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Choro por Marlon, mas também cresço em sua dor

Uma cidade é uma abstração arquitetônica. Ela é feita de pessoas, de sentimentos, de suor, lágrimas, esperanças e desesperanças. São as gentes que fazem um lugar, e são os contrastes que fazem essas gentes, em todas as suas idiossincrasias. Com suas dores e seus amores. É nas diferenças que nos fazemos melhores.

Seria muito fácil passar por essa vida entre iguais, sem parâmetro de contraste, dessa inveja boa que nos catapulta em busca de algo mais. Eu vivi um pouco de Cachoeira do Sul, para perceber suas nuances, cores e humores. Foi lá, nesse ambiente, ainda que de maneira enviesada, que conheci o deputado Marlon Santos, então figura enigmática, pelo menos pra mim, até aquele momento.

E foi também pelo espelho de um amigo, o Cristiano Limão, que desenhei a geografia de personalidade dessa figura pública e grandiosa que é o deputado Marlon. O prefeito que um dia vestiu um macacão, subiu num andaime e se pôs a pintar um prédio público – não vou parar aqui para pesquisar. O cara que mantém um centro mediúnico, na Volta da Charqueada. Um cara que se vestia de preto, o que lhe emprestava um jeito taciturno, mas que lhe revelava igualmente uma estatura moral.

Tenho com Cachoeira do Sul, em especial com os Germanos, o núcleo da família do seu Rafik, do Rogério, do Pipa, uma relação fraterna. Eles, Germanos e Marlon, até andaram em campos opostos na política, mas isso agora é irrelevante. Conhecendo meus amigos, posso tangenciar seus sentimentos nessas horas.

Pois foi esse Marlon que, hoje à tarde, nas redes sociais, mostrou-se gigante, diante de uma das piores dores que um pai pode viver, que é a perda de um filho. Marlon perdeu o seu Júnior, um jovem, de forma trágica. Não faltou quem, de forma desumana e desrespeitosa, açulasse Marlon, por conta de sua atuação como médium, um cara que todo o sábado se doa, de corpo e alma – mais de alma com certeza – para entregar a outros o que a Providência lhe legou.

À distância, acompanhei a dor desse pai, que tomou a frente da informação, e ele mesmo foi para as redes para relatar o que estava acontecendo com o seu ente mais amado. Doía ouvi-lo. O desfecho ia se delineando, a cada frase, a cada declaração. Ao final, quando esse pai disse que o seu filho já não mais estava nesse plano, meu coração também de pai ficou apertado. E o que fez ele? Chorou? Não – pelo menos nesse momento. Calmamente, com a sapiência dos que conhecem as veredas do mundo metafísico, deu a mão ao filho e o conduziu, docemente, com palavras suaves, os primeiros passos do seu bebê pelo novo mundo, a nova casa, na verdade, o retorno ao Lar.

Disse-lhes palavras de pai, na mais absoluta crença da vida eterna. Chamou por Jesus. Entregou-lhe nos braços o filho. Deu-lhe recomendações. Fez-lhe pedidos, ternos, mas também firmes, como cabe aos pais. Cachoeira do Sul está triste. Uma cidade jamais será uma abstração de concreto. Cachoeira do Sul está triste. Vai na paz, Marlon Santos Júnior. Um abraço fraterno ao Marlon pai!!

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