Preço do arroz recua em março, mas exportações disparam e garantem superávit

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Preço do arroz recua em março, mas exportações disparam e garantem superávit
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11 de abril de 2025 - Arroz em casca: enquanto preços internos despencaram, as exportações avançaram de forma significativa / Foto: Divulgação

O mercado do arroz no Brasil viveu um mês de março marcado por contrastes e consequências diretas para todos os elos da cadeia: do produtor ao consumidor final. Enquanto os preços internos despencaram, as exportações avançaram de forma significativa, promovendo um raro superávit na balança comercial do setor — algo que não acontecia desde dezembro de 2023.

De acordo com levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o preço médio do arroz em casca no Rio Grande do Sul — principal estado produtor — caiu para R$ 82,21 por saca de 50 kg. Isso representa uma retração de 14,09% em relação a fevereiro. A cotação é referente ao Indicador CEPEA/IRGA-RS para o arroz com 58% de grãos inteiros e pagamento à vista.

Produtores de arroz pressionados por margens mais apertadas

Esse recuo nos preços internos aumenta a preocupação dos produtores rurais, que já lidam com custos elevados de produção, como fertilizantes, combustíveis e defensivos agrícolas. Com o arroz nacional sendo comercializado no mercado interno por valores inferiores aos praticados nas exportações (R$ 14,54/saca abaixo) e até mesmo em relação ao arroz importado (R$ 5,81/saca a menos), a rentabilidade do produtor fica ainda mais comprometida.

Para muitos rizicultores, a colheita de uma safra que teve altos custos de implantação pode não se converter em lucro, principalmente nas regiões onde o clima dificultou a produtividade. A queda acentuada nos preços também desestimula o investimento em novas lavouras e pode comprometer o planejamento da próxima safra.

Consumidores ainda não sentem alívio nos preços

Embora o arroz esteja mais barato para o atacado, esse movimento ainda não se refletiu de forma imediata nas gôndolas dos supermercados. O repasse ao consumidor costuma ser mais lento e depende de fatores como estoques dos varejistas, contratos de fornecimento e custos logísticos. Além disso, a instabilidade no câmbio — com o dólar girando em torno de R$ 5,74 — ainda pressiona os preços de produtos importados, o que pode manter o arroz no varejo em patamar elevado, mesmo com a retração no campo.

Apesar do cenário interno desfavorável ao produtor, o mercado externo ofereceu algum alívio. As exportações de arroz dispararam 171% em março, totalizando 134,67 mil toneladas, segundo dados da Secex analisados pelo Cepea. O grão brasileiro foi vendido ao exterior a um preço médio de US$ 336,96 por tonelada, ou R$ 96,75/saca FOB.

No entanto, mesmo esse desempenho expressivo das exportações veio acompanhado de um revés: o preço pago pelo arroz brasileiro no mercado internacional caiu 23,07% em relação a fevereiro, evidenciando uma tendência global de desvalorização do cereal.

Importações recuam e ajudam a equilibrar o mercado

Por outro lado, as importações caíram 25,29% em março, totalizando 105,54 mil toneladas, com preço médio de R$ 88,02 por saca. A redução nas compras externas ajudou a balança comercial a fechar o mês com um superávit de 29,13 mil toneladas.

Esse saldo positivo alivia momentaneamente a pressão sobre o mercado interno e revela uma oportunidade para o Brasil retomar o protagonismo nas exportações, mesmo que com margens mais apertadas.

Perspectivas

O comportamento do câmbio, o avanço da colheita e a demanda interna serão fatores-chave para definir os rumos do setor nos próximos meses. Enquanto produtores tentam administrar os impactos da desvalorização e as incertezas climáticas, consumidores aguardam um eventual alívio nos preços. Já o setor exportador observa com cautela os movimentos do mercado internacional e as flutuações cambiais que podem abrir ou fechar janelas de competitividade.