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O Armazém do Patrício

No Bairro Barcelos em Cachoeira do Sul na década de 70, perto da Igreja Santa Terezinha, existia um armazém que tinha todo o tipo de mercadoria. O local chamava atenção porque as prateleiras sempre estavam cheias e era onde as famílias realizavam suas compras do dia a dia.

O dono era um senhor sisudo chamado de Patrício. Nunca soube se Patrício era seu nome e se era um descendente do Egito, da Turquia ou do Líbano ou de outro país. O Armazém era sua casa, pois morava numas peças nos fundos onde havia um fogão, armários e utensílios.

A gurizada gostava do Patrício. Todos estudavam na Escola Estadual Dr. Davi Barcelos e na saída iam direto comprar balas, chicletes, pirulito, picolé de framboesa, além de uma gasosa, o refrigerante mais pedido assim como o Minuano Limão e a Cirilinha.

Aos finais de semana, o Armazém era o ponto de encontro dos integrantes do Tulipa, um time de futebol formado a partir de um grupo de jovens da Capela Santa Terezinha. Numa vez, depois de uma vitória de 4 a 0 sobre o EC 14 de julho, em jogo realizado no campo chamado de Coxilha do Fogo, a comemoração foi no Armazém do Patrício. A festa foi até tarde e Patrício de tão cansado que ficou foi flagrado dormindo encostado no balcão.

Patrício preparava os picolés de framboesa em cima do balcão. Ali, sob os olhares dos fregueses, botava num pote a framboesa com água e jogava tudo em formas de alumínio, que eram levadas para o congelador de uma enorme geladeira de várias portas.

O Armazém do Patrício era o preferido, porque disponibiliza o chamado caderninho onde tudo ficava anotado para pagamento na semana, na quinzena ou no final do mês. Pão d’água de meio quilo enrolado num papel pardo, bolachas, biscoitos e até pão sovado havia no Armazém, afora feijão, arroz, farinha, acondicionados em uma tulha, um espécie de balcão. Na tulha era guardada grande parte dos produtos alimentícios, que na época eram vendidos a granel.

Num canto havia duas mesas. Era o local preferido de quem tomava uma cerveja, uma cachacinha, onde rolava um bom papo, mas tudo na maior tranquilidade. O balcão era de um lado ao outro do Armazém. Em cima dele sempre ficava o gato do Patrício. Manso, tranquilo, mas que de vez em quando pulava de um lado para outro andava até em meio às prateleiras. Aí o Patrício corria o gato, afinal não era bom não tê-lo por perto no atendimento aos clientes.

Por perto até havia outros armazéns, mas o do Patrício era especial. Não lembro quando foram encerradas as atividades do Armazém. O interessante é que no mesmo local, que tem até hoje a mesma fachada, houve tentativa de um abrir outros negócios. Não sei por que, mas não deu certo.

Armazéns, alguns chamados de bares, ainda existem no Bairro Barcelos e em outros bairros da cidade. Muitos se tornaram mercados. São úteis, ficam perto das moradias, praticam preços acessíveis e muitos mantêm o caderninho. Mas o Armazém do Patrício deixou um legado de respeito, bom atendimento e, por isto, está na história do Bairro Barcelos e na memória da comunidade.

 

 

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