Em comemoração ao Agosto Dourado, mês de incentivo ao aleitamento materno, ocorreu nesta semana, o XV Seminário Estadual da Semana Mundial da Amamentação, realizado em conjunto com o X Seminário Estadual da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil. Este ano o evento trouxe para o debate a relação entre amamentação e ambiente de trabalho, vínculo profissional e recortes sociais, sobretudo acerca do racismo estrutural presente na sociedade. A programação ocorreu no auditório do Ministério Público Estadual.
O leite materno é considerado o alimento “padrão ouro” para o bebê e recomenda-se que seja oferecido até os dois anos de idade. Porém o estímulo para que a mãe continue amamentando após os seis meses de licença-maternidade esbarra exatamente na legislação trabalhista e no retorno à vida profissional. Pensando nisso, o tema escolhido pela WABA (Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno) em 2023 é “Apoie a Amamentação: faça a diferença para mães e pais que trabalham”, provocando o diálogo entre empregadores, empregados e profissionais da saúde.
A secretária estadual adjunta da Saúde, Ana Costa, participou da mesa de abertura do seminário e destacou como a primeira infância e os conteúdos ligados a ela são foco do Governo do Estado e da secretaria. “O tema aponta a necessidade de apoio, de nos sensibilizarmos pela vida do bebê, e isso passa pelas boas condições de trabalho. A Sala de Amamentação do Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF) é uma estratégia para que possamos cuidar da saúde e dos afetos” argumentou a secretária ao explicar que amamentar fica difícil se o trabalho se tornar um ambiente difícil também.
Representando o Ministério Público Estadual, a Coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Educação, Infância e Juventude, Promotora de Justiça Dra. Cristiane Della Méa Corrales, elogiou a temática do evento e a importância da matéria em sua experiência pessoal. “Espero que possamos olhar com empatia também para as mães que não conseguem amamentar e oportunizar uma dica e um cuidado que podem mudar o final da história”, almejou.
Fazendo a diferença para mães que trabalham
Ministrada pela enfermeira Olga Carpi, do Rio de Janeiro, a palestra de abertura intitulada “Possibilitando a amamentação: fazendo a diferença para mães que trabalham” abordou como intervenções simples no local de trabalho e mudanças na política das empresas podem influenciar positivamente para educar sobre essa necessidade. “A mulher retorna para o trabalho repleta de medos. Medo do desmame, medo de perder o emprego, medo de que o bebê passe fome durante a jornada de trabalho. A construção das salas de amamentação não garante que elas sejam utilizadas por quem precisa. Sem apoio de familiares, da gestão da empresa e da equipe, a mulher enfrenta ainda mais dificuldades de amamentar e conseguir extrair o leite durante o expediente”, explicou a enfermeira. “O fim da licença não é o fim da amamentação”, completou.
Sob a ótica dos recortes sociais necessários, a psicóloga Fernanda Lopes Sanchez Derballe trouxe para a discussão “O trabalho e a amamentação das mulheres negras”, ressaltando o alcance limitado que existe entre questões de justiça reprodutiva, disparidades na saúde e debate racial. “A quem é dada a escolha de amamentar e com quem as campanhas se comunicam? É essencial melhorar as condições para mulheres e pessoas com útero para que possam fazer escolhas sobre amamentar, parir, gestar”, defendeu ao enfatizar o quanto mulheres negras ficam à margem do debate de políticas públicas e o quanto esta invisibilidade expõe a urgência da erradicação do racismo.
A nutricionista da Política de Saúde da Criança da Secretaria Estadual da Saúde, Kátia Rospide, moderou a mesa com relatos de experiências de empresas privadas e públicas sobre a implantação das salas de apoio às mães que amamentam. Jeane Consi e Juliane Ercole, funcionárias do Banrisul, contaram como um ambiente seguro, confortável e higiênico permitiu a privacidade e continuidade da amamentação após o retorno da licença-maternidade. Se antes as extrações de leite eram feitas no banheiro ou em lugares impróprios, com a inauguração da sala (em agosto de 2022), agora é possível oportunizar uma volta ao trabalho com menos preocupações.
Professora da PUCRS, Caroline Abud conseguiu instigar o projeto de salas de amamentação na universidade um pouco antes da pandemia. Questionada por uma aluna lactante, pleiteou a busca por um espaço especializado para proporcionar o aleitamento materno sem constrangimentos, para alunos, docentes e funcionárias.
Gisele Reginatto trabalhou na Secretaria da Segurança Pública e foi uma das primeiras servidoras a utilizar a sala de amamentação do CAFF, inaugurada em 2021. “Ter a sala no ambiente de trabalho foi fundamental para que eu pudesse amamentar meu filho até dois anos. Considero um pequeno ato de resistência e que seguirá tendo importância para outras mães que virão”, declarou.