Além da disparada dos preços de medicamentos e insumos durante a pandemia, os hospitais enfrentam o desequilíbrio das finanças gerado, especialmente, pelo congelamento da tabela do SUS, que não cobre os custos dos pacientes internados para o tratamento do novo Coronavírus. A queixa foi feita pelos gestores hospitalares que depuseram na reunião ordinária desta segunda-feira (28) da CPI dos Medicamentos, presidida pelo deputado Thiago Duarte (DEM). O Hospital de Caridade e Beneficência – referência para toda a região – esteve representado por seu diretor administrativo, Luciano Morschel. Para fazer frente à alta do preço dos medicamentos, a instituição recorreu à importação e a adoção de protocolos clínicos alternativos. Segundo Morschel, o déficit mensal chega a R$ 400 mil.
Já o presidente do Hospital de Caridade Dr. Victor Lang, de Caçapava do Sul, Florenzo Monego, revelou que um paciente com Covid-19 em leito clínico custa cerca de R$ 550 por dia, mas que o SUS remunera apenas R$ 250,00 por todo o tratamento. Para manter as portas aberta, a instituição, que em 2020 atendeu 56 pacientes e neste ano já teve 257 pessoas internadas com o novo coronavírus, tem apelado à ajuda de pessoas físicas e jurídicas.
Pedido de apoio
O administrador da Santa Casa de Misericórdia de Bagé, Raul Vallandro, aproveitou a oitiva para pedir o apoio dos deputados na pressão para atualizar os valores pagos pelo SUS aos hospitais. “A tabela não é atualizada desde 2004 e a inflação dos medicamentos é enorme. Essa combinação só aumenta nossas dificuldades históricas”, apontou.
Com uma receita mensal de R$ 4 milhões e um déficit também mensal de R$ 800 mil, a instituição tem a situação agravada, segundo ele, pelo fato de não conseguir fazer cirurgias eletivas e ter o atendimento por meio de convênio reduzido durante a pandemia. Sem nenhum aporte de recursos extraordinários nesse ano, as esperanças da Santa Casa estão depositadas na promessa de liberação de R$ 2 bilhões para os hospitais pelo governo federal. Vallandro afirmou ainda que os aumentos dos medicamentos do kit intubação variam de 307% a 643% de 2020 a 2021.
A situação do Hospital Universitário da Urcamp não é muito diferente. A instituição, segundo a reitora Lia Maria Quintana, registrou um aumento de 100% nas despesas com medicamentos durante a pandemia. Antes, gastava R$ 30 mil por mês. Agora, gasta cerca de R$ 60 mil no mesmo período.
Mercado financeiro
Para honrar com os compromissos durante a pandemia, o Hospital de Caridade de Palmeira das Missões, referência para nove municípios e 65 mil pessoas, teve que fazer empréstimo bancário. “Não há orçamento que suporte o aumento dos preços dos medicamentos no nível em que ocorreram”, frisou o diretor do estabelecimento, Sérgio Blumke.
Segundo ele, em 2019 o hospital gastou R$ 60 mil em equipamentos de proteção individual, valor que saltou para R$ 270 mil em 2020. Blumke afirmou ainda que o valor da AIH do paciente Covid, R$ 475,00, não é suficiente para cobrir os gastos com oxigênio.
Já o diretor executivo do Hospital de Montenegro, Carlos Batista da Silveira, revelou que a instituição se antecipou à crise e comprou medicação e EPIS antecipadamente. Mesmo assim, com o avanço da doença e a redução dos estoques, foi forçado a comprar fármacos, especialmente do kit intubação, com preços considerados fora do padrão. “Não ficamos sem medicamento, mas tivemos que comprar com preços altos. Isso teve um impacto de 30% nas nossas contas”, contou.
O presidente da CPI afirmou que o financiamento dos hospitais deve ser tratado com prioridade e que a sustentabilidade dessas instituições deverá ser incrementada a partir do atendimento às demandas reprimidas pela pandemia. “Os hospitais devem se preparar para a retomada no sentido de oferecer os serviços que a comunidade precisa, contribuindo para diminuir as filas de espera que constituíram”, ponderou.