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“Seu Ilo, traz a saideira”

Um bar marcou época na década de 70 em Cachoeira do Sul. Sua localização era estratégica na chamada curva da Rua Júlio de Castilhos, onde hoje está uma loja de calçados. Era o Caneco 70. Ambiente agradável, ótimo atendimento, excelentes lanches e onde os estudantes e público em geral se reuniam às sextas-feiras, sábados e domingos para um bom bate-papo, muita piada e, claro, com o acompanhamento de uma cerveja gelada.

Um grupo em especial era frequentador assíduo do Caneco 70 e não dava alívio para o Seu Ilo, o dono do estabelecimento. Em sua maioria, eram acadêmicos da Univale, instituição que funcionava nos prédios onde hoje está o Colégio São Pedro, da Ulbra, no Bairro Santo Antônio. O pessoal tomava conta do bar e literalmente ficava até tarde em meio a muita conversa, risadas e pedidos de mais “uma” para o Seu Ilo.

No entanto, perto da meia-noite, o Seu Ilo saía detrás do balcão e ia em direção à porta de entrada do bar. A gente já sabia que era um sinal. Ele baixava as grades como se estivesse dando um aviso: “deu, estou fechando a casa”. Só que a gente já conhecia este procedimento e, aí, passávamos a gritar de forma combinada:

– Seu Ilo, traz a saideira.

Era também o nosso aviso de que a gente tinha entendido o recado, só que a tal de “saideira” nunca terminava e lá íamos ficando e ficando numa tremenda enrolação.

O Seu Ilo não gostava muito, mas não dizia nada. Era sério e falava o necessário. Ele nos conhecia e, afinal, estava vendendo mais e mais “geladas”.  A turma também entendia que não devia abusar da paciência do Seu Ilo. E aí, quase que numa combinação, lá pelas tantas, levantávamos ao mesmo tempo e nos dirigíamos ao balcão para pagar a conta. Às vezes, uma longa fila era formada ao lado do balcão sob o olhar atento do Seu Ilo.

O Caneco 70 tinha outra particularidade. Era um ponto de concentração, pois aos sábados a gente marcava encontro no bar para “aquecer o motor” e, depois se deslocar para bailes. No agito da noite, tínhamos várias opções. Cada grupo seguia para um lado. Tínhamos dança nos CTGs, na Sociedade União Cachoeirense (na época era Clube União Familiar), o Náutico Tamandaré, Comercial, Caiçara, entre outros. Era só escolher e combinar.

Do grupo que eu fazia parte tínhamos até mesa reservada. Assim que chegávamos, o Seu Ilo já trazia uma “gelada”. Na hora de pagar, tudo era dividido. Às sextas-feiras tinha mais um ingrediente. No desenrolar da conversa, a gente decidia pedir um bauru. O Seu Ilo acionava a cozinha e lá vinha um “senhor bauru” com um molho e um tempero especial. O tal bauru dava uma equilibrada na fome, porque a gente saía direto da faculdade para o Caneco 70.

Desta forma, o Caneco 70, cujo nome foi idealizado devido ao do tricampeonato do Brasil, em 70, ficou na história da cidade e na memória de muita gente. Até hoje guardo um bloco de piadas, que eu carregava em meio aos meus livros.

O bloquinho como era chamado, tinha o objetivo de alegrar a turma. Afinal, ele tinha uma relação de títulos de piadas onde cada uma tinha um número. Bastava colocar o bloquinho na mesa que alguém escolhia um número e, pronto, eu saía contando a piada. Era riso por todo lado, uma brincadeira sadia em que todos se divertiam. Com o tempo tínhamos mais contadores de piadas. Bom, aí, tínhamos que reunir duas ou três mesas para que todos pudessem ouvir e dar risada, era uma barulheira.

Não lembro quando encerrou o Caneco 70. Assim como os outros bares que existiam nas proximidades. No entanto, o Caneco 70 foi responsável por novas amizades, namoros, comemorações de aniversário, realização de projetos e até escolha de profissão. Afinal, foi ali que decidi iniciar minhas atividades jornalísticas junto com amigos que já estavam na comunicação. Foi marcante, pois agora completo 30 anos de profissão.

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