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Soja, milho, feijão e arroz: como o clima afetou a colheita?

Crédito: Aprosoja Brasil

Crédito: Aprosoja Brasil

No fechamento da primeira metade de maio, as condições climáticas sobre o Rio Grande do Sul permaneceram desfavoráveis para as atividades de campo, especialmente a colheita. O fato agrava a situação, pois as perdas aumentam diariamente com o adiamento da operação, provocando a abertura de vagens, a germinação de grãos ou seu comprometimento pela proliferação de fungos. De acordo com o Informativo Conjuntural, divulgado pela Emater/RS-Ascar, vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR), as precipitações foram menos recorrentes, o que permitiu pequenas janelas temporais para a realização da colheita em grande parte do Estado, apesar dos altos teores de umidade no solo e nas plantas.

“Da soja colhida se observa redução drástica na qualidade dos grãos, em comparação ao produto obtido antes do excesso de chuvas”, destaca o diretor técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera, ao analisar que na safra 2023-2024 o Rio Grande do Sul cultivou 6,68 milhões de hectares, que é a maior área cultivada. “Na última análise feita pela Emater, se verifica que 85% das lavouras de soja estão colhidas, apresentando um avanço de sete pontos percentuais”, diz, ao ressaltar que “parte dos municípios produtores de soja e parte dos agricultores optaram por colher, ainda que o grão esteja em condições não favoráveis e mesmo no período de calamidade”.

Nesse sentido, a Emater/RS-Ascar estima que nos próximos dias o avanço da colheita da soja provavelmente será pouco significativo, já que muitas lavouras, dos 15% restantes, devem ser abandonadas em razão da inviabilidade econômica, ou seja, a colheita dessas áreas não cobre os custos da operação, o frete e os descontos aplicados no recebimento pelas cerealistas. Os prejuízos serão maiores nas regiões Centro, Sul e Oeste do Estado, onde grandes extensões ainda não haviam sido colhidas.

Diante dessas perdas significativas, os produtores estão acionando o seguro agrícola. Aqueles que não possuem cobertura para suas lavouras buscarão renegociar as dívidas com os cerealistas e com outros financiadores da safra, transferindo para os períodos futuros a quitação dos débitos. A estimativa de produtividade projetada inicialmente era de 3.329 kg/ha, mas deverá variar negativamente, dependendo dos resultados de lavouras a colher ou perdidas.

Milho – As elevadas precipitações e o alto teor de umidade do ar, nas últimas semanas, ocasionaram perdas treferentes à germinação de grãos em espigas, incidência de doenças fúngicas e desenvolvimento de micotoxinas. Novamente, nas poucas oportunidades de colheita, a cultura da soja foi priorizada em relação ao milho. O período apresentou avanço de apenas 2% nas operações de colheita em comparação à semana anterior, atingindo 88% no Rio Grande do Sul. Cerca de 9% das lavouras estão em maturação e 3%, em enchimento de grãos.

Milho silagem – As atividades de colheita e de ensilagem foram retomadas, mas de maneira lenta, com o objetivo tanto de realizar a operação em plantas próximas ao ideal de maturação dos grãos, quanto de preservar a condição verde das plantas, antes que ocorra o secamento da palhada e a consequente perda de qualidade nutricional. Porém, a operação foi realizada apenas em algumas propriedades, pois a prioridade é a colheita de outras lavouras de verão. Estima-se que 92% foram colhidos, e a produtividade projetada permanece em 35.518 kg/ha.

As fortes chuvas acentuaram o acamamento das plantas afetadas pela cigarrinha – fenômeno conhecido como enfezamento – e aumentaram a incidência de doenças bacterianas. Nessas circunstâncias, estima-se que haverá elevado índice de perdas do milho silagem.

Feijão 1ª safra – A colheita foi concluída. Estimam-se 25.264 hectares cultivados e 1.930 kg/ha de produtividade.

Feijão 2ª safra – As condições climáticas, caracterizadas por elevada umidade e temperaturas amenas, continuaram desfavoráveis para o desenvolvimento da cultura. Contudo, a interrupção das precipitações, em parte do período, permitiu a colheita com o intuito de mitigar as perdas nas lavouras maduras. Nesse contexto, a proporção de áreas colhidas atingiu 40%. A área cultivada em 2ª safra, no Estado, está estimada em 19.900 hectares, e a produtividade deverá ser inferior à projetada de 1.568 kg/ha.

Arroz – A colheita do arroz avançou pouco após um novo período marcado por dias chuvosos, havendo ainda algumas lavouras em condição de alagamento devido à cheia dos cursos d’água. Estima-se que a área colhida alcançou 86%. A área cultivada no Estado está estimada em 900.203 hectares, conforme o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A produtividade inicialmente estimada em 8.325 kg/ha poderá ser reduzida após a quantificação das perdas.

Parte da produção de arroz é armazenada em silos nas propriedades. Em alguns casos, a enchente inundou a parte inferior de muitos desses silos, ocasionando perdas elevadas pela falta de energia elétrica para a ventilação da massa de grãos e pela impossibilidade de transporte do produto por causa de danos nas estradas. Até o momento, não há uma estimativa precisa do número de silos inundados pelas águas.

RECUPERAÇÃO DE SOLOS

A estrutura dos solos, “severamente atingida nessa calamidade, tanto na agricultura como na pecuária gaúcha”, preocupa o diretor técnico da Emater/RS, pois em municípios severamente afetados pelas chuvas sofreram o carregamento de camadas de solo. “De modo geral, é possível afirmar que a estrutura dos solos, o histórico de trato agronômico acumulado por anos e anos, foi severamente impactada em todo o Estado. Isso significa que os próximos anos serão de recuperação dos solos agrícolas, porque a perda não foi só de estrutura de solo, mas também de fertilizantes e de corretivos, carregados pelas águas da enchente, pelas águas das enxurradas e pelo escoamento superficial”, ressalta Baldissera.

Para o diretor técnico, em que pese todo o cuidado na proteção de solo, com cobertura e manejo adequado, é impossível o solo absorver todo o volume de água que tem caído sobre as lavouras, “de forma que processos erosivos, desde os mais severos até processos mais brandos, carregaram aí uma riqueza bastante importante e uma fertilidade de solo que é extremamente necessária para o desenvolvimento das culturas, para o desenvolvimento dos cultivos e para a produção de alimentos”. “Então, os próximos anos serão de muito trabalho na recuperação dos solos, nos cuidados agronômicos que devem ser dispensados aos solos, a recuperar e a recuperar toda a capacidade produtiva do estado do Rio Grande do Sul no setor agropecuário”, finaliza Baldissera.

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