Gastança sem freio de dinheiro público

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Gastança sem freio de dinheiro público
ENTRELINHAS
31 de outubro de 2023 - Gastança de dinheiro público / Crédito: Divulgação

Numa cidade como Cachoeira do Sul, enxovalhada por denúncias de corrupção, prefeito afastado e governo acéfalo, uma prática tem passado praticamente batida pelos órgãos de controle, pelo menos até onde se sabe: a gastança exacerbada em publicidade institucional pela Prefeitura em favorecimento ao veículo de comunicação tido como o mais tradicional e longevo da cidade.

Nunca se gastou tanto em tão curtos espaços de tempo. A empresa em questão, o Jornal do Povo, vem abarcando cifras significativas com campanhas publicitárias de curta duração, porém com preços salgados às custas do contribuinte. Enquanto isso, faltam medicamentos e há meses não há fraldas geriátricas na farmácia municipal do SUS, não há insumos para testes de glicose e sequer mínimas condições de transporte para crianças com autismo para atendimento especializado na vizinha Caçapava do Sul.

Num rápido levantamento descompromissado com a realidade global dos números do começo do ano para cá, apenas atentando para alguns recortes dos gastos que mais saltam aos olhos, já é possível ter uma ideia do tamanho do abuso com o dinheiro público.

Na edição do final de semana de 4 e 5 de março, por exemplo, o Jornal do Povo arrecadou R$ 11.254,68 em diferentes campanhas sazonais. Três meses depois, no fim de semana de 10 e 11 de junho, foram abocanhados R$ 31.777,92 num caderno especial dedicado a uma campanha chamada “Cachoeira Tem Pressa”, que a Cachoeira do Sul real, que todos os dias acorda cedo em busca do pão, trabalhando de dia para comer à noite, sabe muito bem, de “cor e salteado”, de quem de fato é a pressa nessa busca desenfreada pelo grosso do dinheiro público.

No mesmo mês, 20 dias depois, foram gastos pela Prefeitura mais R$ 3.977,48 em peças publicitárias comemorativas aos 94 anos da referida empresa. Também em 2023 foram adquiridos pela Prefeitura de Cachoeira do Sul, pelo valor de R$ 38 mil, 600 exemplares de anuários produzidos pelo Jornal do Povo (Contrato 065/2023 – Diário Oficial Eletrônico do Município de Cachoeira do Sul). Um contribuinte fotografou e publicou nas redes sociais a imagem de parte desses anuários servindo de apoio a um monitor de computador na própria Prefeitura.

Embora legítimo e previsto em lei, o gasto em publicidade exige seriedade e responsabilidade. Esses recortes, por si só, demonstram que condutas, no mínimo, questionáveis foram adotadas para operacionalizar esses contratos. Essas negociações deveriam, pelo menos, passar pelo crivo de órgãos como Ministério Público e Tribunal de Contas, tidos pela sociedade gaúcha como arautos da moralidade e da Justiça.

Cachoeira tem pressa? É claro que tem! Mas a pressa de Cachoeira é por uma limpeza ética, moral e institucional, a começar por práticas adotadas por segmentos da sociedade que se travestem como entes acima do bem e do mal, mas que a bem da verdade deveriam cuidar melhor do próprio telhado de vidro. Vai que uma hora inventa de cair uma pedra…