por Jeferson Francisco Selbach*
Em duas ocasiões, os alemães contradisseram essa fama de população insensível. A primeira foi durante o período nazista, onde o povo foi tomado de uma euforia sem limites, que permitiu a Adolf Hitler fazer o que fez, terminar como terminou.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, a derrotada Alemanha precisava retomar a ordem social e permitir a ascensão dos ideais de liberdade e democracia. A Constituição de Weimar foi a resposta para os anseios humanistas e iluministas. Promulgada em agosto de 1919, garantiu a liberdade de expressão e religião, direitos sociais, proteção aos trabalhadores e voto universal.
Foi justamente esse ambiente social de maior liberdade – somado à grande recessão no início dos anos 30 – que fez com que um ex-cabo surgisse com seu discurso inflamado de reabilitação do orgulho alemão, através do nacionalismo exacerbado e do socialismo econômico baseado na força do trabalho. Era o fundador do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou simplesmente Nazi.
A paixão uniu a população ao carismático e hipnótico orador e líder nazista, que prometia restaurar os valores culturais alemães, criar postos de trabalho para tirar as famílias da miséria e restaurar a Alemanha como potência mundial.
Findo a guerra, os Estados Unidos implantaram em 1948 o Plano Marshall de ajuda financeira para reconstruir a Europa destruída. Dividida em duas, a parte ocidental alemã recebeu bilhões de dólares e com a força militar reduzida ao máximo pôde investir no desenvolvimento de novas tecnologias, o que permitiu dar o grande salto econômico e garantir certa estabilidade social.
A Alemanha serviu de palco perfeito da guerra fria, entre o mundo livre e as ditaduras comunistas, até 1989, quando a então União Soviética se retirou da parte oriental e se derrubou o muro de Berlim, abrindo caminho para a reunificação.
A segunda ocasião onde os alemães deixaram a paixão tomar conta ocorreu na última década. Se no período nazista a política de Estado foi da pureza da raça, a Alemanha contemporânea assumiu a postura institucional de acolhimento incondicional de migrantes refugiados do mundo inteiro, refletindo o sentimento popular que teve por base o passado sofrido, de culpa e de compromisso com o ser humano.
Milhões de refugiados buscaram no país germânico o porto seguro de suas aflições, anseios e esperanças. Sob o slogan político “Nós vamos conseguir”, abriu as portas para levas e levas de refugiados todos os anos.
Assim como no período nazista, o povo alemão viveu uma euforia exacerbada, desta vez pela aceitação irrestrita das diferenças sociais, culturais e religiosas daqueles que pedem asilo. O posicionamento oficial das autoridades alemãs reflete esse período passional pela bandeira da diversidade.
São inúmeras as notícias de prisões de alemães natos que se insurgem contra atos praticados pelos refugiados, categorizados como ódio contra as minorias. Relatório recente aponta o crescimento vertiginoso do sentimento anti-muçulmano, que deixou de ser um fenômeno marginal na sociedade e está se disseminado em grande parte da população, permanecendo em níveis consistentemente altos, ano após ano.
As maiores reservas dos nascidos alemães se funda no aumento de atentados terroristas, disputa com estrangeiros para acesso a empregos e no aumento da criminalidade, atribuída aos refugiados, especialmente de origem muçulmana.
O vice-presidente norte-americano J.D. Vance vaticinou que a nova ameaça às democracias vem das próprias sociedades civilizadas, com o recuo em relação aos seus próprios valores fundamentais, valores estes que não coadunam com os migrantes islãs.
As recentes eleições para o parlamento alemão refletem este recuo, encerrando o melancólico governo social-democrata do chanceler Olaf Scholz e dando vitória considerável para a aliança conservadora de Friedrich Merz, além de dobrar a bancada ultradireitista de Alice Weidel, defensora da deportação de migrantes que não assimilarem os valores alemães.
O que está em jogo é a manutenção dos valores cristãos que fundam a sociedade alemã e europeia, contra a onda muçulmana que assola todo o continente.
Nem a pureza da raça nazista, tampouco a tirania do califado muçulmano travestido de respeito à diversidade cultural. O povo alemão deve encontra seu meio-termo com a frieza que lhe é característica.