Viva a Semana Farroupilha, tchê!

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COLUNAS
16 de setembro de 2019 - cleo1

Em homenagem ao nosso Estado e a todos os gaúchos, gaúchas, amigos e amigas de todos os pagos, apresento abaixo a espetacular poesia “Todo Mundo… Menos Eu”, do consagrado poeta, compositor e folclorista gaúcho Dimas Costa.

Todo Mundo… Menos Eu

(Dimas Costa)

Chegou um dia no pago,
mui perfumada e faceira.
Morena, meiga, trigueira,
mais linda do que uma flor.
Prenda dessas que ao vê-la,
por mais taura que se seja,
até a alma fraqueja
e mata a gente de amor!

Foi um Deus-nos-acuda!
A indiada se alvoroçou!
E até um velho que a olhou
de amores enlouqueceu!
Todo mundo andava louco
e o seu amor implorava!
Todo mundo a disputava…
todo mundo…menos eu!

Quando ela passava, catita,
num meneio encantador,
o índio mais peleador
gemia de amor contido!
E se ela dava-lhe um riso,
aquele nunca esquecia
e a todo mundo dizia
que estava de amor perdido!

Perdidos viviam todos,
por tal amor brejeiro.
Cada qual era o primeiro
a querer um riso seu!
E as vezes, por desconfiança,
muito índio se atracava!
E todo mundo peleava,
todo mundo…menos eu!

Era uma flor atrevida
capaz de matar de amor!
Seu olhar tinha um ardor
que queimava o coração!
Por mais duro que se fosse
ao vê-la a gente tremia.
E todo o pago curtia
as dores duma paixão!

Se acaso ia num baile,
havia, certo, peleia.
E quanta pendenga feia!
E quanto cuera morreu!
Pois na hora de uma dança
a indiada se atropelava
e todo mundo a requestava,
todo mundo…menos eu!

Uma vez o patrão da estância
a levou para um ranchito.
Mas nunca viveu solito
pois em grande romaria;
gaúchos, velhos e moços,
não contendo os seus amores,
lá iam levar-lhe flores
e outros mimos, todo dia!

Enfeitavam aquele pouso
com ramos verdes plantados,
como brindes, disfarçados,
ao novo lar que nasceu.
Mas em verdade, queriam
vê-la cada vez mais bela!
E todo mundo era dela,
todo mundo…menos eu!

E assim, gozando venturas,
rainha, dona de tudo,
aquele olhar de veludo,
trouxe a tristeza pra o pago…
Tristeza, talvez ventura,
pois até valia a pena
sofrer por essa morena
na esperança dum afago!

Um dia, porém, a diaba,
se alçou assim, num repente.
Ah! Meu Deus! Aquela gente
parece que enlouqueceu!
Muito índio se matou
de tanto, tanto que amava!
E todo mundo chorava,
todo mundo…menos eu!

Mas o tempo, esse tirano
que destrói até a memória,
foi apagando na história
aquele causo de amor.
Voltou a paz no rincão,
o riso de novo impera
e no rancho, hoje tapera,
ninguém mais planta uma flor!

Seu vulto, não mais recordam.
E dele, ninguém mais fala.
Se alguém lembra, logo se cala
mostrando que já a esqueceu.
Pois a linda flor trigueira,
que eu nunca vira tão bela,
todo mundo esqueceu dela,
todo mundo…menos eu!

Ótima semana, queridos leitores e leitoras!

Cleo Boa Nova é publicitário, consultor, escritor, músico e comunicador, autor dos livros “A Nossa Vida é a Gente Quem Cria. Senão Não Seria a Nossa Vida” e “Viva Feliz o Dia de Hoje. Viva!” e autor-intérprete do CD “Paz e Alegria de Viver”.