Taniel Toy: a saga de um cachoeirense da periferia que venceu em São Paulo

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Taniel Toy: a saga de um cachoeirense da periferia que venceu em São Paulo
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3 de maio de 2022 - taniel 2

Taniel Toy: após superar inúmeros obstáculos, cachoeirense se tornou uma personalidade internacionalmente reconhecida pelo seu gosto por plantas e cafés e estilo de vida excêntrico / Fotos: Divulgação/Instagram

 

Duas mochilas nas costas, R$ 500 no bolso, a roupa do corpo e nenhum plano, meta ou perspectiva na bagagem. Assim começou a saga do jovem Taniel Kurtz, então com 23 anos no longínquo 2007, quando deixou Cachoeira do Sul em busca de um novo mundo em São Paulo, o coração econômico do Brasil.

Foi na maior cidade do país que, após enfrentar inúmeras dificuldades, ou “perrengues”, como ele mesmo define, que o cachoeirense se tornou Taniel Toy, hoje com 38 anos, uma personalidade conhecida e reconhecida internacionalmente pelo seu estilo de vida excêntrico, único: um barista, especialista em cafés que gerencia uma das mais badaladas cafeterias da capital paulista, e um apaixonado por plantas que divide 390 exemplares das mais variadas espécies oriundas dos quatro cantos do mundo no apartamento de 42 metros quadrados onde mora, no Bairro Santa Cecília, área central de São Paulo.

O gosto pelas plantas ele herdou da mãe, Dona Leda, que até hoje reside em Cachoeira do Sul, assim como seus três irmãos. Mas a necessidade de fazer de sua casa uma selva particular veio da ausência absoluta de árvores em São Paulo. “O ar extremamente seco e poluído da cidade me trouxe essa necessidade de querer estar entre o verde. Quando eu voltava do trabalho para casa, a impressão que eu tinha era de que eu não havia voltado para casa, porque o meu apartamento parecia uma extensão do meu local de trabalho. Era muito estranho isso”, relata.

Com o crescimento de sua coleção de plantas, surgiu a ideia de compartilhar nas redes sociais o dia a dia entre elas em seu diminuto apartamento, que hoje ele divide também com os gatos Roberto e Margarete, um casal de bichanos da raça Oriental Short Hair. O conteúdo logo caiu nas graças do público e hoje seu perfil no Instagram tem ao redor de 42,4 mil seguidores de todo o mundo.

O estilo de vida de Taniel Toy já despertou a atenção de jornalistas como o ex-global Zeca Camargo, que recentemente lhe entrevistou, e de publicações como a Revista Exame e Casa Vogue. Sua afinidade com as plantas também é registrada no livro Plant Tribe, lançado recentemente na Alemanha. Atualmente com 1,2 milhão de seguidores, a página Urban Jungle Bloggers, no Instagram, também deu destaque ao estilo de vida do cachoeirense Taniel Toy. Nas redes, além de falar sobre cafés, ele traz novidades e também dá dicas sobre os cuidados necessários com plantas em ambientes urbanos confinados.

 

ENTREVISTA:

Portal OCorreio – Como surgiu a ideia de deixar Cachoeira do Sul e ir embora para São Paulo?

Taniel Toy – Eu costumo dizer que sou um erro que deu certo em São Paulo. Acompanhado de um ex-namorado, eu saí de Cachoeira em 2007 com duas mochilas e R$ 500 que havia conseguido juntar. Eu não tinha nenhum plano, nenhuma meta. Só queria ir morar em São Paulo, mas sem objetivos muito claros. A verdade é que, mesmo tendo nascido e crescido em Cachoeira, eu não me identificava com o modo de pensar da cidade. Sou uma pessoa que pensa totalmente fora da caixa, e aqui em São Paulo me encontrei, passei a conviver com pessoas que pensam parecido comigo.

 

Portal OCorreio – Você consegue se ver morando em Cachoeira?

Taniel Toy – Se eu não tivesse vindo embora para São Paulo, acho que não estaria tão realizado pessoal e profissionalmente como me sinto aqui. Talvez casado, com uma casa e um carro na garagem. Mas pensando fora da caixa, vivendo uma história que não seria a que eu gostaria de ter vivido. Eu vivi bastante coisa em São Paulo. Em Cachoeira, passei minha infância no distrito de Ferreira e, na adolescência, passei a morar na Volta da Charqueada. Deixei boas amizades aí, principalmente nas escolas onde estudei, como Ciep, João Neves e Borges. Mas eu simplesmente não me sentia conectado com a cidade. Faz uns nove anos que não vou a Cachoeira. Um dia ainda quero comprar um sítio e voltar a morar aí, porque sinto que estou atingindo o meu ápice em São Paulo. Recentemente, tinha planos de ir visitar a cidade, mas que foram adiados por causa da pandemia. Em breve, quero estar aí para rever minha mãe e meus irmãos e conhecer meus sobrinhos.

 

Portal OCorreio – Como foi a tua chegada a São Paulo?

Taniel Toy – Ainda em Cachoeira, eu mantinha contato através do Orkut com pessoas de São Paulo. Numa dessas conversas, combinei com um amigo que fiz na rede que se não encontrasse uma pensão em conta para dormir por uns dias até encontrar um emprego, iria me socorrer dele. Fui para São Paulo em dois ônibus. Só no transporte, aqueles R$ 500 que eu tinha no bolso viraram R$ 250. Com esse dinheiro eu tinha de arranjar o que comer e onde dormir. Chegando a São Paulo, não encontrei um local mais em conta e então liguei para esse amigo, que no dia não pode me receber, mas me orientou a procurar uma amiga dele. Foi ela quem me acolheu num apartamento pequeno, mediante o pagamento de R$ 60 por mês.

 

Portal OCorreio – Como tu fizeste pra se manter com tão pouco dinheiro numa cidade como São Paulo?

Taniel Toy – Uns quatro dias depois que cheguei, consegui um emprego num call center. Eu sempre brinco que os call centers são as mães dos desempregados (risos). Essa amiga que me acolheu me disponibilizou um bilhete único (vale-transporte) com vários créditos, o que me ajudou bastante nesse começo difícil. Com um salário inicial de R$ 500 na época, a empresa me dava almoço e um lanche, e eu já pegava logo dois lanches pra garantir a minha janta. Minha refeição diária se resumia a pão-sanduíche e leite, e hoje eu não consigo mais comer isso (risos). O que salvava era o almoço do call center. Quando um amigo me chamava para uma festa, um evento, eu ia pensando no que iria ter para comer (risos). Depois de um tempo, dividi um kitnet minúsculo com sete pessoas e parti logo para dois empregos, um no call center e outro numa balada. Passei por muita coisa mesmo. Teve uma vez que dividi um apartamento com três pessoas e uma cama com uma delas durante um ano. Uma amiga com quem eu morei foi minha conselheira nos momentos em que pensei em desistir de tudo. Ela me ajudou muito a suportar os perrengues que tive de enfrentar.

 

Portal OCorreio – Como você conseguiu superar esse monte de dificuldade?

Taniel Toy – Depois que eu consegui juntar uma grana, jurei pra mim mesmo que não queria mais essa vida de viver no aperto, de um lado para o outro, dividindo espaços. Foi então que, há seis anos, adquiri o meu apê.

 

Portal OCorreio – E essa ideia de montar a tua própria selva particular dentro do teu apartamento?

Taniel Toy – São Paulo tanto dá quanto tira muito da gente. É um mundo de inúmeras oportunidades e possibilidades. Eu trabalhava o máximo que podia e, quando parava, priorizava o descanso, tentava dormir o mais cedo possível porque tinha de acordar muito cedo. Ou seja, não tinha convívio com amigos. E quando eu comprei o meu apartamento, eu não tinha claro na minha cabeça esse objetivo de ter um apê com dois gatos e um monte de plantas. Por uma junção de fatores, as coisas foram acontecendo: o fato de não ter planta na cidade, ter poucos móveis e muitos espaços vazios dentro de casa estão entre os motivos que me levaram a conviver com elas (as plantas). Mas o principal deles foi a memória afetiva da minha mãe, a Dona Leda. Quando eu morava em Cachoeira, a ajudava com as plantas de casa.

 

Portal OCorreio – Como foi que esse teu gosto por plantas viralizou nas redes sociais?

Taniel Toy – Como eu sou um curioso que consome muito conteúdo sobre tudo que me interessa, acabei virando um nerd de plantas. Hoje, tenho 390 delas no meu apartamento. Enquanto em São Paulo o ar é extremamente seco, a minha casa parece uma estufa. A umidade dentro dela chega a 90%. A vizinhança brinca que aqui é o filtro de ar do bairro (risos). Chegou um momento que passei a postar tudo isso no Instagram e o público aprovou. Fui ganhando seguidores de várias partes do Brasil e do mundo.

 

Portal OCorreio – Dá para ganhar dinheiro com plantas?

Taniel Toy – Tenho dentro de casa uma coleção de plantas raras. Tenho exemplares que fora do Brasil, por exemplo, chegam a valer 12 mil dólares. Há uns dois anos, fui chamado pelo Sítio Burle Marx, no Rio de Janeiro, para ajudar a identificar plantas. Sou um estudioso e curioso sem formação na área da botânica, mas que lê muito a respeito do tema.

 

Portal OCorreio – E o gosto por cafés, como surgiu? Como foi que tu te tornaste um barista?

Taniel Toy – Entre 2013 e 2014, comecei a tomar café e a prestar mais atenção nessa bebida. Foi então que meu namorado e eu quase fomos para a Alemanha em busca de qualificação sobre o assunto. No entanto, decidi fazer um curso de barista no Brasil e me tornei um especialista em todas as áreas do café. Eu não entendia nada do assunto, mas ao ingressar na profissão, me especializei fazendo outros cursos na área. Me encontrei nisso, estou no ápice da profissão. Sou gerente de uma das principais cafeterias de São Paulo. Trabalhar com o público pode até ser desgastante, mas compensa. Aqui, convivo com todo mundo, do mais descolado ao mais sério. Dos ídolos das minhas bandas preferidas à titia que todo dia reclama de tudo, mas que não deixa um só dia de provar o meu café. É fantástica essa diversidade que um grande centro como São Paulo tem a oferecer.