Reconhecidamente como a segunda maior fonte emissora de metano no setor agropecuário, a lavoura de arroz irrigado tem, ao longo dos anos, feito a sua parte na redução dos gases do efeito estufa (GEE) para a atmosfera. “É importante deixar claro que a planta de arroz não é a fonte produtora do gás metano, um dos principais gases do efeito estufa, mas sim o solo, que através do processo de fermentação, pela presença da água, produz o metano e o transporte desse gás para a atmosfera se dá através da planta de arroz, por canais conhecidos por aerênquimas”, explica a técnica superior orizícola, PhD em ciência do solo e coordenadora da Estação Regional de Pesquisa do Instituto Rio-Grandense do Arroz da região Central, Mara Grohs. “Ou seja, enquanto tivermos um ambiente irrigado e a presença da planta haverá produção e emissão do gás metano. Nesse cenário, dificilmente se evitará a produção do metano, mas estudos conduzidos pelo Irga, nos últimos 20 anos, têm demonstrado que é possível mitigá-los”, completa a especialista. Os estudos, em parceria com universidades como UFRGS e UFSM, têm demonstrado que através do manejo cultural realizado na lavoura, há redução considerável na emissão dos GEE.
Dentre esses manejos, os que se destacam é o uso do preparo antecipado, o qual reduz em 25% a emissão dos GEE quando comparado ao sistema convencional. Quando considera-se que, dependendo do ano, entre 50% e 70% do Rio Grande do Sul adota esse sistema de preparo do solo, percebe-se a magnitude da contribuição dos produtores gaúchos sobre essa questão ambiental.
Porém, nos últimos anos o sistema de produção gaúcho tem dado uma contribuição muito maior para essa questão, a qual tem sido pouco abordada pelo setor: a entrada da soja. A cultura da soja, cultivada em terras baixas, emite menos de 10% do tal de GEE em relação a cultura do arroz e o sistema chamado pingue-pongue, ou seja, um ano de arroz irrigado seguido de um ano de soja, reduz em 55% a emissão de GEE nas terras baixas. Isso se torna ainda mais relevante quando observamos o crescimento em área de 205% nos últimos 10 anos. Nesse quesito, o Irga acaba de finalizar uma pesquisa em que, monitorando uma área com rotação de culturas por cinco anos, apresentou uma redução de quase 60% na emissão de gases do efeito estufa quando cultivado arroz, fruto da menor quantidade de carbono disponível para a produção de metano. “O que importa mesmo é que 70% das áreas de arroz estão em rotação de culturas, dado também levantado pela extensão rural do Irga, aí sim percebe a magnitude da mitigação que a lavoura de arroz gaúcha tem entregado a sociedade, além do alimento”, acentua Mara. “Mas o setor orizícola tem ido além. O melhoramento genético, o qual tem participação ímpar do Irga, sendo responsável por 65% das cultivares semeadas no Estado do RS, tem entregado plantas mais produtivas e eficientes em todos os aspectos, e o ambiental não fica de fora”, amplia.
Existe um índice chamado Potencial de Aquecimento Global (PAG), que fornece o total de gases emitidos por CO2 equivalente e é utilizado para comparações de setores diferentes, como por exemplo, comparar a emissão dos GEE de uma lavoura de arroz com a emissão dos GEE dos carros de uma cidade. Para alimentos, é possível ainda considerar a eficiência do processo produtivo, ao se comparar a emissão dos GEE por hectare versus sua produtividade de grãos. E nesse quesito, está o diferencial do arroz gaúcho (e do sistema de produção, desenvolvido no RS): os patamares de produtividade atingidos nas últimas safras, em função do melhoramento genético e do manejo cultural, fez com que o PAG passasse de 0,77 CO2/kg de arroz produzido para 0,67 kg de CO2/kg de arroz, ou seja, uma redução de 17% na emissão de GEE somente com o aumento da produtividade de grãos e a entrada da soja tem reduzido esse índice para 0,38 kg de CO2/kg de arroz. Além disso, a área do arroz apresentou uma redução de 20% na última década, mas esse aumento de produtividade permitiu que houvesse mais pessoas alimentadas/ha, passando de 158 para 186 pessoas. Ou seja, aumento da eficiência do processo produtivo em consonância com a sustentabilidade ambiental, resultado de muita pesquisa em genética e manejo e transferência de tecnologia junto ao produtor rural, o qual tem feito sua parte, mas é pouco ou nada valorizado nesse cenário de sustentabilidade ambiental.
A métrica do PAG/kg de alimento produzido é parâmetro é tão impactante que nos Estados Unidos, há uma marca de arroz, o Smart Rice, que utiliza essas informações para a valorização do produto, sendo vendido com um valor 80% maior nas redes de supermercado, em comparação ao arroz dito “comum”. “A diferença entre o que os americanos estão fazendo para o nosso arroz é que lá essa iniciativa é realizada para uma pequena fração do que é produzido e aqui perde-se a oportunidade de valorização do produto produzido no Estado inteiro, em uma cadeia produtiva que há anos busca por estratégias de valorização”, esclarece técnica superior orizícola .
“Estudos e iniciativas mais sustentáveis do ponto de vista ambiental não faltam no sistema de produção de terras baixas do Estado do RS. Precisamos ainda da mobilização das entidades envolvidas com a temática na busca da divulgação e marketing dessas informações e a conversão na valorização de um produto de excelente qualidade gastronômica alinhado com as questões ambientais mais importantes da atualidade. Até porque o arroz produzido no Sul do Brasil representa 70% da produção brasileira” – técnica superior orizícola, PhD em ciência do solo e coordenadora da Estação Regional de Pesquisa do Instituto Rio-Grandense do Arroz da região Central, Mara Grohs