JUROS DO AMOR – por Jeferson Selbach

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JUROS DO AMOR – por Jeferson Selbach
REFLEXÕES SOCIOLÓGICAS
4 de fevereiro de 2025 - Jeferson Selbach / Crédito: Reprodução

por Jeferson Francisco Selbach*

 

 

Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou na semana passada a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano. Foi a estreia na presidência do Banco Central de Gabriel Galípolo, indicado por Lula, razão pela qual, mesmo com o aumento dos juros, os governistas ficaram em silêncio sepulcral.

A taxa Selic é referência para os juros básicos da economia brasileira e incide diretamente no custo de empréstimos, financiamentos, cartões de crédito, poupança e, principalmente, no Tesouro Direto, que são os títulos que o governo vende para custear a dívida pública. Desde o início do Plano Real em 1994, a Selic vem apontando a expectativa do mercado financeiro com a capacidade do Governo Federal em honrar o pagamento dos juros e dos títulos da dívida pública.

Durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1995, a Selic esteve em média 23% ao ano, passando pelo Banco Central Pérsio Arida, Gustavo Loyola, Gustavo Franco e Armínio Fraga. Foi um período marcado pela estabilidade da inflação e por duras medidas de ajuste das contas públicas, com o necessário desfazimento de empresas estatais através de programas de privatização.

Lula assumiu em 2003 na fase da bonança, com o aumento da arrecadação devido ao comércio internacional com a China através das chamadas commodities. O fluxo positivo da balança comercial destes produtos de origem agropecuária ou de extração mineral, aliado à estabilização da inflação, permitiu a melhora significativa na economia interna do Brasil. A taxa Selic foi baixando até estabilizar em torno de 10%. Mas o saldo positivo no comércio exterior não foi utilizado para baixar a dívida pública, que ao contrário só aumentou.

Lula elaborou seu New Deal semelhante ao de Franklin Roosevelt nos Estados Unidos no início dos anos 30. Através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) investiu em obras muitas vezes faraônicas por todo Brasil e instituiu programas de auxílio como bolsa-família de maneira perdulária, visando garantir votos eleição após eleição. Junto cresceu o número de aposentados e de servidores públicos e vários outros pagamentos obrigatórios que foram deteriorando de maneira profunda as contas públicas.

A bomba-relógio ficou armada para a sucessora Dilma Rousseff, que assumiu em 2011 e colocou Alexandre Tombini no Banco Central, com a Selic aumentando paulatinamente até 14% em 2016, quando estourou a bolha dos investimentos públicos e dos gastos governamentais. As contas públicas em frangalhos impactaram na economia, trazendo de volta o fantasma da inflação que o Real tinha deixado lá nos anos 80-90.

O descontentamento da população empobrecida, somado à contabilidade criativa do governo de pedalar pagamentos, resultou no impeachment. O vice Michel Temer assumiu em 2016 com a missão de pôr a casa em ordem, promovendo o controle dos gastos públicos, como fez com a reforma da aposentadoria. Com Ilan Goldfajn a Selic caiu pela metade, dos 14% para 6,40%.

Jair Bolsonaro seguiu na mesma linha, com Paulo Guedes no Ministério da Economia e Roberto Campos Neto no Banco Central. A taxa Selic chegou a 1,9% no final de 2020. A pandemia cobrou a fatura com o aumento dos gastos públicos, como o bolsa-família, que subiu para R$ 600 e se transformou praticamente num salário mensal.

Lula começou o terceiro mandato com a Selic em 13,65%, demonstrando a expectativa que se confirmou, de um governo pautado pelo descontrole das contas públicas. A solução populista foi aumentar os impostos, de todas as maneiras possíveis e imagináveis, o que rendeu o apelido de Taxxad ao czar da economia.

A arrecadação precisará ser cada vez maior para pagar os juros dos títulos da dívida pública, que só aumentam devido aos gastos públicos incontroláveis. Governo e cidadãos que gastam mais do que arrecadam vão seguir endividados.

Mas não se preocupe, são os juros do governo do amor!

 

*Sociólogo, Doutor em História e Professor Titular da Universidade Federal do Pampa