A próxima sessão da Câmara de Vereadores, agendada para segunda-feira, a partir das 14 horas, contará com o espaço da Tribuna Popular com uma história de fé. Atendendo pedido da vereadora Telda Assis (PT), a professora Lair Vidal explanará sobre Santa Josefa. O projeto de lei 88/2024, de autoria da parlamentar, prevê a instituição do Dia da Santa Josefa no dia 16 de novembro no Calendário Municipal de Cachoeira do Sul.
“As lendas fazem parte da cultura mundial. Tais histórias surgem das mais variadas formas, são compartilhadas entre diferentes gerações e sempre mexem com o imaginário popular. Provocam medo, atiçam a curiosidade e renovam a fé. Nesse âmbito, a Josefa de Cachoeira do Sul ganha destaque”
trecho do PL nº 88/2024
Conforme a proposição protocolada por Telda na Câmara, “essa personagem é a protagonista da mais importante história popular da cidade”. “Apesar de ser desconhecida pelas novas gerações, a crença resiste ao tempo e sempre é lembrada de alguma forma”, salienta a vereadora no projeto de lei.
O PL cita que a escrava jovem e negra, na verdade, teria se chamado Maria José, e vivido “com muito sofrimento”, nas décadas finais do século XIX.
“Josefa era agredida das mais variadas formas pelos seus patrões na fazenda onde trabalhava e vivia. E pelas razões mais banais. Tamanha maldade fez com que o destino da escrava fosse trágico. Ela foi assassinada cruelmente pelos seus senhores. Até hoje não se sabe ao certo como ocorreu sua morte”
trecho do PL nº 88/2024
Existem oito versões diferentes sobre o caso, “presentes na memória do povo”, conforme o projeto de lei:
1 – Josefa foi levada, certo dia, para o pelourinho, o tronco onde os escravos eram açoitados, acusada de ter cometido alguma falta insignificante – não especificada nos arquivos do Museu Municipal – e morreu em decorrência dos ferimentos. Anos depois de ser enterrada como indigente, sangue emergia de sua cova. A sepultura então foi aberta e constatou-se que o corpo ainda estava intacto.
2 – A beleza de Josefa chamava a atenção de seu patrão, que demonstrava grande interesse nela. Essa atração provocava o ódio da esposa dele, o que motivou um acerto de contas. Durante uma viagem do marido, a patroa, enciumada, ordenou que Josefa fosse açoitada até a morte. A determinação foi cumprida à risca. Tempos depois do sepultamento, um braço apareceu erguido na cova. No entanto, o membro não pôde ser dobrado. De acordo com os relatos dos mais antigos, seria a alma de Josefa bradando por justiça.
3 – Certa vez, a escrava reagiu quando o seu senhor tentou praticar relações sexuais sem o consentimento dela. Revoltado com a atitude, o patrão empurrou Josefa para dentro de um caldeirão cheio de gordura em temperatura escaldante, usada para a produção de sabão. Josefa foi enterrada ainda viva.
4 – Um dia, Josefa, que era babá do filho de seu senhor, descuidou-se e a criança levou um pequeno tombo. Apesar de não ter sido grave, o episódio foi suficiente para deixar irado o pai da criança. A escrava foi açoitada até ficar extremamente ferida. Após as chicotadas, ela foi jogada em um formigueiro. Nele, faleceu, sem que as formigas tocassem o seu corpo.
5 – Outra hipótese dá conta de que Josefa teria sido assassinada de uma forma ainda mais violenta. Nos arredores da senzala onde vivia, fora enforcada, e seus pés queimados. Nesse caso, as razões são desconhecidas.
6 – Houve a abolição da escravatura e, na mesma época, Josefa teria morrido. Receosos com as possíveis punições decorrentes da Lei Áurea, os patrões decidiram transferir o corpo da escrava, já enterrado na propriedade deles, para um cemitério. Ao abrirem a cova, o corpo permanecia intacto. Ainda assim foi transportado para o novo local. No entanto, misteriosamente o corpo retornou ao local em que havia sido originalmente sepultado.
7 – Uma moeda de ouro, do patrão de Josefa, desapareceu de uma hora para a outra. Consequentemente, o sumiço foi atribuído à escrava, que foi assassinada a chibatadas mesmo sob a alegação de que não havia sido a responsável pelo suposto roubo. Tempos depois, a moeda reapareceu.
8 – Com frequência, Josefa era queimada com cera quente por sua patroa. Numa ocasião, após passar por mais uma sessão de horror, ela tentou dar um basta nisso. Desesperada, fugiu com o corpo em chamas. Fatalmente, não foi longe. Caiu no exato local onde hoje está localizada a Capela Nosso Senhor do Bom Fim (Capela de Josefa) e morreu carbonizada no meio do matagal.
Na avaliação descrita junto ao PL nº 88/2024, de todas as versões, a principal seria a primeira.
“Os cachoeirenses que teriam presenciado o derramamento de sangue na cova consideraram o fato um milagre. Chegaram à essa conclusão porque houve o entendimento de que, mesmo diante de todos os horrores pelos quais passou em vida, a alma de Josefa não queria atravessar a ponte entre os planos material e espiritual. O episódio se popularizou a tal ponto que o povo começou a chamá-la de santa: a ‘Santa Josefa’. Hoje em dia, a santa popular é cultuada por pessoas de diferentes classes sociais. De olho nessa história e após levar em conta o aumento da peregrinação à cova, a comunidade, por decisão popular, com base nos milagres relatados e nas histórias contadas, tornou a Santa Josefa, a Santa Cachoeirense”
trecho do PL nº 88/2024
O PL sugere que, na data, poderão ser realizadas celebrações, terços, visitações, e palestras sobre a lenda da Santa Josefa.