JUSTIÇA – com a letra bem maiúscula – é para promover equilíbrio razoável e imparcial, não para vingança.
No final do Século XIX, o capitão francês Alfred Dreyfus foi acusado, condenado e preso injustamente por traição à pátria, porque teria comunicado segredos militares aos alemães.
Para provar sua inocência, a família convenceu o chefe da contraespionagem a seguir investigando, levando ao verdadeiro traidor.
O caso ganhou notoriedade quando o famoso escritor Émile Zola publicou carta na primeira página do jornal intitulada “Eu acuso”.
Nominou todos os envolvidos:
– do diabólico artífice do erro judiciário aos cúmplices;
– de quem abafou as provas da inocência aos inatacáveis corporativistas;
– daquele que coordenou a sindicância com a mais monstruosa parcialidade a quem redigiu relatórios mentirosos e fraudulentos;
– de quem fez abominável campanha para distrair a opinião pública e encobrir seus erros a quem inocentou sabidamente o verdadeiro culpado.
As consequências foram fulminantes, abalando profundamente a confiança dos franceses nas instituições jurídicas.
A história parece se repetir por aqui com outro capitão que está sendo injustamente acusado de traição à pátria ao mancomunar golpe contra o Estado para supostamente permanecer no poder.
O processo se apresenta eivado de provas frágeis, com direito a delações que se contradizem até a versão onde o delator fala o que desejam os acusadores. Como disse um dos julgadores, tantas delações representam nenhuma delação.
A condenação parece estar previamente acertada, restando ao acusado cumprir sua pena na prisão ou se exilar para tentar provar sua inocência em liberdade.
Se ficar a prisão lhe pega, se correr o eleitorado lhe come.
Sem entrar no mérito dos fatos e da própria atuação jurisdicional, o que está por trás é a tentativa espúria de excluir da corrida eleitoral um fortíssimo candidato.
Não resta dúvida que prendendo ou forçando o exílio, com certeza vão conseguir o intento.
Nós mesmos, quantas vezes não sofremos injustiças em nossas vidas?
O antigo filósofo Nicolau Maquiavel vaticinou: “Dê o poder ao homem e descobrirá quem ele realmente é”.
Na família, os pais que privilegiam um filho em detrimento do outro prejudicam muito mais o protegido.
Na escola, professores que perseguem alunos que não se alinham a sua ideologia estão os ensinando a serem mais fortes.
No ambiente de trabalho, o chefe que decide por simpatia ou antipatia e não por mérito prejudica o sucesso da empresa.
Em todas essas relações sociais, aqueles que sofrem injustiças superam as provas da vida e se fortalecem para o futuro.
Da mesma forma, os responsáveis pelas injustiças receberão conforme seu proceder, muitas das vezes jogados ao ostracismo e desprezo alheio, com abandonos parentais, isolamento nas bolhas ideológicas e desemprego.
Tentar impedir o progresso da sociedade se assemelha a pequena pedra que se colocada debaixo da roda não a impede de avançar.
Tal diamante bruto a ser lapidado, ao honesto é preferível sofrer injustiças a prejudicar os outros.
*Sociólogo, Doutor em História e Professor Titular da Universidade Federal do Pampa