Preocupada com o movimento de queda de preços, combinado com os elevados custos de produção e com a queda de produtividade na safra atual, a A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) divulgou um alerta aos produtores de soja e milho sobre a importância de redobrar a cautela e os cuidados antes de fecharem negócios nos próximos meses.
A entidade recomenda aos produtores que adotem prudência, que não realizem vendas imediatas nem vendas futuras, não adiantem compras por pressão das empresas e não façam investimentos ou programação para ampliação de área. Em especial, que não façam compras de fertilizantes, cujos preços aumentaram nas últimas três safras e ainda não voltaram ao patamar normal para uma boa relação de troca. Esta última recomendação vale também para sementes e defensivos.
Com os preços atuais abaixo dos R$ 100 por saca, pela primeira vez em três anos, houve, em média, redução de 33% da receita da atividade em comparação com a safra passada. No início do plantio da safra 2023/2024, as contas estavam dando algum lucro ou empatando, em algumas praças, se houvesse uma boa produtividade. Porém, com as perdas em função de fatores climáticos, as margens já estão negativas em muitos estados.
A estimativa de 149,5 milhões de toneladas de soja para a safra 2023/2024 divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que representa uma redução de 3,8% em relação à projeção anterior, continua muito acima dos 135 milhões de toneladas estimados pela Aprosoja Brasil com base nos dados fornecidos por produtores associados das 16 unidades estaduais da Aprosoja.
Na avaliação do presidente da entidade, Antonio Galvan, a diferença entre as estatísticas oficiais e os números levantados pelos próprios produtores se deve ao tipo de metodologia adotada pela Conab e por consultorias privadas.
“Os métodos padrões utilizados, com imagem por satélites ou análises visuais de campo, são eficientes quando há uma certa normalidade nas lavouras. O problema é que a safra atual foi marcada por grandes irregularidades. Por isso, usando esses métodos, a Conab e as consultorias estão alcançando apenas impactos que são mais facilmente notados” – Presidente da Aprosoja, Antonio Galvan
Galvan acrescenta ainda que essas metodologias não conseguem captar problemas em lavouras que estão visualmente boas, mas que ao colher se percebe que o enchimento do grão foi afetado e os grãos apresentam problemas fisiológicos e anomalias. “Para ter uma informação real, somente o que sai da colheitadeira reflete este número mais exato. Os métodos tradicionais não medem o real impacto nas lavouras”, ressalta.
“Risco de desabastecimento”
A Conab projeta aumento no consumo interno de soja, de 55.467 milhões de toneladas para 56.862 milhões de toneladas e prevê queda nas exportações, de 101.862 mi/ton para 98.453 mi/ton. Pelas previsões atuais da Conab, já haverá falta de produtos. Segundo Galvan, com os dados projetados pela Aprosoja Brasil, a quebra de safra é inevitável. Diante do cenário, o dirigente questiona de onde virá a soja para abastecer o consumo interno.
“Vai faltar grãos para alimentar o frango, suíno e o boi. Os animais vão ter de entrar em dieta, pois vai faltar soja e milho no Brasil, tanto para a exportação quanto para o consumo. O risco de desabastecimento é real” – Presidente da Aprosoja Brasil, Antonio Galvan