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Rio Grande do Sul perde Luiz Carlos Borges, expoente da música nativista

Luiz Carlos Borges deixa uma contribuição incontestável para a música e a cultura do RS / Foto: Andressa Camargo/Divulgação

 

Faleceu nesta quarta-feira (10), em Porto Alegre, um dos maiores expoentes da música nativista do Rio Grande do Sul. O cantor, compositor, arranjador, produtor e acordeonista Luiz Carlos Borges, 70 anos, deixa como legados grandes clássicos do cancioneiro gaúcho, com um estilo único de quem tirava da gaita sonoridades peculiares dignas de um grande artista.

Natural da cidade missioneira de Santo Ângelo, Luiz Carlos Borges deixa uma marca incontestável para a cultura gaúcha. Os números comprovam sua representatividade. O artista deixa 35 álbuns, 269 composições e 720 gravações registradas no Ecad, o órgão responsável pela arrecadação e distribuição de direitos autorais no Brasil.

São de sua assinatura clássicos como Baile de Fronteira, Tropa de OssoFlorêncio Guerra Romance na Tafona, entre tantos outros sucessos. Chamamecero assumido com orgulho, costumava dizer que o ritmo é “o jazz do futuro”. “É um ritmo ternário, que vira seis por oito, o que ajuda a dar sentido de circunferência”, definiu, em entrevista concedida em 2020.

A maneira inovadora com que tocava gaita ganhou o respeito e a admiração do público e dos próprios colegas músicos. A riqueza de sua obra mesclava referências de músicas de fandango e clássicos do nativismo até mesmo com influências de ritmos internacionais, como jazz e blues. Nos palcos, seus shows eram recheados de improvisação de um músico que primava pela intensidade.

“Alegria! 70 anos de vida, 60 anos deles grudados na cordeona”, escreveu Borges, num dos últimos posts em suas redes sociais, durante as comemorações de seu aniversário, no final de março. Em Cachoeira do Sul, emprestou seu talento no palco da Vigília do Canto Gaúcho, nos anos 2000, no Ginásio Arrozão.

Nas redes sociais, a comoção toma conta de músicos de todo o Rio Grande do Sul. “Que a paz do senhor esteja contigo”, escreveu Joca Martins. “Os gaúchos hoje choram a partida de um dos maiores músicos do mundo!”, lamentou João Luiz Corrêa. “Quem pôde escutar teu canto, igual a mim vai sentir, a importância de existir, e em cada pouco, ser tanto”, versou o poeta Rogério Villagran.

COMPLICAÇÕES DE SAÚDE

Luiz Carlos Borges sofria com problemas decorrentes de dois aneurismas de aorta, solucionados em cirurgias anteriores, mas sem sucesso na última intervenção realizada, segundo a família. Ele estava internado desde 29 de março no Hospital São Francisco, na Capital. O primeiro aneurisma aconteceu em 2003. O segundo foi em 2019, quando ficou 85 dias internado, sendo 70 em UTI.

As limitações decorrentes desse longo período hospitalar chegaram a impedi-lo de tocar gaita por um tempo, o que exigiu readaptações. O retorno aos palcos aconteceu em julho do ano passado. Mesmo com movimento limitado na mão esquerda, voltou “fazendo bonito”, como ele mesmo desejava que fosse o reencontro com o seu público.

Preliminarmente, sobre os atos fúnebres, o que se sabe até o momento é que o velório está previsto para começar às 8h e se estender até as 18h desta quinta-feira (11), no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.

Luiz Carlos Borges deixa cinco filhos: Luiz Adriano, fruto de um relacionamento da juventude; Naiane, Sibelle e Luizinho, do primeiro casamento com Lenira, já falecida; e Gregório, 11 anos, do casamento atual, com Andressa Soares.

 

NOTA OFICIAL DA SECRETARIA ESTADUAL DA CULTURA (SEDAC/RS) SOBRE O FALECIMENTO DE LUIZ CARLOS BORGES:

A Secretaria de Estado da Cultura recebe com muita tristeza a notícia do falecimento do gigante da música nativista, Luiz Carlos Borges.

O artista deixou sua marca na cultura gaúcha e sua partida é uma perda imensurável. Um dos nomes mais respeitados no tradicionalismo, Borges dedicou quase 60 anos de sua vida à música, estando sempre acompanhado por seu acordeão.

Natural de Santo Ângelo e músico desde muito pequeno, estreou sua carreira solo com “Tropa de Osso”, premiada na 9ª edição da Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, em 1979. Borges participou e venceu diversos festivais, tendo atuado como jurado, idealizador e organizador do Musicanto Sul-Americano de Nativismo na cidade de Santa Rosa.

Deixa 35 discos lançados, 269 composições e 720 gravações registradas. Com um estilo próprio de conduzir e compor com a gaita, tinha como características a improvisação e a intensidade ao tocar o instrumento, mesclando referências das músicas de baile e de festivais com ritmos como o jazz e o blues.

Luiz Carlos Borges tem gravações em parceria com músicos como Yamandu Costa e Mercedes Sosa, com quem gravou “Misionera” (2019), no último álbum que a argentina lançou.

Algumas vezes foi tropeiro e outras foi tropa. Agora, noutras andanças, seguirá vivo em seu legado que já se faz eterno.

OUÇA “TROPA DE OSSO”, UM DOS CLÁSSICOS DE LUIZ CARLOS BORGES: 

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