Rompimentos de barragens: Capané é segura?

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Rompimentos de barragens: Capané é segura?
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26 de janeiro de 2019 - barragem1

A barragem da Vale rompida no início da tarde desta sexta-feira (25) em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, estava classificada como de baixo risco de acidentes e alto potencial de danos. O caso que repercute até fora do Brasil reacende um alerta para Cachoeira do Sul. A informação consta no Relatório de Segurança de Barragens, elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA), a partir de informações prestadas por órgãos fiscalizadores ligados à temática.

Irga monitora situação em Cachoeira do Sul / Foto: Irga

A última edição do relatório foi lançada em novembro do ano passado, com informações relativas a 2017. Em nota encaminhada nesta tarde, a agência reguladora reafirmou que, para elaborar o documento, encaminhou formulário para os órgãos fiscalizadores, que declararam as informações sobre as barragens sob sua responsabilidade. “Neste questionário, a ANA perguntou quais barragens estariam em situação crítica e a barragem rompida nesta sexta-feira não foi apontada como crítica pela Agência Nacional de Mineração (ANM), responsável pelas informações das barragens de rejeito de minério“, disse a agência, por meio de nota. Eles afirmaram ainda que, para informações sobre a barragem de rejeito de minério da Vale, a ANM deve ser consultada.

Mais cedo, a ANA informou que está monitorando a onda de rejeitos da barragem, pois havia a preocupação de que esse material atingisse a Usina Hidrelétrica Retiro Baixo, mas que a barragem da usina, localizada a 220 quilômetro do local do rompimento, possibilitará amortecimento da onda de rejeito. “Estima-se que essa onda atingirá a usina em cerca de dois dias”, diz a nota.

Barragem do Capané

O coordenador Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em Cachoeira do Sul, engenheiro-agrônomo Pedro Hamann, destacou para a reportagem do OCorreio Digital que havia sido feito um estudo geofísico sobre a situação estrutural do maciço da barragem, e que tal levantamento confirmou o que basicamente se sabia: existem três pontos com uma maior fragilidade no maciço. “Em decorrência disso, a barragem já trabalha hoje em nível bem inferior à sua capacidade”, acrescentou. Segundo o dirigente, o focos sobre o assunto para 2019 mira no projeto e na execução da reforma.

O coordenador salientou que não há fato novo e não há motivo para alardes. “O Irga está trabalhando para sanar esses problemas existentes há décadas”, observou.

Hamann também ressaltou que em qualquer barragem há risco de rompimento para menor ou maior. “As 23 barragens que se romperam em Cachoeira em 2016 com as intensas chuvas são um exemplo”, declarou.

Saiba mais

Construída no final da década de 1940 pelo Irga, a Barragem do Capané teve os primeiros problemas identificados em 2015 como uma infiltração e ausência de equipamento medidor de vazão da água. Para evitar acidentes, a barragem vem sendo mantida a 12 metros de altura, seis a menos do que o seu limite.

Atualmente, a Capané beneficia em torno de 35 produtores rurais na irrigação de lavouras de arroz. Para consertá-la, o relatório da ANA calcula uma despesa de R$ 15 milhões. Desde a identificação das falhas, o uso da estrutura pelo Irga está condicionado ao envio de relatórios de monitoramento.

O levantamento da ANA é o segundo elaborado desde o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, considerado o maior desastre ambiental da história recente do país. Desde a tragédia, que provocou a morte de 19 pessoas, a agência aprimorou o acompanhamento de estruturas vulneráveis.

O Brasil tem cerca de 23 mil barragens identificadas para diversas finalidades, como geração de energia, acúmulo de água ou rejeito de minérios, caso da que se rompeu hoje.

As 45 barragens com estrutura comprometida no país