Dano estrutural da Ponte do Fandango ficou bastante evidente e aparentemente aumentou com o passar dos dias, mesmo com interrupção do trânsito de veículos / Fotos: Divulgação
As fragilidades que levaram à interdição total da Ponte do Fandango desde o último dia 29 acenderam um sinal de alerta para o risco de ruptura e possível queda de pelo menos parte da estrutura, encravada há 60 anos no trecho da BR-153 que passa por Cachoeira do Sul, sobre o Rio Jacuí. Mesmo depois que o trânsito de veículos passou a ser proibido no leito da travessia, a fissura surgida na parte de baixo do sétimo de um total de 14 segmentos que compõem o tabuleiro da ponte situado no extremo mais próximo do Bairro Fátima passou a aumentar somente com o próprio peso estrutural do misto de concreto e ferragens da estrutura, um claro indício de que a ponte apresenta patologias que precisam ser minuciosamente analisadas e corrigidas.
Para a engenheira civil Jéssica Silva, da Prefeitura de Cachoeira do Sul, está evidente que a Ponte do Fandango apresenta uma deformação característica de uma estrutura sujeita a ruir. Entre o final de semana em que foi interditada até a última sexta-feira (5), a rachadura apresentou diversas dimensões. As primeiras constatações davam conta de que a fissura apresentava 8 centímetros.
Com as altas temperaturas da semana passada, a dilatação do material estrutural fez a deformação ampliar para 13 centímetros na sexta-feira, o que foi determinante para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) recuar da decisão de liberar o tráfego de veículos leves durante o último final de semana. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, segundo a engenheira Jéssica, a fissura superou em muito o chamado limite de deflexão da viga, que é o parâmetro estabelecido pelos cálculos de engenharia como margem para a estrutura de concreto e aço poder “trabalhar”, numa linguagem mais a grosso modo. Num cálculo preliminar, segundo a engenheira Jéssica, concluiu-se que a ponte poderia romper caso a fissura chegasse a 15 centímetros.
“Da maneira como está, a Ponte do Fandango não tem mais capacidade de para trânsito de veículos de carga. O que irá limitar um reforço na Ponte do Fandango para veículos pesados ou a necessidade de uma nova ponte sobre o Rio Jacuí é a questão financeira. Aí é preciso avaliar se deixa-se a Ponte do Fandango para veículos leves e constrói-se uma segunda ponte para veículos mais pesados, ou se faz uma reforma geral com reforço estrutural na Ponte do Fandango”, analisa a engenheira, que nesta segunda-feira (8) concedeu entrevista ao programa Passando a Limpo, da Fan FM 96.5, e nos últimos dias vem acompanhando de perto o trabalho do corpo técnico de engenheiros do Dnit que está em busca de soluções para a principal travessia de Cachoeira do Sul.
Hoje, o limite da Ponte do Fandango é de 36 toneladas. Entretanto, como Cachoeira do Sul é um município essencialmente agrícola e nos últimos anos teve um crescimento significativo no recebimento de grãos para armazenamento e beneficiamento em empresas como Granol e Pradozem, todos os dias passam pela estrutura carretas bitrens com cerca de 70 toneladas, ou seja, o dobro do peso que a estrutura sexagenária é capaz de suportar.
Escoramento provisório poderá liberar veículos leves na sexta-feira
O Dnit deu início nesta segunda-feira (8) a um trabalho de escoramento provisório do ponto da Ponte do Fandango que apresentou a fissura que levou à interdição total da estrutura. A engenheira Jéssica Silva destaca que o trabalho é executado com cautela devido à fragilidade da ponte.
“É uma situação que exige um pouquinho de bom senso por parte dos moradores de Cachoeira do Sul. O trabalho de escoramento é bastante complexo e precisa ser feito com cuidado, pois estamos trabalhando sempre com a premissa de preservar vidas”, ressaltou a engenheira.
Caso o trabalho transcorra dentro da normalidade e sem imprevistos, a previsão do Dnit é de que veículos leves sejam liberados para o trânsito a partir da próxima sexta-feira (12). Também nos próximos dias, técnicos do Dnit deverão se utilizar de um equipamento chamado pacômetro, que é um localizador eletrônico de barras metálicas em concreto. Com o exame, o Dnit espera obter um diagnóstico da situação desses metais no interior do concreto para novas tomadas de decisões em torno da obra estrutural da Ponte do Fandango.
HISTÓRIA
A Ponte do Fandango foi inaugurada e aberta para o tráfego de veículos em 1961. Na época, não havia veículos com tanto peso como os que existem hoje, bitrens capazes de transportar facilmente mais de 70 toneladas de cargas como grãos, madeira, entre outros produtos. Na época de sua construção, foram intensas as mobilizações para a conclusão das obras e dos aterros que garantiriam a sustentação de toda a estrutura, pois já havia um apelo econômico bastante forte em torno do transporte de cargas para o município e também de Cachoeira para outras regiões. Segundo registros do Arquivo Histórico Municipal, a história mostra que a década de 1960 foi quase toda empregada na tentativa de dar à Ponte do Fandango e seus acessos o verdadeiro sentido de sua construção, o que aconteceu após a liberação total para o tráfego.