Arroz enfrenta estiagem e frio tardio na safra 2024/2025

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Arroz enfrenta estiagem e frio tardio na safra 2024/2025
RURAL
8 de janeiro de 2025 - Lavouras de arroz do Rio Grande do Sul, especialmente na região da Depressão Central, vêm sendo castigadas por diversos eventos climáticos adversos na safra 2024/2025 / Foto: Milos Silveira/OC

A semeadura da safra 2024/2025 de arroz foi declarada oficialmente finalizada nesses primeiros dias de janeiro em meio a um cenário de estiagem e frio tardio especialmente na Depressão Central do Rio Grande do Sul. A situação deixa em estado de atenção os técnicos do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), que vêm monitorando o comportamento evolutivo das lavouras nesse período de virada de fase das plantas, que em sua maioria está passando do desenvolvimento vegetativo para o estágio reprodutivo.

O coordenador do Irga na Região Central do Estado, engenheiro agrônomo Ênio Coelho, explica que é justamente nesta fase que as lavouras requerem maior atenção por parte dos técnicos e dos produtores. Segundo ele, a preocupação fica justamente por conta da possível continuidade do cenário atual de clima, que vem se caracterizando por um período mais longo sem chuvas e baixas temperaturas acompanhadas de vento seco especialmente durante a noite. “Esse frio tardio acompanhado da ação mecânica do vento, que vai cortando e quebrando a planta, é a provável causa de um amarelecimento das lavouras, em razão principalmente da baixa metabolização e absorção do nitrogênio depositado no solo através da ureia”, resume o agrônomo do Irga. (Continua abaixo da publicidade)

Apesar desse cenário aparentemente desfavorável para cultura do arroz, ainda é cedo para se traçar qualquer prognóstico quanto ao impacto futuro desse conjunto de fatores na produtividade das lavouras. “Até porque ainda há tempo de recuperação caso esse cenário mude. Do contrário, se essa situação de frio tardio se mantiver, possivelmente essa situação que a gente observa agora servirá para entender logo mais à frente as causas de menores ganhos em produtividade lá na colheita”, explica o agrônomo Ênio Coelho.

DÉFICIT HÍDRICO

Outra situação que vem preocupando o setor da orizicultura é o período mais prolongado sem chuva. Em Cachoeira do Sul, a última precipitação mais significativa aconteceu antes do Natal, quando algumas poucas dezenas de milímetros caíram sobre parte do município em formato de pancadas isoladas.

Os primeiros a sentirem os reflexos dessa falta de chuva são os afluentes do Rio Jacuí. Arroios e rios de menor porte como Irapuá, Santa Bárbara e Botucaraí apresentaram queda significativa em seus níveis, muito em função da maior demanda por irrigação das lavouras. “Há regiões mais íngremes que acabam contribuindo para essa baixa capacidade de armazenamento de água. Além disso, com a enchente de maio houve o assoreamento e o depósito de sedimentos no fundo desses rios, o que também diminuiu a capacidade de armazenar essas águas”, pontua o agrônomo Ênio Coelho.

Frio durante o período reprodutivo pode impactar os resultados finais de produtividade no processo produtivo do arroz, na colheita / Foto: CNA/Divulgação

Frio durante o período reprodutivo pode impactar os resultados finais de produtividade no processo produtivo do arroz, na colheita / Foto: CNA/Divulgação

Uma safra especialmente desafiadora para o produtor de arroz

A safra 2024/2025 vem sendo especialmente desafiadora para o produtor de arroz do Rio Grande do Sul desde o início. No período ideal de semeadura, entre a segunda quinzena de setembro até os primeiros dias de novembro, as chuvas atrapalharam a implantação das lavouras, o que exigiu o aproveitamento das chamadas janelas de dias mais secos e o plantio do pré-germinado, que é mais indiferente a esse tipo de situação.

Além disso, o produtor ainda teve de conviver com as consequências da enchente e ir reestruturando as áreas de plantio degradadas durante o próprio plantio. Esse trabalho principalmente de reconstrução de estruturas de irrigação teve um custo paralelo ao investimento natural – que é alto – em emprego de maquinário, combustíveis e insumos para “colocar a casa em ordem”. “Para os produtores, não foi fácil implantar a safra 2024/2025”, resume o agrônomo do Irga Ênio Coelho.

 

Cachoeira do Sul finalizou 91,64% da área de intenção de plantio do arroz. Região Central ficou em 84,78%

As consequências da histórica enchente de maio no Rio Grande do Sul também respingaram na evolução da semeadura da safra de arroz. A Depressão Central foi a mais prejudicada tanto no atraso quanto na finalização. Dos 125.860 hectares projetados inicialmente na intenção de plantio levantada pelo Irga, 106,7 mil foram semeados, o equivalente a 84,78%, o mais baixo percentual de finalização entre todas as regiões arrozeiras do RS.

Em Cachoeira do Sul, o plantio do arroz da safra 2024/2025 foi declarado oficialmente finalizado pelo Irga nos primeiros dias de janeiro com 91,64% da intenção de plantio. Dos 28.702 hectares projetados inicialmente, 26.302 foram implantados. “É claro que, muito em função da coragem e da resiliência do produtor, algumas dessas áreas não finalizadas oficialmente serão plantadas. Mas a partir de agora, o que for colocado no chão dificilmente terá resposta em produtividade, até porque a colheita vai se estender lá para abril ou maio”, analisa o agrônomo do Irga.

Da área global implantada na Depressão Central, 87% (92.929 hectares) estão em período de mudança do desenvolvimento vegetativo para a fase reprodutiva, o que exigirá maior atenção por parte dos técnicos e dos produtores.

 

Como o RS finalizou o plantio do arroz na safra 2024/2025:

Fonte: Irga

 

O QUE DIZ A LITERATURA TÉCNICA SOBRE O FRIO TARDIO NAS LAVOURAS DE ARROZ:

Prejuízo no desenvolvimento

A ocorrência de frio tardio no Rio Grande do Sul tem gerado preocupações significativas entre os produtores de arroz nos últimos anos durante a safra de verão. Condições climáticas adversas, como chuvas desuniformes e escassas, aliadas às baixas temperaturas fora de época, têm afetado o desenvolvimento das lavouras, especialmente nas regiões da Fronteira Oeste e Depressão Central do Estado.

Redução na produtividade e qualidade dos grãos

O arroz é uma cultura sensível a variações climáticas, e a exposição a temperaturas mais baixas do que o ideal pode comprometer etapas cruciais do seu ciclo, como a germinação, o perfilhamento e a floração. O frio tardio pode resultar em redução da produtividade e da qualidade dos grãos, impactando negativamente a rentabilidade dos produtores.

Práticas de manejo para mitigar os efeitos do frio

Diante desse cenário, especialistas recomendam que os produtores adotem práticas de manejo que possam mitigar os efeitos do frio tardio e da irregularidade das chuvas. Entre as medidas sugeridas estão o escalonamento da época de semeadura com cultivares de diferentes ciclos, visando evitar a coincidência de condições climáticas adversas com períodos críticos do desenvolvimento da lavoura, como a floração.

Fontes: Embrapa, Irga e Conab

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