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“Insista, periga ter”

A Casa Augusto Wilhelm, em Cachoeira do Sul, desde 1921 – quando foi inaugurada – até a década de 70 no encerramento de suas atividades, se constituiu no mais importante estabelecimento comercial da cidade. Era uma tranquilidade se dirigir à Augusto Wilhelm, localizada na Rua 7 de Setembro, e se deparar com os mais variados setores como bazar, ferragens, tintas, presentes, perfumaria, ferramentas, armas, parafusos, artigos de pesca, cimento, material escolar, vestuário, enfim, tinha de tudo, até distribuição de gás de cozinha.

Possuía uma equipe de funcionários treinados e sempre dispostos a atender os clientes com o máximo de conhecimento e dedicação. No entanto, neste contexto, a Casa tinha uma outra atração e, por sinal, marcante para a época e que é lembrada até os dias de hoje. Placas com os dizeres “Insista, periga ter” colocavam frente a frente em argumentações os balconistas – assim eram chamados os vendedores – e os fregueses. 

Era inadmissível um cliente chegar na Augusto Wilhelm e não encontrar o que procurava. Quando um balconista informava que uma determinada mercadoria estava em falta, recebia o olhar desafiador dos fregueses e o contraponto de que era preciso insistir, claro, alertado pelo slogan da Casa. Ora, isto provocava um certo constrangimento e correria para as chefias diante do Seu Ervino Wilhelm, o dono, que monitorava tudo com seu olhar observador e um silêncio que assustava os funcionários. 

O “Insista, periga ter” tinha sua consistência, porque a loja possuía um grande estoque de mercadorias e até um paiol para armazenar as armas que vendia como revólveres, espingardas e munições. Nos fundos do prédio, no acesso pela Rua Marechal Floriano ficava em um amplo espaço o estoque de tintas da marca Renner depois também a marca Suvinil. Era um sucesso. Também ali era estocado outros materiais como hidráulico (canos de pvc e de ferro, além de  acessórios) e também gás de cozinha.

No atendimento ao público, nenhum balconista podia ficar parado. Cada um tinha um bloco para tirar nota e o freguês após a compra tinha que se dirigir ao caixa. Se alguém não estava atrás do balcão era chamado imediatamente. Como isto acontecia? Através de uma campainha. Quem chamava era uma senhora que era a caixa e sabia tudo da loja. O chamado era por meio de toques numa campainha. Cada funcionário tinha uma espécie de código.  Era uma loucura o barulho da tal campainha.  

O movimento da loja era constante. Abria cedo, não fechava ao meio-dia e na época, ao contrário de outros estabelecimentos, também abria suas portas aos sábados à tarde. Qualquer mercadoria que se pensasse tinha na Casa Augusto Wilhelm. Do simples parafuso ao sofá, geladeira, fogão, eletrodomésticos, enfim, tudo. E aí o “Insista, periga ter” era sempre lembrado. Um dia foi tomada a decisão de que a Casa Augusto Wilhelm tinha que ter um time de futebol de salão (o futsal de hoje) com o objetivo de entrosar cada vez o estabelecimento com a comunidade.

A equipe por volta de 1977/78 foi inscrita no Campeonato do Sesc. Os jogos aconteciam no ginásio da AABB, na Rua General Portinho e reunia times de quase todos os estabelecimentos comerciários da cidade. Não deu outra. O time da Augusto Wilhelm chegou ao título de campeão do Sesc e ainda teve o goleador da competição. Foi uma festa.

O prédio da Casa Augusto Wilhelm, na Rua Sete de Setembro, mantém sua imponência. Faz parte da história da cidade e está na lembrança de muitos cachoeirenses. Sua fachada foi revitalizada no sentido de manter viva a imagem da Casa que era de uma tradicional família da cidade.

Hoje, depois de muitos anos, caminhar pela Rua 7 e olhar o prédio logo vem na memória o slogan “Insista, periga ter”. Ele se mantém vivo e pode, de certa forma, representar muito para todos nós. Afinal, vale a insistência.

 

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