FIQUE MAIS LEVE – Ciclos, términos e recomeços

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FIQUE MAIS LEVE – Ciclos, términos e recomeços
FIQUE MAIS LEVE
2 de janeiro de 2021 - psico

Muitos são os ritos de passagem, em função dos quais nos constituímos, marcando momentos de enfrentamento, com o que atualizamos novos tempos de vida, novas dinâmicas de consciência, decorrentes de demandas intrínsecas da natureza. Mas para o novo tempo de Vida acontecer haveremos de “morrer” simbolicamente.

Como consequência da superação desses momentos heroicos, adquirimos e incorporamos conhecimentos que até então não tínhamos competência para exercê-los, mas para os quais tínhamos demandas por atualizá-los. Ao mesmo tempo, desejos desconhecidos entram em cena mobilizando novos comportamentos, em função dos quais ultrapassamos os obstáculos.

Para a nossa cultura, este e os momentos que já passaram com as festividades de Natal e ano novo representam esses rituais de passagem que me referi no início do texto, são os momentos em que a maioria das pessoas começa a refletir sobre como está sua vida, e naquilo que querem mudar ou não, depositando no calendário a responsabilidade de que o tempo marcado no mesmo faça as mudanças que desejamos. A personagem Mafalda, de Quino, talvez seja a que melhor expressou esse pensamento ao dizer que todo mundo espera que o ano seja melhor, mas que ninguém pensa o contrário, que o ano também espera que sejamos melhores.

Para Aaron Temkin Beck, psiquiatra norte-americano e criador da Psicologia Cognitiva Comportamental, o ser humano está em constante desenvolvimento, abrindo a possibilidade de não sermos vítimas eternas de consequências, e ao construir esse pressuposto Beck nos deu uma chance, que é a possibilidade de escolha, e mais do que escolha, a possibilidade de que elas sejam mais conscientes ao ligarmos esse pressuposto ao outro tão importante quanto, o de conhecer as nossas emoções e nos “modos de operar as escolhas”. Ou seja, em nenhum momento ele diz que muitas situações fizeram com que nos tornássemos quem somos, mas nos dá a chance de compreender esse processo na hora em que fizemos essas escolhas.

Assim é muito comum ouvir a expressão “compulsão a repetição” ou mais popularmente “dedo podre” quando nos referimos a escolhas de relacionamentos por exemplo, sem que se pare pra pensar o que nos leva a tal escolha, é justamente porque não pensamos no motivo e na nossa própria história, que acabamos por cometer os mesmos erros, não precisa ser algo fatal para nossas vidas, mas para que isso aconteça é preciso ter a oportunidade de entender esses ciclos, e o que eles nos trazem, e perceber o motivo e hora em que estamos ativando o mesmo esquema emocional novamente.

Os términos são inevitáveis, mas não são abruptos como a maioria das pessoas acham, eles acontecem de forma gradual, assim como nosso desenvolvimento e fases da vida, de crianças a idosos. E os rituais de passagem ajudam nesse aspecto, o de reflexão, a data em si não muda nada, mas a oportunidade de refletir sobre o que somos e o que queremos ser muda tudo, pois todo término também vem carregado de recomeço, de novas possibilidades, e de escolhas. As escolhas são inevitáveis e acontecem o tempo todo, das coisas mais banais, como a roupa que vamos vestir até a profissão que vamos escolher, o que muda e faz diferença nas nossas escolhas é a consciência que temos de porque fizemos elas, consciência das nossas emoções, e do que estamos ativando naquele momento.

E por esse motivo Beck também nos mostrou o quanto é importante nomearmos o que sentimos e saber que tipo de emoção estamos sentindo, base importante na psicoterapia cognitiva comportamental, pois é com base nessa investigação que podemos olhar pra trás e ver que muitas de nossas escolhas foram feitas por tais razões. Mas o mais importante que olhar pra trás e ver isso é a capacidade adquirida neste exercício de não ativar o mesmo modo de agir que nos levou a escolhas que não nos fizeram bem.

E neste momento que começa o recomeço, que é o meu desejo a todos que leram esse texto, que sejamos capazes de encontrar os pontos certos e fazer nossas escolhas de modo mais consciente.

Vanessa Santos – Psicóloga CRP 07/25298

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