“Delegado de Cachoeira do Sul” aplica “Golpe dos Nudes”

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“Delegado de Cachoeira do Sul” aplica “Golpe dos Nudes”
ESPECIAL
29 de janeiro de 2022 - capanudes

Crédito: OC/Reprodução

*nome completo será preservado

A reportagem do Portal OCorreio localizou a vítima de um golpe que envolveu o nome de Cachoeira do Sul e resultou em um prejuízo de R$ 2 mil.

Na segunda-feira à noite, o filho de 7 anos de Adriano* avisou o pai sobre uma mensagem no celular. Era uma jovem. Naquele momento, ele não sabia, mas o aparente simples “oi” seria o início de um tormento.

“Victoria”. O nome aparecia junto com a imagem de uma moça que puxava assunto. Chamando sua atenção, Adriano retornou logo na sequência questionando de onde ela era. “Cachoeira do Sul” foi a resposta.

A frase seguinte enviada por Victoria assim que Adriano revelou ser a cidade de Castro, no Paraná, indicou sua pretensão com a conversa. A distância entre os dois não importava. Nem iria impedir uma relação entre eles.

Ao ser questionada sobre sua idade, a jovem respondeu que teria 17 anos. “Não tenho namorado”, emendou.

 

Crédito: OC/Reprodução

Victoria enfatizou que gostava de “homens mais velhos”. Adriano concordou.

E já na manhã seguinte, os dois retomaram a conversa. O primeiro pedido de fotos partiu dele. A linha estava lançada. A vítima começou a ser fisgada.

Crédito: OC/Reprodução

Nas conversas seguintes, os dois trocaram fotos. Adriano cometeu seu segundo erro. O primeiro foi seguir a ter contato com Victoria, mesmo depois dela ter dito que seria menor de idade. O outro, munir o golpe com suas imagens. “Ela começou a me mandar umas fotos nuas e pediu fotos minhas. Eu acabei caindo nesta bobeira das fotos”, lamentou.

Já nesta quinta-feira, a vítima passou a sentir o peso de errar diante de uma armadilha que esperava exatamente por suas falhas. O começo desse pesadelo foi com um áudio encaminhado. O remetente da mensagem dizia ser um delegado de Polícia. De onde? Cachoeira do Sul…

 

Sem resposta, o falso policial de Cachoeira mandou outro áudio. Mas com tom diferente:

 

O enredo envolveu Victoria. Adriano passou a ser acusado de ter cometido um crime. A consequência seria uma internação dela em uma clínica. “Esse cara entrou em contato comigo se passando por delegado e dizendo que eu tinha cometido um crime”, detalhou a vítima.

Durante as apurações da reportagem, uma descoberta foi que o estabelecimento realmente existe, mas não é de Cachoeira do Sul. Fica em Caxias do Sul.

Ainda sem perceber o golpe, a vítima recebeu a cópia de uma “solicitação de internação hospitalar”.

Crédito: OC/Reprodução

O combinado foi que os pais da jovem iriam arcar com metade e Adriano pagaria os outros R$ 2 mil:

 

Adriano pagou o valor acreditando estar sem saída por ter cometido um crime contra uma menor de idade. O falso delegado de Cachoeira do Sul, durante os contatos com a vítima, chegou a dizer que Victoria seria ainda mais nova: 15 anos. “Eu sei o tamanho da complicação”, confidenciou para a reportagem.

O falso delegado de Polícia descreveu o nome de uma mulher para a vítima fazer o depósito do montante:

Crédito: OC/Reprodução

Na mensagem seguinte, o golpista diria que os pais de Victoria foram liberados e a menor estaria ainda internada.  “Vou para a Delegacia”, acrescentou o estelionatário antes de afirmar que iria enviar o “documento de encerramento do caso” e cobrar por “serviços prestados”:

 

Por entender que não receberia o valor de R$ 1,2 mil de “honorários”, o golpista retrucou contra Adriano:

 

Ao desconfiar que era um golpe com a cobrança, a vítima buscou informações sobre a clínica e conseguiu contato. Foi quando descobrir que não o estabelecimento não faz internação de menores de idade. O estelionatário tentou disfarçar garantindo que o número de telefone estaria errado:

 

Adriano chegou ainda a dizer que estaria com um escrivão em uma delegacia de Polícia. O golpista não mostra receio:

 

O caso seria encerrado, conforme o falso delegado de Cachoeira do Sul:

 

Para complementar, o golpista mencionou até a expressão “juízo final”:

 

O “policial” também orientou que a vítima não entrasse mais contato ou iria efetuar mandado de prisão preventiva:

 

Na tentativa de fazer o golpe ter mais credibilidade, o estelionatário enviou um vídeo. As imagens mostravam um veículo com emblema da Polícia em uma simulação de que policiais estavam levando Victoria:

 

O material coletado durante as apurações da reportagem do Portal OCorreio foi entregue para a Polícia de Cachoeira do Sul. “O que eu posso falar em forma de alerta é que nas redes sociais e Internet, as interações, seja de convívio ou de negócios, têm que ser feitas com desconfiança. As facilidades que esse meio virtual nos trazem são imensas, mas os riscos também”, destaca o delegado João Gabriel Parmegianni Pes. “Sem conhecer os interlocutores, temos que nos certificar das mais diversas formas antes de fechar negócio, além de evitar expor nossa intimidade e vida privada”, reforça.

Na opinião do delegado – especialista em casos de estelionato, o que parece exagero de cuidado pode ser decisivo contra o golpe. “Sem poder obter dados que tragam segurança, consultando em fontes abertas como Google ou Facebook, a vítima deve reclamar dizendo que não faz negócio sem ser presencialmente. Se estou conversando com um parente que me pede dinheiro, faço uma ligação por vídeo para ter certeza. Se uma pessoa se apresenta como de uma empresa, ligo para me certificar”, aconselha. “Nesse ambiente virtual, infelizmente, é melhor parecer paranoico do que ser vítima”, finaliza.

Por orientação da Polícia, os nomes descobertos e a identidade da vítima foram mantidos em sigilo na reportagem sob justificativa de não atrapalhar a investigação sobre o caso.