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Uma história que não está no gibi…

Na primavera de 1895, o pouco conhecido Richard Felton Outcault, desenhista norte-americano, fez algo simples e que revolucionou a humanidade.

Em uma folha de papel, o jovem autor circulou um pequeno texto ao lado de uma caricatura e depois “setou” aquele “balãozinho”, o que fez seu personagem “falar” com o leitor.

Dali em diante, nascia The Yellow Kid (o menino amarelo), primeira história em quadrinhos moderna, marco de um universo de possibilidades que mudou a maneira como muitas pessoas experimentam o mundo.

Os historiadores, como o jornalista Álvaro de Moya, autor do livro História da História em Quadrinhos, comentam que antes de Outcault já existiam narrativas desenhadas em uma espécie de sequência (como faziam, por exemplo, os egípcios), mas o uso daqueles “balõezinhos” deu vida aos quadrinhos como conhecemos hoje, abrindo vasta possibilidade para o registro e divulgação de uma nova linguagem, que unificava o verbal e o não verbal em uma sinergia revolucionária para os gêneros literários disponíveis na época.

Embora possuam diferenças significativas em termos de formato, traçado, forma de leitura e outros componentes estruturais, via de regra as histórias em quadrinho (gibis, mangás, comic books, graphic novels, HQs, etc.) expressam ideias, sentimentos, comportamentos, dilemas, desejos e qualquer outra abstração no arcabouço de problemas humanos, sem os limites materiais do cinema, que exige cenário, figurino, ou mesmo as dificuldades descritivas de um livro, que não dispõe da facilidade gráfica para inserir de forma rápida o leitor em um novo contexto narrativo, como cada quadrinho novo permite.

Nessa linha histórica, a popularização das HQs foi rápida e ganhou muita força após a Primeira Guerra Mundial, quando os “super-heróis” impulsionaram os rumos desse universo cultural inexplorado, destacando os norte-americanos como espécie de distribuidores dos valores libertários (defendidos por seus personagens) junto ao gênero fictício, época que trouxe avanços na sustentabilidade do formato, porém controvérsias em relação ao controle criativo dentro do ramo.

Os analistas do tema diferenciam quatro períodos no tocante à evolução literária das histórias em quadrinho.

O primeiro período, conhecido como “era de ouro”, vai de 1938 a 1956 e marcou a definição do arquétipo de super-herói, trazendo ao público personagens como Batman, da DC Comics; Super-Homem, da Action Comics; Capitão América e Capitão Marvel, ambos da Marvel Comics, entre outros.

De 1956 a 1971, sobreveio o período conhecido como a “era de prata” das HQS, marcada pelo significativo aprimoramento gráfico e popularização dos quadrinhos, apresentando ao leitor, por exemplo, a Liga da Justiça da DC Comics e o Quarteto Fantástico, da concorrente Marvel Comics, robustos em sentimento de equipe, definição dos trajes e reprodução fiel de alguns locais e cidades famosas a cada lançamento.

Já destacada a soberania dos super-heróis na produção cultural deste gênero, entre as décadas de 1970 e 1980 a produção das HQs abordou temas sociais de forma crítica e recorrente, chegando a sofrer censuras. O perigo das drogas, riscos da poluição e do aquecimento global, racismo e outros temas nada conservadores delimitaram a época conhecida como “era de bronze” das histórias em quadrinho, com destaque para títulos como o espetacular Homem-Aranha da Marvel Comics e X-Men, desta mesma empresa.

Em X-Men, por exemplo, à luz da luta pelos direitos civis protagonizada nos Estados Unidos naquela mesma época, percebe-se clara a analogia entre os personagens fictícios Professor Charles Xavier e Magneto, com os personagens reais Martin Luther King e Malcolm X, que embora buscassem o mesmo tipo de justiça e mantivessem um diálogo harmonioso entre si, assim como os dois líderes mutantes, divergiam em relação aos meios para alcançar o seu objetivo, um defendendo o diálogo político com a sociedade, outro uma resistência combativa, que respondesse violência com violência.

Pós década de 1970, há um movimento pela construção de personagens psicologicamente complexos, com destaque para histórias mais sombrias, como “Watchmen” de Alan Moore, quando os pés no chão do autor refletem sobre a impossibilidade de convivência pacífica entre super e seres humanos, ou o Título “Maus” do cartunista Art Spiegelman, que entrevista seu pai acerca das experiências deste enquanto um judeu polonês e sobrevivente do Holocausto.

Essa época é conhecida como “era moderna” dos quadrinhos e vai até os dias atuais, dando destaque para releituras de personagens, como Batman, que deixa de ser um personagem caricaturado e conhece um forte trabalho emocional e realístico, em obras como “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” ou “A Piada Mortal”.

Seja dividindo a história das HQs em períodos, ou as vendo como um processo natural de evolução em simultâneo com os valores culturais de cada época, algo é inegável: as histórias em quadrinho, hoje, são responsáveis por grandes sucessos do cinema e influenciam milhares de pessoas. O assunto é recorrente a cada lançamento de franquias milionárias, com diversas fontes criativas e discussões existenciais, uma economia própria e capilarizada em todos os setores, principalmente na internet, onde cá estamos.

Em Cachoeira do Sul, um dos locais que comercializa títulos Ocidentais e Orientais desse segmento, mangás e HQs, é a Xiru Geek, localizada na rua General Osório, em frente ao Portão 2 do Colégio Roque Marista.

A coluna OCNerd! irá mostrar, eventualmente, títulos que marcaram época em parceria com a equipe geek deste espaço, que já prometeu para essa semana uma live falando sobre o clássico “APpiada Mortal” de Alan Moore, considerada por muitos a melhor história já feita sobre Batman, o homem-morcego.

O Instagram da loja é @xirugeek. Muito divertido por sinal.

Xiru Geek
R. General Osório, 2708
Centro
Cachoeira do Sul – RS
CEP: 96508-084
xirugeek@gmail.com

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