A suspeita da variante Delta – originária da Índia – do novo coronavírus em dois pacientes no Rio Grande do Sul levou o governo do Estado a decidir pela antecipação em duas semanas na aplicação da segunda dose das vacinas Pfizer e AstraZeneca. Pesou também na decisão a quantidade de doses de vacinas Astrazeneca reservadas para a segunda dose na Central Estadual de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (Ceadi).
A decisão conjunta foi tomada pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) e pelo Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do RS (Cosems/RS). O intervalo entre a primeira e a segunda dose, que até então era de 12 semanas, foi reduzido para 10 semanas.
14 DIAS: DE OLHO NA CARTEIRA DE VACINAÇÃO
O intervalo vale tanto para quem ainda não recebeu a primeira dose quanto para quem já recebeu. Nesse último caso, o indivíduo deve subtrair 14 dias na data prevista para a segunda dose na carteirinha de vacinação. Por exemplo, quem se vacinou no dia 2 de julho ficou com previsão de receber a segunda dose no dia 24 de setembro. Com a antecipação de 14 dias, a nova data prevista para segunda dose fica para 10 de setembro.
O objetivo é garantir melhor resposta imune para essa nova variante, uma vez que apenas uma dose é pouco efetiva. “Para essa cepa, é ainda mais necessário ter o esquema vacinal completo”, explica a diretora do Departamento de Atenção Primária e Políticas de Saúde, Ana Costa. “Temos nesta semana um novo cenário na pandemia em território gaúcho, com duas suspeitas dessa variante, que se mostrou mais agressiva. Diminuímos o intervalo dentro da margem de segurança da efetividade da vacina, e acelerar a imunização completa da população com a dose 2”, completou a diretora. Duas doses dos imunizantes da Pfizer ou da AstraZeneca geram resposta imune contra a variante em 95%, mostrou um estudo publicado pela revista científica Nature.
A SES tem 687.105 doses da AstraZeneca reservadas na Ceadi para serem distribuídas às Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) e aos municípios nos próximos dias. Quanto a Pfizer, o adiantamento da aplicação não trará impacto neste momento, uma vez que não há remessas com prazo para dose 2 até o início de agosto.
“É muito importante deixar claro que há um fato novo, que muda o cenário da vacinação no Estado. Precisamos evitar ao máximo a contaminação por uma nova variante, agindo em todas as frentes para evitarmos mais internações e mortes”, explicou o presidente do Cosems/RS, Maicon Lemos, que participou presencialmente da reunião na Secretaria da Saúde. “Esta é a melhor conduta dentro do cenário que temos hoje. O adiantamento da dose 2 se mostrou efetivo em diversos países e garantimos a imunização completa em menor tempo”, acrescentou.
Todas as remessas daqui para frente que o Estado receber dessas duas fabricantes utilizarão o intervalo de 10 semanas. De acordo com a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Ranieri, este intervalo diminui individualmente a proteção contra a doença, mas é efetiva para interromper uma possível circulação da variante delta. As próximas remessas que chegarem ao Estado deverão ficar reservadas para garantir o tempo de aplicação da segunda dose dentro do prazo.
A secretária da Saúde, Arita Bergmann, ressaltou que “não devemos usar doses reservadas para dose 2 (D2) para primeira aplicação (D1) e nem vice-versa. É um adiantamento de duas semanas na D2, mas todo o planejamento restante segue o mesmo”.
SAIBA MAIS:
Lactantes
Também foi definida a priorização da vacinação de lactantes, mães que estejam amamentando bebês com até 11 meses e 29 dias. Essa estratégia visa a proteção dos bebês ao serem amamentados por mães vacinadas. As mães nesta situação poderão adiantar a aplicação da vacina, independentemente da faixa-etária. É importante destacar que não serão distribuídas doses extras para esse grupo, sendo que a organização e o chamamento dessa população ficará a cargo dos municípios.
Crianças e adolescentes
A terceira pauta aprovada pelo Estado e por municípios é a ampliação das vacinação de crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos, 11 meses e 29 dias que apresentem comorbidades com o imunizante da Pfizer. Esta vacina tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a faixa etária. “Todas as pessoas com essa idade que vieram a óbito no Rio Grande do Sul tinham alguma comorbidade”, explicou a diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Cynthia Molina Bastos.
Esse grupo começará a ser vacinado a partir da próxima distribuição, em que o Estado enviará doses específicas para a faixa etária. O Cevs publicará nota técnica especificando as comorbidades que serão abrangidas.
O que os fabricantes falam sobre essa mudança?
Em bula, a vacina Oxford/AstraZeneca tem indicação de administração da segunda dose em um período entre quatro e 12 semanas após a primeira injeção.
No caso da Pfizer, a bula recomenda 21 dias de espaço entre doses, porém, o Ministério da Saúde adotou, em 3 de maio o prazo de 12 semanas. Um estudo feito do Reino Unido mostrou que a resposta dos anticorpos foi maior dentro desse prazo.
A antecipação da segunda dose vale para quem já se vacinou ou só para quem tomará a partir de agora?
Segundo a SES, a orientação vale para todos os públicos, ou seja, para aqueles que já fizeram a primeira dose e para quem ainda fará. A Secretaria ressalta, no entanto, que a disponibilidade futura de doses orientará
Preciso de uma nova carteira de vacinação para receber a segunda dose antecipada ou vale a que já tenho com a data antiga?
Não há necessidade de nova carteira de vacinação, segundo a SES. A organização da vacinação, no entanto, cabe aos municípios, que podem ter regras próprias de controle.
Há estoque para a antecipação da segunda dose?
A Secretaria Estadual da Saúde garante ter estoque de AstraZeneca e que enviará as doses aos municípios já nos próximos dias.
Qual a previsão de chegada de novos lotes de vacinas?
Por enquanto, não há previsão de novo envio por parte do Ministério da Saúde.