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Enchente: o que já se sabe sobre prejuízos da soja, arroz e noz-pecã

Crédito: Reprodução

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Pomares de laranjas e bergamotas; safras de soja, milho, feijão, noz-pecã e arroz; pastagens e criações de bovinos, ovinos, peixes e abelhas: as perdas sofridas pelos produtores rurais gaúchos em virtude da tragédia meteorológica estão sendo contabilizadas aos poucos. De norte a sul do Estado, a alta umidade do solo é a principal responsável pelos prejuízos, direta e indiretamente, de acordo com o Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar.

No caso dos citros, as plantações de laranja e bergamota têm apresentado frutos pequenos, com rachaduras na casca, aumentando as perdas e reduzindo a produtividade. Muitos frutos também foram afetados por doenças, que causaram estragos. Na região administrativa da Emater de Santa Rosa, há incidência de ataques de mosca-das-frutas nos pomares. As variedades de bergamota Okitsu, Ponkan, Satsuma e comum, que estão em fase final de maturação, em plena colheita e comercialização, sofrem com a praga; as laranjas de umbigo, do céu e sanguínea, também. Já as plantas novas sofrem ataques de pulgão nas brotações e de larva-minadora nas folhas. O preço para indústria está em R$ 6,00/kg.

Crédito: Agência Brasil

Na região de Frederico Westphalen, devido às chuvas excessivas e aos dias nublados e de alta umidade, está ocorrendo queda de laranja e bergamota. Estima-se redução de produtividade entre 30% e 35%. Atualmente, os pomares encontram-se no estágio final de desenvolvimento e início de maturação dos frutos das variedades de ciclo médio e tardio. As variedades de ciclo precoce, como laranja de umbigo Bahia, de suco Iapar 73 e Salustiana, estão em plena colheita e comercialização. Há perspectiva de aumento no valor pago ao produtor, se a qualidade industrial melhorar.

Já na região de Caxias do Sul, seguem os levantamentos e mapeamento das áreas atingidas e de perdas nos municípios produtores. Diversos acionamentos de Proagro estão sendo verificados. Os agricultores não estão conseguindo acessar suas propriedades para realizar os tratamentos fitossanitários, seja pelo encharcamento do solo, seja pelos deslizamentos de terra, que estão bloqueando as estradas.

Crédito: Vanessa Almeida de Moraes / Emater

Nessas localidades, ocorre queda de frutos nas bergamotas Caí, Pareci e Ponkan. Os frutos de variedades mais tardias, como Montenegrina, Rainha e Murcott, que ainda estão em crescimento, apresentam rachaduras na casca e na polpa, aumentando as perdas. Quanto à produção de laranja, há baixa carga de frutos em razão de problemas nas fases de floração e fixação. As variedades mais precoces, como laranja do céu, estão em maturação e colheita.

No norte do Estado, as perdas foram na cultura da laranja, nas áreas inundadas na beira dos rios, principalmente em Itatiba do Sul e Erval Grande, municípios próximos a Erechim. Na região, ainda resta laranja precoce para colher (Iapar, Salustiana, Rubi, Umbigo Navelina e Bahia); o preço dessas variedades está, em média, R$ 1,50/kg ao produtor. No caso da variedade de laranja Valência, apesar de as frutas apresentarem grau Brix muito baixo, já há compradores. O preço é de R$ 1,00/kg. A produção total de laranja, nessas localidades, deverá ser 30% menor que em anos normais.

Por lá, segue a colheita de limão Tahiti e de bergamota comum, Caí e Satsuma, que estão sendo comercializadas a R$ 2,00/kg.

Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Safra de grãos

Soja – As áreas remanescentes de soja, ainda sujeitas à colheita, localizam-se predominantemente na metade sul do Estado. Porém, o período de condições meteorológicas adversas dificultou a operação e a área colhida avançou 3% em relação à semana anterior, atingindo 94% no Estado, estando ainda 6% das lavouras em maturação.

No extremo sul, não houve a possibilidade de colheita da soja em função da recorrência de chuvas. Já na Região da Campanha, os raros períodos de sol permitiram que somente alguns produtores acessassem as lavouras de melhor drenagem para realizar a atividade. Entre as dificuldades, a alta umidade dos grãos e a presença de grãos avariados, que causam obstrução nas máquinas colhedoras.

Além disso, a estatura das plantas está baixa, também em decorrência do excesso de chuvas durante o período de desenvolvimento vegetativo, o que provoca a fixação de vagens muito próximas ao solo. Apesar da disponibilidade de plataformas flexíveis na maioria das colhedoras, a função está comprometida pela instabilidade do solo, especialmente nas áreas implantadas pelo sistema convencional com gradagem. Essa situação resulta em perdas significativas, danos por debulha natural, germinação nas vagens, apodrecimento dos grãos e durante o processo de colheita.

Crédito: Freepik

Milho – A umidade e a nebulosidade ainda dificultam a colheita do milho em grande parte das lavouras do Rio Grande do Sul, já que os grãos não atingem a maturação nem o teor de umidade necessários para a operação. Nas regiões da Serra, Campos de Cima da Serra, Central e Campanha ocorreram danos qualitativos expressivos, que praticamente inviabilizam o uso e a comercialização dos grãos colhidos: muitas ocorrências de fungos, micotoxinas e germinação na espiga. Em razão das adversidades, a colheita de milho avançou apenas 1% em relação à semana anterior e atingiu 93% da área cultivada no Estado. Restam ainda 6% das lavouras em maturação e 1% está em enchimento de grãos.

Milho silagem – A colheita prosseguiu nas regiões menos afetadas pelas chuvas, especialmente no Planalto Médio. Nas regiões Sul e Campanha, a atividade foi inviabilizada pela recorrência de chuvas. A operação aproxima-se do final. As poucas lavouras remanescentes deverão sofrer redução de volume e de qualidade da massa vegetal a ser ensilada, em função do tombamento de plantas e do atraso na realização da colheita, provocados pelas chuvas e pelo excesso de umidade, desde o início de maio.

Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé resta colher aproximadamente 130 hectares de milho silagem, o equivalente a 2,5% do total cultivado. As áreas recentemente colhidas e aquelas a serem ensiladas nas próximas semanas mostram redução na produtividade de massa seca e grãos, pois, além das chuvas, a ocorrência de geadas queimou parte das folhas e comprometeu a qualidade do material ensilado.

Em Aceguá, na área plantada de 2.500 hectares, que representa quase 50% de toda a área na região, as perdas atingiram 30%, também influenciadas pelo estresse hídrico em fevereiro e início de março. Em Hulha Negra, as lavouras ensiladas a partir de abril apresentaram quebra de 40%. Já na região de Lajeado, além das perdas nas lavouras houve perda de material já ensilado por ação das enxurradas. Em Travesseiro, foram perdidas aproximadamente 5.500 toneladas de silagem armazenada, levada pelas águas.

Feijão 2ª safra – Em razão da redução temporária das chuvas no quadrante Noroeste do Estado, foi possível realizar a colheita das lavouras maduras. No entanto, o produto colhido apresentou baixa qualidade, causada pelos grãos brotados e manchados. Estima-se que 73% dos grãos cultivados foram retirados do solo. Parte das lavouras restantes não apresenta perspectivas viáveis de colheita, devido ao prolongado período chuvoso, que favoreceu o surgimento de doenças e resultou em severas perdas na área foliar.

Arroz – A colheita de arroz prosseguiu durante as pequenas janelas temporais com melhores condições meteorológicas e se aproxima da conclusão. Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, da área total cultivada na região, estimada em 359.115 hectares, restam cerca de 9 mil hectares a serem colhidos, incluindo algumas áreas com possíveis perdas totais.

Em São Borja, os produtores se esforçam para realizar a colheita em áreas com risco de novo alagamento em razão da elevação do nível do Rio Uruguai. Em Maçambará, a colheita foi concluída e a produtividade média é de 7.523 kg/ha, apresentando bons rendimentos até meados de abril. Contudo, em função das chuvas constantes e dos ventos fortes, houve queda expressiva de 20% a 30% na produtividade.

Em Quaraí, a colheita foi concluída e as produtividades estão ligeiramente abaixo das expectativas iniciais. Há relatos de perda de qualidade dos grãos em partes das lavouras afetadas, que sofreram acamamento e atrasos na colheita, causados pelas dificuldades de acesso. Os produtores estão animados com a produtividade obtida, pois os preços do arroz se mantêm elevados, mesmo durante o período de colheita.

Pastagens e criações

O excesso de chuvas e as geadas têm prejudicado tanto as pastagens cultivadas quanto as nativas, resultando em limitação na oferta e qualidade do alimento para os rebanhos. Muitos produtores têm buscado medidas, como suplementação alimentar, para reduzir as perdas e garantir o bem-estar dos animais.

Bovinocultura de corte – A escassez de pastagens e sua qualidade inferior, devido às chuvas intensas e baixas temperaturas, provocam perda de peso nos animais, exigindo suplementação alimentar. A incidência de parasitas, como carrapato, aumenta e, por isso, demanda medidas de controle. Os atrasos no ciclo de pastagens afetam o planejamento reprodutivo e são necessários ajustes nas estratégias de manejo. No geral, os produtores enfrentam dificuldades para manter a saúde e a produtividade do rebanho diante das condições ambientais adversas.

Bovinocultura de leite – O declínio na produção de leite é evidente em razão da escassez de pastagens, causada pelo tempo desfavorável, o que leva os produtores a recorrerem à suplementação alimentar para manter o estado corporal dos animais. Desafios adicionais trazidos pelas condições meteorológicas adversas incluem a umidade excessiva do solo, problemas de saúde, como mastite, e manejo adequado.

Ovinocultura – O rebanho ovino enfrenta desafios nutricionais, sanitários e reprodutivos, devido ao atraso na implantação das pastagens de inverno, às chuvas frequentes e às temperaturas baixas. Essa situação resultou em perda de condição corporal, problemas de saúde, como doenças nos cascos e pneumonia, e dificuldades reprodutivas, incluindo abortos e natimortos.

Apicultura – Chuvas intensas, enchentes e baixas temperaturas prejudicam a atividade das abelhas e a disponibilidade de floradas em várias regiões. Esse cenário resulta em perdas significativas de enxames, inanição e falta de reservas alimentares.

Piscicultura – O excesso de chuvas e de umidade tem prejudicado a produção de alimentos para os peixes, a rentabilidade dos produtores e a qualidade da água nos tanques, além de exigir adaptações dos piscicultores para garantir a continuidade da produção.

Pesca artesanal – Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Porto Alegre, as atividades pesqueiras foram severamente afetadas pelas condições adversas. Na Costa Norte, a ressaca do mar prejudicou a pesca de cabo. Em Balneário Pinhal, as enchentes dificultaram a pesca na Lagoa do Patos. Em Arambaré, as chuvas intensas causaram alagamentos, forçando milhares de famílias de pescadores a deixarem suas residências.

Nos municípios de Pelotas e Rio Grande, as comunidades pesqueiras enfrentam grandes prejuízos devido às enchentes na Lagoa dos Patos, resultando em desalojamentos e dificuldades na pesca e comercialização. Em Jaguarão, o alto nível de água no Rio Jaguarão e na Lagoa Mirim prejudicou a pesca e a comercialização de peixes. Em Tavares, as inundações impactaram o acesso; na Lagoa do Peixe, a atividade pesqueira foi paralisada em função do alto nível de água e da perda de equipamentos. Na região de Santa Rosa, o aumento do nível do Rio Uruguai tornou a pesca desafiadora, afetando as famílias que dependem dela para subsistência.

Balanço de perdas é tema de reunião da Câmara da Noz-Pecã

A Câmara Setorial da Noz-Pecã, via reunião remota, fez uma avaliação das perdas na cultura em função das enchentes e das várias semanas com chuvas extremamente excessivas no Rio Grande do Sul.

De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan), Eduardo Basso, as perdas na cultura em todo o Rio Grande do Sul chegam a 80%. Entre as regiões com maiores prejuízos estão a de Anta Gorda, com perdas de 90 a 95% e a de Cachoeira do Sul, com perdas de 80% em relação ao ano passado. A região de Carazinho foi menos afetada pelas chuvas. O levantamento foi feito a partir de questionários enviados aos produtores a partir de três eixos: perdas nos investimentos, no capital de trabalho e na indústria.

“Nós devemos colher entre 1.000 e 1.500 toneladas de noz-pecã neste ano em relação à safra passada. E as perdas em valores chegam a R$ 112 milhões”, afirma Eduardo Basso.

De acordo com o engenheiro agrônomo Júlio Medeiros, do IBPecan, a preocupação é também com a qualidade do produto colhido. “Nós tivemos pequenas janelas de tempo bom para fazer esta colheita e não foi suficiente”. Segundo ele, têm perdas na produção, na qualidade, nos equipamentos, tem assoreamento de açudes, erosão laminar e por sulcos, plantas danificadas ou arrancadas. “Os danos são muito grandes, o ano está sendo terrível e o produtor fica se perguntando o que fazer”, afirma.

Para o produtor Demian Segatto da Costa, este ano já seria de uma colheita menor em função da alternância de anos muito bons e outros nem tanto. “E a chuva intensa afetou a todos, tanto agricultores familiares quanto os mais tecnificados”, afirma. Mas ele lembra que a expectativa é de que o próximo ano seja de uma boa safra, com boa produtividade, e que, juntos, os produtores vão encontrar soluções para este momento tão difícil.

O extensionista da Emater/RS-Ascar, Antônio Borba, informou que o levantamento das perdas ainda está sendo feito, mas que já se pode afirmar que os municípios que representam 45% da área cultivada com noz-pecã foram afetados pelas chuvas. “As principais regiões produtoras informaram perdas”, afirma Borba.

Ernestino Guarino, coordenador do grupo de trabalho da Embrapa Clima Temperado que vem se reunindo para buscar propostas para a agricultura gaúcha, informou que o levantamento das perdas com a cultura está sendo feito em três etapas e cujo final prevê a elaboração de propostas de ações para auxiliar no processo de recuperação da agricultura no Rio Grande do Sul. O grupo conta com a participação de sete unidades da Embrapa.

De acordo com Edson Ortiz, diretor da Divinut, de Cachoeira do Sul, uma das preocupações da indústria é com a carência de matéria prima e com a infraestrutura das estradas. “Nós não estamos conseguindo chegar nas propriedades para buscar o produto”, afirma.

As entidades financeiras também participaram da reunião. O Banco do Brasil apresentou a Portaria do Ministério da Fazenda nº 835, de 23 de maio, que oferece subvenção econômica sob forma de desconto nos financiamentos de crédito rural através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). Os recursos são destinados para os produtores dos municípios com decreto de emergência e calamidade pública reconhecidos pelo governo federal nos meses de abril e maio deste ano.

Além disso, está em vigor a Medida do Conselho Monetário Nacional nº 5.132, de 10/05/2024, que prorroga os vencimentos de maio, junho e julho de operações de crédito rural para 15 de agosto de 2024, para municípios do estado do Rio Grande do Sul atingidos por enchentes, alagamentos, chuvas intensas, enxurradas, vendaval, deslizamentos ou inundações.

Os agentes financeiros presentes informaram ainda que, conforme previsto no Manual de Crédito Rural, os produtores que tiveram perdas nas suas produções podem solicitar prorrogação de custeios ou investimentos mesmo em municípios que não tiveram publicado decreto de calamidade ou emergência. Além disso, solicitaram via Federação Brasileira de Bancos (Febraban) que a Resolução nº 5.123, válida no Rio Grande do Sul apenas para as culturas de soja, milho e bovinocultura leiteira, seja ampliada para todas as culturas e que o prazo para adesão seja ampliado. Para os produtores presentes, somente a prorrogação não seria suficiente diante os prejuízos registrados e esperam do governo um rebate ou anistia.

Ao final da reunião, os participantes aprovaram as seguintes proposições a serem encaminhadas aos governos federal e estadual: solicitação de prorrogação a longo prazo dos financiamentos, novos recursos para o setor, inclusão da noz-pecã nas culturas com direito ao seguro agrícola, melhorias nas estradas e redução de tributos estaduais e federais.

Participaram da reunião: IBPecan, Emater/RS-Ascar, Embrapa, IBGE, Sicredi, BRDE, Banco do Brasil, Banrisul, Receita Estadual, Famurs, produtores, indústrias e viveiristas.

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