dívida pública passou de R$ 6,5 trilhões em 2023 para R$ 7,3 trilhões em 2024, mais de 12% num único ano.

O dinheiro é muito dinâmico e corre para quem melhor remunere com maior ou menor segurança. Aqueles que possuem reservas monetárias buscam as melhores taxas para emprestar.

O Governo Federal oferece as Letras do Tesouro Nacional lastreadas na dívida pública, competindo no mercado financeiro com todos os demais particulares.

Isso inclui as empresas privadas que precisam de recursos para investir e o cidadão comum, desde aquele que pegou financiamento para comprar algo até quem gastou mais do ganhou e precisa pagar as contas.

Os juros são consequência direta deste endividamento público e privado, pois quanto mais se deve, mais caro se torna o empréstimo. O agiota sabe bem disso.

Para cobrir o rombo das contas públicas, o governo emite títulos a juros mais atrativos do que outras opções ofertadas. Se não remunerar o título muito bem, não consegue colocar no mercado e vai precisar vender os dólares que tem em reserva para garantir as transações internacionais e o próprio Real.

O colchão de liquidez serve para pagar as importações que superarem as exportações, quando ocorre déficit na balança comercial.

Para essa poupança em dólar não acabar, paga-se mais juros internos.

A esperança do governo Lula está na safra agrícola, para usar esse superávit no pagamento das próprias despesas sem comprometer ainda mais as reservas internacionais.

Os juros dos empréstimos públicos e privados precisam remunerar o valor do dinheiro acima da inflação.

Quem estabelece qual é o índice da inflação oficial no Brasil é o IBGE, que pelo IPCA mede o custo de produtos e serviços mais relevantes para as famílias. Ocorre que os índices oficiais parecem muitas vezes se afastar da realidade. Enquanto o IPCA acumulado está em 4,83%, o carrinho do supermercado mostra outra coisa.

O petista Marcio Pochmann está justamente sendo acusado de pôr em risco a independência do IBGE, que possui longo histórico de respeitabilidade e rigor técnico. A imparcialidade dos dados produzidos pelo instituto parece estar sendo comprometida por interesses externos que influenciam as estatísticas oficiais.

Por mais que se tente maquiar os números da inflação oficial, os juros do mercado acabam refletindo o aumento real de preços, aquele que pesa diretamente no bolso do consumidor.

Juros altos e inflação real alta afetam a todos brasileiros, indistintamente. Nisso reside o descontentamento geral com o atual governo, que pode ser comprovado nas pesquisas de popularidade em baixa e nos eventos oficiais esvaziados.

Não é a toa as filas que se formam nas instituições de crédito, pois a população está cada vez mais endividada, somado à altíssima inadimplência.

Ao invés de diminuir os gastos para baixar a inflação e os juros, o excelentíssimo presidente propõe usar o FGTS como garantia de empréstimos. O trabalhador vai pagar juros altos por uma poupança forçada que já é sua e praticamente nada lhe rende.

Há rumores que o governo estuda ainda aumentar o valor do bolsa-família, objetivando manter uma das poucas bases eleitorais que lhe resta.

Os consumidores já vêm adotando estratégias para se adequar a alta dos preços: diminui a quantidade, escolhe produto similar mais barato, deixa de comprar itens que julga supérfluos.

Decerto já seguem o conselho do pai dos pobres, se está caro é só não comprar!

*Sociólogo, Doutor em História e Professor Titular da Universidade Federal do Pampa