Morre o ator suíço Bruno Ganz, protagonista em “A queda”

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Morre o ator suíço Bruno Ganz, protagonista em “A queda”
Cinema
17 de fevereiro de 2019 - hitleraqueda

Artista de 77 anos estava com câncer / Foto: Reprodução

O ator suíço Bruno Ganz, famoso por seu papel como o ditador Adolf Hitler em “A queda: as últimas horas de Hitler”, morreu na madrugada deste sábado, em Zurique, aos 77 anos, como consequência de um câncer, anunciou sua agente Patricia Baumbauer. “Sim, hoje nas primeiras horas do dia”, disse à AFP confirmando o seu falecimento, anunciado pelo jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. Seu longa de maior sucesso foi indicado a vários prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Os médicos diagnosticaram um câncer intestinal em julho do ano passado, o que lhe impediu de ser o narrador da ópera de Mozart “A flauta mágica”, no último Festival de Salzburg, onde foi substituído por Klaus Maria Brandauer.

Em entrevistra ao The Guardian, em 2005, o artista contou ter passado vários meses se preparando para o papel, estudando gravações históricas e observando pessoas com a doença de Parkinson que, acreditava, o ditador tinha. “Não posso dizer que compreendo Hitler. Nem mesmo as testemunhas que estiveram no bunker com ele são capazes de descrever a sua essência. Ele não tinha qualquer piedade ou compaixão, não tinha entendimento algum do que sofriam as vítimas da guerra”, afirmou na época.

Ganz era nativo de Zurique, filho de um mecânico suíço e mãe de origem italiana, era considerado como um dos atores de língua germânica mais importantes do pós-guerra, tanto no teatro como no cinema. Entre os papéis que interpretou destacam-se o de anjo Damiel no filme “Asas do desejo”, no qual seu personagem espia e analisa a cidade de Berlim antes da reunificação. O filme ganhou a Palma de melhor direção no Festival de Cannes de 1987.

Sua encarnação tão explosiva quanto sombria de Adolf Hitler em “A queda: As últimas horas de Hitler” lhe valeu a consagração em 2004. Foi uma das primeiras produções alemãs dedicadas ao “Führer” em um país que segue traumatizado pela lembrança da barbárie nazista. Os críticos elogiaram a sua interpretação neste longa-metragem indicado ao Oscar de melhor filme de língua não inglesa, e que conta os últimos dias do tirano nazista ao final da Segunda Guerra Mundial.

Cortina de ferro

“Me ajudou o fato de não ser alemão, porque pude colocar o meu passaporte entre Hitler e eu”, declarou Ganz à imprensa em 2005. Contava que teve que “construir um muro ou uma cortina de ferro” em sua mente para se distanciar do ditador, com quem ele não queria passar suas “noites no hotel”. Em 1996 recebeu o Anel de Iffland, propriedade do Estado austríaco, uma distinção concedida ao ator teatral de língua germânica mais importante do momento e, portanto, digno de ser o sucessor do ator, dramaturgo e diretor teatral alemão August Wilhelm Iffland.

Antes de triunfar nas telonas, Bruno Ganz, um autodidata que abandonou a escola na adolescência, trabalhou como ator em teatros alemães de prestígio. Nascido em 1941, decidiu deixar seus estudos para se dedicar completamente à interpretação, apesar dos temores de seus familiares. Para seguir seu sonho, se mudou nos anos 1960 para a Alemanha, onde trabalhou como livreiro e motorista de ambulância. Converteu-se efetivamente em ator em meados dos anos 1970 e começou a se distinguir em filmes como “O amigo americano”, em 1977.