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Cachoeira do Sul está entre as 3 cidades gaúchas com mais desastres em 32 anos

Ocorrida em 2015, queda da ponte sobre o Banhado Castagnino, na BR-153, está entre os desastres naturais mais marcantes dos últimos anos em Cachoeira do Sul / Fotos: Milos Silveira/Arquivo/Portal OCorreio e Jornal O Correio impresso

Ocorrida em 2015, queda da ponte sobre o Banhado Castagnino, na BR-153, está entre os desastres naturais mais marcantes dos últimos anos em Cachoeira do Sul / Fotos: Milos Silveira/Arquivo/Portal OCorreio e Jornal O Correio impresso

Um levantamento do Atlas Digital de Desastres no Brasil aponta que Cachoeira do Sul está entre as três cidades gaúchas que enfrentaram mais desastres naturais nos últimos 32 anos. Os números foram divulgados nesta semana e compreendem o período entre 1991 e 2023. Também estão inclusos no mesmo estudo números do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID).

De acordo com o estudo, nessas três décadas Cachoeira do Sul teve 45 registros de desastres naturais, com predominância de inundações e vendavais (11 cada) e sete estiagens mais severas. Nessa mesma soma, o município também teve registros de granizo, enxurradas, chuvas intensas, infestações de animais e colapso de edificações.

No ranking, Cachoeira do Sul fica atrás apenas de Santa Cruz do Sul e São Jerônimo. Ainda segundo o levantamento, dentre os mais de 68 mil desastres naturais registrados em todo o território brasileiro, de 1991 a 2023, cerca de 8,5 mil ocorreram no Rio Grande do Sul. Isso representa 12,5% dos registros, deixando o Estado em segundo lugar no país com a maior soma de desastres.

Enchentes vêm castigando duramente Cachoeira do Sul nos últimos anos / Foto: Milos Silveira/Arquivo/Portal OCorreio e Jornal O Correio impresso

ÚLTIMOS ANOS TÊM SIDO DE GRANDES ENCHENTES E ESTIAGENS SEVERAS EM CACHOEIRA

Cachoeira do Sul vem de uma sequência de anos com registros de grandes enchentes e fortes estiagens. O saldo desses cenários antagônicos se resume a prejuízos econômicos no agronegócio na casa de incontáveis milhões de reais, além de danos estruturais de grandes proporções, a exemplo do que aconteceu em 2015 com a ponte da BR-153 sobre o Banhado Castagnino, que ficou seriamente comprometida, teve de ser implodida e uma nova estrutura precisou ser construída, tudo isso em pleno período de safra de verão.

Se a produção de grãos já estava completamente prejudicada em razão da enchente durante o verão, a situação ainda se agravou com as dificuldades de transporte de insumos provocada pela queda da ponte, com veículos precisando passar por acessos secundários construídos na época pela Prefeitura e pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit).

Em 2023, Cachoeira do Sul enfrentou uma sequência de três grandes enchentes. No dia 17 de setembro, o Rio Jacuí alcançou a terceira maior marca da história ao atingir 23,55 metros acima do nível do mar no ponto de medição junto à Ponte do Fandango.

Os últimos anos também foram marcados por fortes vendavais, como o que varreu Cachoeira do Sul em 2017, com queda de árvores por todo lado e fornecimento de energia prejudicado em toda a área territorial do município. Fenômeno semelhante, mas de proporção menor, foi registrado em 18 de dezembro de 2023. Dias depois, 22 de dezembro, uma chuva sem precedentes na história recente do município deixou a maior parte do centro da cidade submerso, com carros, lojas e casas literalmente debaixo d’água. Dezenas de residências foram atingidas em diferentes pontos da cidade e tiveram de ser abandonadas para passar por limpeza e reformas devido a danos estruturais provocados pelas enxurradas. Em menos de uma hora, choveu 160 milímetros em Cachoeira.

Todo esse cenário de chuvas excessivas decorre do fenômeno El Niño, que se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. Os prognósticos indicam que o fenômeno está perdendo força a partir de fevereiro e a tendência é de que os próximos meses a situação se inverta com a chegada do La Niña, que proporciona chuvas abaixo da média no Sul do Brasil.

Queda de granizo registrada em outubro de 2015 foi amplamente repercutida em toda a imprensa nacional / Foto: Milos Silveira/Arquivo/Portal OCorreio e Jornal O Correio impresso

GRANIZO TAMBÉM CASTIGOU CACHOEIRA DO SUL

Cachoeira do Sul também não escapou de severas quedas de granizo. A tarde ensolarada de 14 de outubro de 2015 na área urbana em nada condizia com o que estava acontecendo naquele momento nas localidades rurais da metade norte do município. Localidades como Capão da Cruz, Rincão dos Menezes, Bosque e Três Vendas foram duramente castigadas por uma intensa chuva de gelo que resultou em grandes amontoados ao longo da BR-153, com carros salpicados na lateria e vidros quebrados e telhados de residências despedaçados.

Na ocasião, o então prefeito Neiron Viegas mobilizou a Defesa Civil e todo o governo no fornecimento de lonas para os moradores atingidos. O que não se esperava, no entanto, era que horas depois, à noite, o Centro e os bairros de Cachoeira do Sul também seriam atingidos por uma queda de granizo de proporções ainda mais avassaladoras. O trabalho foi triplicado para a Defesa Civil. No dia seguinte, filas se formaram em todas as lojas de construção da cidade, que rapidamente zeraram seus estoques de telhas de fibrocimento.

Fenômenos semelhantes, mas de menores proporções, se sucederam nos anos seguintes, com destaque para queda de granizo registrada em setembro do ano passado na Porteira Sete. O saldo foi de telhados perfurados, casas encharcadas, aves mortas e um rastro de destruição e prejuízos.

No verão 2011/2012, o Rio Botucaraí secou e um cenário diferente se revelou na Ponte de Pedra, um dos principais pontos turísticos de Cachoeira do Sul / Foto: Milos Silveira/Arquivo/Portal OCorreio e Jornal O Correio impresso

SAIBA MAIS SOBRE O LEVANTAMENTO DO ATLAS DIGITAL E DO S2ID

O S2ID foi implantado somente em 2013 e que os registros anteriores a ele foram adicionados à base de dados do Atlas Digital por meio da busca ativa, que iniciou em 2009 e foi finalizada em 2011. Sendo assim, o baixo número de registros na década de 1990 e o aumento na década de 2010 em diante possivelmente se devem a essa diferença entre a fonte e o padrão dos registros.

Conforme destaca o Atlas Digital, os erros podem acontecer, pois os registros são feitos manualmente e, geralmente, no momento do preenchimento, o responsável pela função no município se encontra sob pressão devido ao desastre. Além disso, a criação de um novo protocolo, ao invés de atualizar os números do original, é uma prática comum e que causa duplicidade dos registros.

Diante disso, para evitar números muito distorcidos na análise da reportagem os dados passaram por uma rápida avaliação. Nesse processo, alguns protocolos que indicavam duplicidade foram retirados e foi decidido não apresentar informações sobre danos e prejuízos registrados, devido a presença de valores muito elevados, que indicavam possíveis erros de digitação.

As cinco cidades do RS com mais registros e seus três principais tipos de desastres:

  1. Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo (77 registros): chuva intensa (22), vendaval (19) e estiagem (10)
  2. São Jerônimo, na Região Carbonífera (46): inundações (17), estiagem (8) e enxurradas e vendavais (7 cada)
  3. Cachoeira do Sul, Região Central (45): inundações e vendavais (11 cada) e estiagem (7)
  4. Sobradinho, no Vale do Rio Pardo (40): estiagem (11), vendaval (10) e granizo (7)
  5. Santa Maria, Região Central (39): estiagem e vendaval (11 cada) e alagamentos (10)

Carros submersos em Cachoeira do Sul ilustram bem como foi a chuvarada histórica que despencou sobre a cidade em 22 de dezembro / Foto: Divulgação

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