Durante décadas, os gaúchos ouviram que a enchente de 1941 foi a maior de todas, quando os temporais castigaram cidades deixando um rastro de destruição por todo lado. Coincidentemente, no mesmo período da tragédia de 41 – final de abril e começo de maio – o Rio Grande do Sul depois de 83 anos é novamente castigado, só que desta vez os registram apontam que a atual cheia de rios e arroios pela grande precipitação de chuva é a maior da história deste estado.
Desde 41, ninguém imaginava que teríamos um caos maior como o que acontece, por exemplo, em Porto Alegre, área metropolitana e demais regiões do RS como é o caso do Vale do Rio Pardo, Vale do Taquari e também em Cachoeira do Sul, região de Santa Maria, Quarta Colônia e Vale do Sinos. Na época, choveu em 22 dias menos do que, em 2024, choveu em cinco dias.
Os comparativos neste momento são muitos. Se em 41 a enchente invadiu o Cais do Porto, rumou para o centro de Porto Alegre e provocou o caos com as águas atingindo pontos como o Mercado Público, a Prefeitura Municipal, Rua da Praia e os bairros Navegantes, Passo D’Areia, Menino Deus e Azenha, a enchente de agora vai mais além: bloqueia a capital com uma inundação jamais vista.
Pelo RS, a enchente de 41 também fez história. Em Cachoeira do Sul, a enchente do Rio Jacuí avançou assustadoramente na Rua Moron deixando marcas lembradas até hoje. Desta vez, no entanto, as águas tomaram uma proporção maior, pois subiram de maneira avassaladora, tanto que o nível do Jacuí chega a 28,44 metros, enquanto em 41, a cota foi de 26,53 metros. “Temos uma enchente milenar”, define o superintendente da Defesa Civil de Cachoeira do Sul, Edson das Neves Júnior.
O CAOS SE INSTALOU EM 41, MAS NADA COMPARADO COM AGORA
Na enchente de 41, famílias ficaram sem nada, empresas foram à falência e uma rede de solidariedade foi formada para assegurar abrigo, remédios e alimentação aos flagelados. A Cruz Vermelha Norte-americana, por exemplo, destinou US$ 10 mil aos flagelados do RS. Em consequência da mistura de águas com os esgotos e outro resíduos, houve a proliferação de doenças.
Em 2024, por enquanto as atenções das pessoas, das instituições e dos governos estão voltadas para a ajuda humanitária. Um contingente de famílias perdeu tudo, cidades estão praticamente submersas o que vai significar um saldo incalculável de perdas. Em Cachoeira do Sul, são quase 200 famílias atingidas e um sem número de propriedades rurais com perdas significativas.
Na região, os números também são assustadores. Na Quarta Colônia, por exemplo, há caso de produtores que perderam lavouras, rebanho e até moradias. Afora isto, o isolamento das cidades – Cachoeira é uma delas – traz a apreensão pelos bloqueios de estradas e pontes e já provoca desabastecimento de alimentos, combustível e, em alguns casos, água potável e energia elétrica.
Na Região Metropolitana, principalmente em Canoas, informações da noite deste sábado (4) e madrugada deste domingo (5) apontavam pra centenas de desaparecidos nas águas e um trabalho subumano coletivo e desesperado de resgate a pessoas em telhados de residências e até mesmo boiando na imensidão das águas da enchente do Guaíba e rios dos arredores.
IMPORTÂNCIA DA DEFESA CIVIL NO ENFRENTAMENTO À ENCHENTE
Em mais um comparativo com 41, é bom destacar a importância da criação da Defesa Civil, que tem uma atuação marcante. Em Cachoeira do Sul, a Superintendência da Defesa Civil, monitora constantemente as áreas de risco onde moram 1.300 famílias, totalizando cerca de 5 mil pessoas. O Bairro Cristo Rei, por exemplo, por estar na confluência do Rio Jacuí e Arroio Amorim, é o que concentra o maior número de desabrigados e desalojados. Agora, na história de Cachoeira e do RS, a cheia de 2024 é a maior de todas com perdas que neste momento ainda não podem ser mensuradas.