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Plantio do arroz trava por conta da chuvarada

Com grande parte das áreas submersas, plantio do arroz está praticamente paralisado em Cachoeira do Sul por conta dos altos acumulados de chuvas / Fotos: Carlos Wachholz/UCR/Divulgação

Com grande parte das áreas submersas, plantio do arroz está praticamente paralisado em Cachoeira do Sul por conta dos altos acumulados de chuvas / Fotos: Carlos Wachholz/UCR/Divulgação

O setor produtivo de Cachoeira do Sul sente duramente os impactos da chuvarada dos últimos dias nas lavouras de arroz. As várzeas ao longo de toda a costa do Rio Jacuí estão alagadas, o que causa apreensão nos produtores, que se veem de mãos amarradas, impossibilitados de ingressar com maquinário nos quadros de plantio e ainda amargando perdas em áreas já semeadas agora submersas, assistindo passivamente investimentos já empregados nas áreas de cultivo escorrerem literalmente água abaixo.

É o caso do produtor rural e atual presidente da União Central de Rizicultores (UCR), Carlos Wachholz. Segundo ele, as dificuldades começaram já antes do plantio, em conseguir sementes certificadas para dar início ao plantio nos 250 hectares de lavoura de arroz na região de Pertile e Faxinal da Guardinha, na metade norte de Cachoeira do Sul.

“Já foi um sacrifício para conseguir as sementes. De 250 hectares, havia conseguido semear 50, que agora se perderam com as últimas chuvas”, lamenta o dirigente arrozeiro. No saldo de perdas, estão as próprias sementes, o tratamento delas, os herbicidas empregados, horas-avião para aplicação dos produtos nas áreas plantadas, entre outros. “A lavoura de arroz exige operações de alto custo, e de uns dias pra cá já estamos na segunda enchente”, preocupa-se Wachholz.

E os motivos para tanta apreensão não param por aí. Os institutos de meteorologia preveem ainda mais chuva para as próximas semanas e durante todo o mês de novembro, com possibilidade de novas enchentes.

Uma das tantas preocupações, segundo presidente da UCR, é com a falta de comunicação entre as administrações de barragens e o setor produtivo gaúcho. No caso do Rio Jacuí, a preocupação é com Passo Real, trecho do Rio Jacuí no município de Salto do Jacuí.

“Deveria haver um maior controle, um diálogo aberto entre a administração da barragem e nós, produtores. A lavoura de arroz é muito cara, hoje o hectare tem um custo de R$ 8 mil a R$ 9 mil”, desabafa o presidente da UCR, Carlos Wachholz.

Além dos prejuízos financeiros com as áreas plantadas que agora estão debaixo d’água, há também muito trabalho perdido entre uma enchente e outra. Quando as águas da enchente de setembro baixaram, a maioria dos produtores já havia refeito canais e estruturas de irrigação dos quadros de plantio, como taipas, estradas internas e cercas derrubadas em pontos de forte correnteza.

A estimativa da UCR é de que, em toda a costa do Rio Jacuí, será impossível conseguir entrar com maquinário até meados de novembro, data limite para plantio com alcance dos melhores resultados em produtividade. Isso indica, por si só, que não deverão ser poucas as perdas em rendimento por hectare nas lavouras de arroz na safra 2023/2024.

Até o momento, não houve maiores movimentos por parte do setor arrozeiro em busca de medidas de socorro junto ao governo. “Ainda não mexemos nisso porque se esperava que as coisas se normalizassem. Só que isso não aconteceu, e pelo jeito o cenário só vai piorar”, lamenta o presidente da UCR, Carlos Wachholz. “O crédito já está contraído, seja junto aos bancos ou nas empresas, na iniciativa privada. E o pior é que as seguradoras dificilmente indenizam por enchentes. Se o plantio se estender até dezembro, teremos perdas de 50% na produtividade”, projeta Wachholz.

PLANTIO DO ARROZ ESTÁ ATRASADO EM MAIS DE 40% EM CACHOEIRA DO SUL

Dados do 4º Núcleo de Assistência Técnica do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) indicam que o plantio em Cachoeira do Sul está atrasado em mais de 40% da área de intenção de plantio, que na safra 2023/2024 totaliza 23.354 hectares. Em 19 de outubro do ano passado, os arrozeiros de Cachoeira do Sul já haviam semeado 50% de toda a área de cultivo do município. Exatamente um ano depois, nessa sexta-feira, Cachoeira está apenas com 8% da área plantada.

De acordo com o coordenador regional do Irga na Depressão Central do RS, engenheiro agrônomo Pedro Hamann, a maior parte das áreas hoje plantadas é de arroz pré-germinado, que por ser naturalmente cultivado em áreas submersas não tem tanta dependência do clima.

No entanto, a situação de atraso pela qual passa Cachoeira do Sul não deixa de preocupar a área técnica do Irga. “Estamos bem atrasados na semeadura. E não temos janelas de dias mais secos para que o plantio avance”, analisa Hamann.

Segundo o Irga, em setembro os acumulados de chuva em Cachoeira do Sul totalizaram 615 milímetros, aproximadamente cinco vezes acima da média para todo o mês. Em outubro, até o momento, os volumes de precipitações já passam de 200 milímetros.

A partir de domingo (22) e o decorrer da próxima semana, há previsão de mais pancadas de chuva, mas em menor volume. Mesmo assim, é um indicativo para um cenário de poucas janelas de tempo seco que possa possibilitar o avanço do plantio da lavoura de arroz em Cachoeira do Sul.

NO ESTADO, CENÁRIO TAMBÉM É DE ATRASO NO PLANTIO DO ARROZ

Os produtores gaúchos já semearam 287.274 hectares da safra de arroz 2023/2024, conforme mostra o primeiro levantamento do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Isso representa 31,83% da área total de 902.424 ha estimada pelo Irga.

Os dados são da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater), a partir de informações apuradas pelas equipes dos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nates) da autarquia.

O atraso ocorreu devido às chuvas, principalmente em setembro, o que impossibilitou que a maioria dos produtores pudessem realizar a semeadura em suas lavouras. Em setembro, a semeadura ficou inviabilizada até mesmo para o pré-germinado.

No início de outubro, algumas áreas começaram a ser semeadas em cultivos em linha, com poucas janelas para a semeadura e ainda com muitas áreas a serem preparadas e dessecadas para depois serem plantadas. Cabe salientar que os produtores acreditaram na previsão de El Nino, intensificando a drenagem nas áreas a serem semeadas, retirando o adubo da linha permitindo maior agilidade na semeadura e trabalhando em turno de 24 horas para aproveitar ao máximo as janelas proporcionadas pelos dias sem chuva.

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