A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Luiz Gonzaga, deflagrou, nesta quarta-feira (12), a Operação Trapaça no Rio Grande do Sul, em São Paulo e em Santa Catarina contra grupo criminoso que lesou milhares de vítimas com um sistema de falsos investimentos. Ao todo, 150 policiais civis executam 11 mandados de prisão temporária, 21 mandados de busca e apreensão residencial, 19 mandados de busca e apreensão de veículos, bloqueio em contas bancárias de 11 pessoas físicas e 3 pessoas jurídicas, além do bloqueio de imóveis de 11 pessoas físicas e 3 pessoas jurídicas. Até às 8h, pelo menos oito pessoas haviam sido presas.
Em Santa Catarina, local onde a maior parte do grupo criminoso reside, a Draco cumpre mandados nas cidades de Tijucas, Porto Belo, Balneário Camboriú, São Lourenço do Oeste e Itapema. No RS os mandados concentram-se na cidade de Santo Antônio das Missões, onde o grupo criminoso centralizou as suas atividades por alguns meses, lesando centenas de pessoas. Há mandados ainda sendo executados em três endereços na cidade de São Paulo, onde um dos integrantes do grupo reside.
Segundo o Delegado Heleno dos Santos, titular da Draco de São Luiz Gonzaga, e o Delegado Gerson de Assis, titular do Delegado de Polícia de Santo Antônio das Missões, várias vítimas procuraram a Polícia Civil reclamando de uma empresa que prometia investimentos no mercado de ações com a promessa de altos ganhos. As vítimas foram atraídas a integrarem grupos virtuais de “investimentos financeiros” muito lucrativos, geridos a partir de uma plataforma digital de investimentos on-line, denominada “Genesis.vet” (Genesis Finance Limited), nome “copiado” em parte de uma empresa do ramo financeiro denominada “Gênesis Investimentos”, que não tem relação nenhuma com a investigação.
Tão logo foi informada dos crimes, a Polícia Civil iniciou as apurações, identificando em poucos dias 11 dos principais integrantes do grupo criminoso. Além da identificação dos criminosos, as investigações também se concentraram na identificação do patrimônio obtido pelos golpistas com o dinheiro desviado das vítimas e o bloqueio das contas bancárias e imóveis adquiridos pelos criminosos. A estimativa é que o grupo criminoso tenha lesado mais de 4 mil vítimas nos três estados, causando prejuízos que superam a cifra dos R$ 20 milhões.
O golpe começava a partir do momento em que a vítima era convidada a fazer o upload do aplicativo “Genesis.vet” para o seu smartphone, cadastrando em seguida os seus dados pessoais, anexando diversos documentos pessoais. Na sequência, a pessoa recebia um link para aderir a grupos de Whatsapp, onde recebia orientações de como investir, havendo especial “pressão” para investirem rapidamente.
De acordo com os delegados, os golpistas mesclavam o uso de aplicativos legítimos com o uso de aplicativos falsos. Havia o uso regular de aplicativos para a conversão de moeda estrangeira, por exemplo, culminando com a transferência de quantias variadas em dinheiro para os criminosos, via pix, TED ou boletos, todos gerados a partir de uma plataforma também regular, tudo de modo a parecer que as transações eram feitas sempre a partir de sites e aplicativos seguros.
O golpe era consumado quando as vítimas usavam os códigos pix e boletos acreditando que estavam realmente fazendo investimentos, quando, na verdade, estavam transferindo os valores diretamente para as contas dos criminosos ou das empresas por eles criadas. Há indicativos de que grande parte do dinheiro era depositado em contas localizadas no exterior.
Golpistas se passavam por corretores e usavam linguajar técnico
Apesar de não terem nenhuma formação na área financeira, os golpistas geralmente se utilizavam de linguagem técnica normalmente usada por corretores de investimentos e consultores financeiros, sempre aparecendo em vídeos e imagens postadas nos grupos de Whatsapp como figuras bem-sucedidas, enaltecendo os retornos financeiros excepcionais e rápidos da plataforma “Genesis”. Algumas vezes, eles exibiam, ainda, veículos e bens variados supostamente adquiridos com os altos e falsos retornos – o dinheiro usado para a compra dos bens pelos golpistas, na verdade, era o dinheiro das próprias vítimas.
Nos grupos de Whatsapp, os golpistas usavam de táticas persuasivas, com promessas de lucros garantidos, oportunidades exclusivas e supostas informações privilegiadas de oportunidades altamente rentáveis. As oportunidades para investimentos geralmente “apareciam do nada” e o prazo para fazer as transferências sempre era curto.
Ao que tudo indica, os criminosos criaram pelo menos três empresas de fachada para o desvio do dinheiro obtido das vítimas. Os golpistas ainda criavam sites falsos, geralmente em provedores do exterior, que parecem legítimos, para onde as vítimas eram atraídas com promessas de altos ganhos.
Os golpistas também criaram uma pessoa fictícia (Kelly), a quem se referiam no grupo de Whatsapp como sendo a chefe da empresa “Genesis.vet”. Em mensagens e áudios postados nos grupos de Whasapp, os golpistas investigados agradeciam a Kelly pelos altos retornos obtidos e bens adquiridos.
Vítimas devem procurar a Polícia e registrar ocorrência
Os Delegados Heleno e Gerson perceberam que a grande parte das vítimas sente medo ou até vergonha de procurar a Polícia Civil. Com a prisão e publicidade do caso policial, acreditam os Delegados que as vítimas se sentirão mais confiantes e a tendência é de que os registros policiais aumentem.
Cerca de pouco mais de 50 vítimas já efetivaram registros de ocorrência policial nos estados do RS, SC e SP, o que significa que a maioria das pessoas lesadas ainda não efetivou a devida e necessária comunicação policial. Salienta-se que o registro de ocorrência policial é um valioso instrumento de prova para a devida responsabilização criminal dos golpistas, possibilitando, ainda, o ressarcimento mais rápido e efetivo das vítimas.
A Operação Trapaça teve a participação de policiais da Delegacia de Polícia de Santo Antônio das Missões, Draco de Bagé, Draco de Passo Fundo, Draco de Santiago, Delegacia de Polícia de Três Passose de agentes de inteligência do Departamento de Polícia do interior (DPI). Em Santa Catarina, a ação é apoiada pela Delegacia Regional da Polícia Civil de Balneário Camboriú e em São Paulo pelo Deic da Polícia Civil paulista.