ESTATISMO CONTRA O MUNDO LIVRE – por Jeferson Selbach

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ESTATISMO CONTRA O MUNDO LIVRE – por Jeferson Selbach
REFLEXÕES SOCIOLÓGICAS
21 de janeiro de 2025 - Jeferson Selbach / Crédito: OC/Reprodução

 

por Jeferson Selbach*

 

Muito se fala sobre o mundo dividido entre ressurgimento dos nazifascistas em oposição às democracias, um erro grosseiro.

O atual presidente brasileiro em duas ocasiões recentes usou desta premissa para imputar à oposição esta pecha: em novembro acusou que o eventual novo governo Trump seria nazismo com outra cara; em recente reunião ministerial afirmou não querer entregar o país de volta ao neofascismo, ao neonazismo, ao autoritarismo.

A tática é velha, denominar o outro de algo tão abjeto e espúrio que faça com que quem escuta conclua que se o outro é isso tudo, só resta apoiar quem assim o define. Acuse seu opositor de algo tão ruim para angariar apoio inconteste. Funcionou durante muito tempo, mas não funciona para sempre.

No início do século XX, Estados Unidos e o Império Britânico eram os guardiões do chamado liberalismo, valorizando as escolhas individuais em detrimento à intervenção do Estado.

Na Rússia, os bolchevistas ascendem ao poder em 1917 com a ideologia marxista, que previa o poder do povo (o socialismo intermediário) e a extinção do Estado (o comunismo como etapa final). Na prática, o Estado passou a dominar toda a vida econômica, o que gerou fome e miséria, e social, com extinção das individualidades em prol do coletivismo.

A França estava no meio caminho. Era berço do iluminismo de 1789 com a sua liberdade, igualdade e fraternidade, mas enamorava dos ideais socialistas.

Na Itália nasce o fascismo em 1919, mas galga o poder a partir de 1922, impondo o Estado forte, controlador, agressivo, defensor do ressurgimento do extinto Império Romano, e o mais importante! Contrário ao liberalismo e ao socialismo.

O fascismo vai inspirar o nazismo, que embora surja no mesmo ano de 1919, com Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães e a figura de Adolf Hitler, propagador da raça superior (racismo), ódio aos judeus (antissemitismo) e mão forte do Estado, só vai ascender ao poder em 1933.

No Brasil éramos liberais até Getúlio Vargas destituir o governo pela força em 1930 e implantar medidas que refletem até hoje no perfil paternalista da nossa sociedade, baseadas na centralização e fortalecimento do poder nacional em detrimento aos estaduais e na intervenção do poder público na vida das pessoas em detrimento às iniciativas individuais.

Vargas foi ditador nos moldes do nazismo alemão e do fascismo italiano, a quem admirava até ser praticamente obrigado a se aliar aos Estados Unidos em 1942, caindo após a vitória de 1945 e retornando como o pai dos pobres, a figura populista que entrou para a história.

Esse populismo baseado no intervencionismo estatal, subliminarmente contra as democracias liberais, propagou-se por toda América Latina, vide Perón na Argentina, Cárdenas no México, Allende no Chile, Hugo Chaves e Maduro na Venezuela e Morales na Bolívia. Inclusive entre as ditaduras militares, visto que a centralização facilita a permanência no poder. Comungam do mesmo mote: intervenção estatal na vida das pessoas.

FHC ensaiou no liberalismo, em especial com a estabilidade da moeda através do Real, mas se perdeu na senda de manter o poder centralizado, um canto de sereia dificílimo de afastar.

Já os governos petistas que o sucederam tem sistematicamente adotado o objetivo de aumentar o controle da população, através de políticas assistencialistas contrárias às liberdades e autonomias individuais.

Embora tenha sido eleito com discurso liberal, Bolsonaro não teve êxito em desarmar essa bomba-relógio chamada populismo estatal, algo que Javier Milei está conseguindo rapidamente na Argentina.

O que Lula chama de volta do neofascismo, neonazismo e autoritarismo nada mais é do que a tentativa de nomear o adversário com algo que ele realmente não é, para esconder quem se é de fato.

Donald Trump representa o retorno aos ideais liberais que sustentam a vida dos norte-americanos e são modelo para todo mundo, inclusive a China, a economia mais capitalista de todas as nações do planeta, mas com controle político através do partido único.

Giorgia Meloni segue o mesmo caminho profícuo na Itália, de garantir liberdades individuais.

Joe Biden, Kamala Harris, Justin Trudeau, Emmanuel Macron, Lula e demais globalistas que cultuam o identitarismo woke e são mais ou menos democráticos, mais ou menos populistas, agem pela maior intervenção do Estado na vida das populações, razão pela qual estão caindo como peças de xadrez.

Todos esses se esqueceram do cerne das nossas sociedades: o livre-arbítrio de cada um de nós.

É a liberdade de escolha, a cada dia, que nos faz avançar e construir uma sociedade melhor de se viver.

 

*Sociólogo, Doutor em História e Professor Titular da Universidade Federal do Pampa