Cachoeira encerra colheita do arroz com produtividade recorde

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Cachoeira encerra colheita do arroz com produtividade recorde
RURAL
13 de maio de 2021 - Edair marchezam produtor de arroz em São borj-RS

Colheita do arroz se encaminha para o encerramento com rendimento até então nunca alcançado em Cachoeira do Sul / Foto: Cláudio Fachel

Os produtores de arroz de Cachoeira do Sul encerram nos próximos dias a colheita da safra 2020/2021 e vislumbram o melhor cenário dos últimos tempos em termos de produtividade e remuneração. O mais recente levantamento do 4º Núcleo de Assistência Técnica (4º Nate) do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) aponta que os arrozeiros cachoeirenses já colheram 99% da área semeada e o rendimento hoje é de cerca de 8,5 mil quilos por hectare (170 sc/ha).

Trata-se de uma produtividade recorde. De acordo com o coordenador regional do Irga, engenheiro agrônomo Pedro Trevisan Hamann, mesmo que as áreas finais sejam de pouco rendimento, ainda assim a produtividade média da safra no município não deverá cair consideravelmente, podendo ficar pelo menos em 8,4 mil quilos por hectare. Como em Cachoeira foram semeados 26.970 hectares, estima-se que restam a serem colhidas áreas que somam ao redor de 2,5 mil hectares.

Hamann atribui a um somatório de fatores os bons resultados alcançados na safra 2020/2021. Um deles é o clima. O verão foi marcado por longos períodos de radiação solar, o que contribuiu para a fotossíntese e, consequentemente, o desenvolvimento acelerado da planta. Somou-se a isso a ocorrência de chuvas regulares em momentos considerados estratégicos tanto para o arroz quanto para a soja.

LIÇÃO DE CASA

Se por um lado o clima colaborou, por outro o produtor fez a lição de casa. Com o solo preparado antecipadamente, os arrozeiros conseguiram concluir o plantio da maior parte da lavoura dentro do período recomendado, até 15 de novembro. Isso possibilitou um maior aproveitamento da radiação solar e influenciou diretamente na alta produtividade. “Embora o clima tenha sido um forte aliado, a competência do produtor foi fundamental para o alcance dos bons resultados”, avalia o engenheiro Pedro Hamann.

Outra importante contribuição para a safra 2020/2021 ter chegado a patamares satisfatórios foi a oferta de tecnologia. Cultivares mais produtivas e com genética direcionada para alta produtividade, resistentes a pragas e invasoras, garantiram maior rendimento em áreas cada vez mais restritas, e o próprio Irga tem exercido papel de protagonismo na área de pesquisa dentro do processo produtivo.

 

Produção ajustada ao mercado dá sustentação ao preço

Além de garantir altos ganhos em produtividade, outra lição de casa aprendida pelo produtor gaúcho de arroz na safra 2020/2021 foi desenvolver o seu sistema produtivo ajustado ao mercado. Sem oferta excessiva de produto, o arrozeiro consegue manter a sustentação do preço, o que é positivo do ponto de vista mercadológico. Cachoeira deve colher nesta safra 229 mil toneladas de arroz em casca.

Hoje,  em Cachoeira do Sul, o arroz tipo 1 (58% de grão inteiro) está cotado em R$ 84,20 a saca de 50 quilos. Na praça de Pelotas, o valor sobe um pouco e chega a R$ 87,25. No Brasil, praça de Boa Vista, em Roraima, é a que remunera mais nesta quinta-feira (13). Lá, a cotação está em R$ 89,50.

Dentro deste cenário de produção ajustada ao consumo e com produtividade cada vez maior em áreas mais estratégicas e selecionadas, sem infestação invasoras como o arroz vermelho, e não suscetíveis a enchentes, o produtor consegue otimizar o sistema produtivo sem aumentar o custo de produção. O dólar em alta também coloca o arroz em posição confortável no mercado internacional, o que contribui para o produtor em termos de remuneração.

 

Um passado para ser esquecido

Para efeito de comparação, na safra 2008/2009, por exemplo, Cachoeira do Sul plantou uma área recorde, superior a 40 mil hectares. Na época, a produtividade média passava um pouco de 7 mil quilos por hectare, dentro de um cenário de baixíssima remuneração (R$ 28,00 a saca), e isso se repetiu de maneira bastante semelhante por quase uma década, o que tornou a lavoura uma atividade cara do ponto de vista do custo de produção, e inviável pela baixa cotação do produto e pela histórica falta de apoio governamental.

O resultado disso foi o acúmulo de dívidas milionárias no setor produtivo e a consequente insolvência de muitos produtores, que tiveram de entregar boa parte de seus patrimônios para cobrir financiamentos junto aos bancos.

 

ATENÇÃO

De acordo com o Irga, o Rio Grande do Sul deverá fechar a safra 2020/2021 com uma produção de 8 milhões de toneladas. Até a última divulgação da situação da safra no Estado, no final de abril, restavam 5% da área de 945.940 hectares a serem colhidos, o que representa cerca de 48 mil hectares para o fim dos trabalhos. Até então, a produtividade média no Estado chegava a 8.870 quilos por hectare, com destaque para a Fronteira Oeste, que registrava rendimento de 9.533 quilos por hectare. Aproximadamente 65% das cultivares usadas nas lavouras do RS nesta safra foram desenvolvidas pela Divisão de Pesquisa do Irga. A previsão é de que os números finais da safra gaúcha de arroz sejam divulgados até o final de maio.