Com declaração de óbito retificada, Prefeitura sustenta que idoso morreu por covid-19

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Com declaração de óbito retificada, Prefeitura sustenta que idoso morreu por covid-19
ATUALIZAÇÃO / COVID-19
25 de agosto de 2020 - declaração de óbito miguel motta bauer CÓPIA 2

Declaração de óbito emitida inicialmente não atestava covid-19 como causa da morte do idoso de 91 anos / Foto cedida pela família/Divulgação/Portal OCorreio

A Prefeitura de Cachoeira do Sul divulgou nesta terça-feira (25) uma nota oficial na qual sustenta que o aposentado Miguel Motta Bauer, de 91 anos, morreu por complicações causadas pela covid-19. A manifestação do Executivo Municipal foi emitida depois que a família do idoso procurou a redação do Portal OCorreio para contestar a inclusão do idoso na contabilidade de óbitos no município pela doença causada pelo novo coronavírus.

A técnica de enfermagem Priscila Bauer, neta de Miguel, afirma que o avô estava recuperado da doença, mas tinha comorbidades e, com a idade avançada, acabou falecendo de causas naturais. O falecimento ocorreu no último domingo (23), na casa geriátrica onde Miguel residia.

A neta divulgou uma declaração de óbito na qual não consta a covid-19 como uma das causas da morte do avô. No documento, constam como causas da morte a insuficiência respiratória, doença pulmonar obstrutiva crônica, tabagismo e idade avançada. A declaração precede a emissão do atestado de óbito.

RETIFICAÇÃO

No entanto, na nota oficial, a Secretaria Municipal da Saúde e a Vigilância Epidemiológica do município afirmam que, “ao fazer a declaração de óbito, o médico não incluiu a covid-19 entre as causas do óbito por não ter conhecimento acerca da data de internação do paciente em decorrência da contaminação. Nesta terça-feira, o médico retificou a declaração de óbito, dando como as causas do falecimento: insuficiência respiratória, DPOC, tabagismo, idade avançada e covid-19”.

A nota da Prefeitura prossegue informando que “médico declarou ‘a causa principal foi quadro respiratório crônico, porém a intercorrência Covid-19 contribuiu de fato para a piora clínica, conforme retificação’”.

A Prefeitura de Cachoeira do Sul finaliza informando que “o óbito do idoso já foi reconhecido pelo Centro de Operações Especiais (COE) do Governo do Estado como 4º de Cachoeira do Sul de paciente com Covid-19”.

 

“Eles não podem retificar a declaração sem antes comunicar a família”, diz neta de Miguel

A técnica de enfermagem Priscila Bauer, neta de Miguel, afirma que ingressará na Justiça contra a Prefeitura de Cachoeira do Sul por não concordar com a retificação na declaração de óbito. “Eles não podem retificar uma declaração de óbito sem comunicar a família. A família não está sabendo de retificação da declaração de óbito e queremos saber o porquê de isso ter acontecido. Como o médico dá um óbito e depois muda?”, questiona a neta.

“Entrei em contato com a funerária que cuidou da situação do meu avô e eles me garantiram que ninguém esteve lá atrás da declaração de óbito. Já estou em contato com um advogado, porque retificar uma declaração de óbito sem a família ter sido comunicada é crime. Essa declaração não deveria ter sido substituída ou retificada sem um exame de agora, atualizado, para comprovar se o meu avô estava ou não com covid-19”, complementa Priscila.

Segundo ela, o avô começou a apresentar os primeiros sintomas de Covid-19 cerca de 20 dias antes de o surto ser declarado oficialmente na casa geriátrica. A nota da Vigilância Epidemiológica que tornou público o surto data de 6 de agosto. Miguel foi diagnosticado com a doença um dia antes. Priscila afirma que “para sair do isolamento e ser declarada recuperada, é necessário que a pessoa fique 14 dias de isolamento, e se passaram quase 40 dias desde os primeiros sintomas”, salienta.

 

SAIBA MAIS:

A íntegra nota oficial da Prefeitura de Cachoeira do Sul:

Secretaria Municipal da Saúde, através da Vigilância Epidemiológica do Município, diante do fato que gerou questionamentos sobre óbito de um paciente do sexo masculino, 91 anos, registrado como 4º cachoeirense vítima de coronavírus, esclarece que:

– O paciente era residente de uma Instituição de Longa Permanência (ILP) e teve coleta de amostra para exame em 3 de agosto. Na ocasião, apresentava sintomas respiratórios. Além disso, o paciente tinha comorbidades. Foi encaminhado ao HCB no mesmo dia da coleta do exame.

– O resultado positivo para Covid 19 foi confirmado em 5 de agosto.

– No HCB ele permaneceu até a manhã de 15 de agosto, quando recebeu alta hospitalar apresentando melhora clínica, mas ainda com Covid 19 detectável e necessitando de O2 suplementar devido às comorbidades preexistentes.

– O paciente faleceu na Instituição de Longa Permanência do dia 23 de agosto (último domingo), data em que ainda não era considerado por um médico como paciente recuperado.

-Ao fazer a Declaração de Óbito, o médico não incluiu a Covid 19 entre as causas do óbito por não ter conhecimento acerca da data de internação do paciente em decorrência da contaminação.

– Nesta terça-feira, o médico retificou a Declaração de Óbito, dando como as causas do falecimento: insuficiência respiratória, DPOC, tabagismo, idade avançada e Covid 19.

– O médico declarou “A causa principal foi quadro respiratório crônico, porém a intercorrência Covid 19 contribuiu de fato para a piora clínica, conforme retificação”.

– O óbito do idoso já foi reconhecido pelo Centro de Operações Especiais (COE) do Governo do Estado como 4º de Cachoeira do Sul de paciente com Covid 19.