A Polícia Civil deflagrou a Operação Alcateia, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa especializada em aplicar golpes, principalmente em idosos. Segundo o investigação, Cachoeira do Sul foi alvo dos ataques. Ainda de acordo com as apurações, uma empresa de São Paulo vendeu os dados de moradores de Cachoeira aos golpistas. De posse das informações, os criminosos agilizavam o esquema que resultava em prejuízos para as vítimas no Município.
Dentre os dados comercializados aos estelionatários estavam nome completo, data de nascimento, endereço completo, telefones fixo e celular, e-mail, escolaridade, profissão, aposentadoria (sim ou não), se a pessoa possui banda larga, renda, banco utilizado e agência bancária. Com os dados das vítimas, os golpistas buscavam maior credibilidade nos contatos. A vítima acreditava que tratava com um representante da central ou do banco.
Segundo a empresa, sua atuação de 5 anos busca prestar “um excelente atendimento e fornecer um produto com qualidade”. “Trabalhamos a nossa base constantemente, para sempre fornecer dados atualizados”, acentua na sua apresentação.
A reportagem do Portal OCorreio ainda apurou que a empresa que consta na investigação sobre o esquema atua com uma base própria , além de realizar captura on-line abrangendo juntas comerciais e Sistema Integrado de Informações sobre Operações Interestaduais (Sintegra), com tecnologia de robots (programas automatizadores e webcrawlers (rastreadores).
A investigação pode ter desdobramentos para descobrir as circunstâncias dos processos adotados pela empresa para obter os dados que acabam comercializados. Segundo as apurações iniciais, a venda das informações não teve autorização das vítimas do golpe.
Foram cumpridos 87 mandados judiciais, sendo 67 mandados de busca e apreensão e 20 mandados de prisão preventiva. Na ação 16 pessoas foram presas, entre as quais dois líderes da organização. Ainda foram apreendidos objetos relativos aos golpes, inclusive duas centrais telefônicas.
A Operação Alcateia é resultado de seis meses de investigações realizadas por duas delegacias da Polícia Civil Gaúcha: a Delegacia de Proteção ao Idoso e Combate à Intolerância de Santa Maria e a 1ª Delegacia de Polícia de Pelotas.
O cumprimento dos mandados judiciais, realizados no estado de São Paulo, foi executado com o auxilio da Polícia Civil de São Paulo. A ação foi batizada com o nome de Alcateia devido ao fato de os estelionatários iniciarem o contato com a vítima com a justificativa de que tentavam ajudar, lembrando a expressão “lobo em pele de cordeiro”.
Estimativas dos investigadores indicam que o valor de prejuízo às 62 mil vítimas supere a cifra de R$ 550 mil.
Entenda o golpe
O golpe começava com a realização de uma ligação para a vítima, geralmente idosa. O criminoso dizia ser funcionário de uma central de monitoramento de cartões e solicita confirmação de supostas compras, na maioria das vezes, realizadas em outros estados. A vítima diz que não foram autorizadas as supostas compras. Em seguida, o golpista orienta a vítima a ligar para o seu banco, para o número existente no verso do cartão bancário. Então, a vítima, acreditando que foi alvo de uma clonagem de cartão, liga para o número verdadeiro da central bancária, mas os criminosos desviam a sua ligação por meio de uma central telefônica que tem instalado o sistema “URA” (equipamento para call center). O alvo do golpe passa a conversar com outro criminoso, que se identifica como funcionário de uma central de segurança do banco, afirma que o cartão da vítima foi clonado e que estão sendo feitas compras. Então, o falso funcionário segue dizendo que seria necessário realizar um procedimento de bloqueio do cartão e também uma “investigação de clonagem”.
A próxima orientação para as vítimas era inserir dados pelo teclado do telefone, incluindo a senha do cartão. Além disso, deveria cortar ao meio o seu cartão bancário, sem danificar o chip, escrever uma carta de contestação das supostas compras e autorizando uma “investigação junto ao banco e Polícia Civil ou Federal”. Em seguida, era solicitada a entrega do cartão cortado e da carta dentro de um envelope lacrado (com cola e grampos) em uma agência de outro estado, no mesmo dia. Quando a vítima diz que não tinha condições de cumprir a solicitação, o golpista garantia mandaria um representante até a casa da vítima para recolher o envelope com o cartão e a carta. Outro criminoso seguia até a casa da vítima e apanhava o seu cartão.
Com o material, o esquema possibilitava que os golpistas fizessem saques e compras via máquinas de cartão débito/crédito. O criminoso que seguia falando com a vítima solicitava que o seu aparelho celular fosse desligado por algumas horas, com a desculpa de que fossem feitas atualizações de segurança. O objetivo era impedir que a vítima fosse alertada pelo banco a respeito dos saques, compras e transferências efetuados pelos golpistas.
A quadrilha atuava no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Piauí, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Além de Cachoeira do Sul, os golpes foram registrados em Santa Maria, Rio Pardo, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande, Erechim, Caxias do Sul e Soledade.