Anomalia magnética no Sul e Sudeste intriga cientistas

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Anomalia magnética no Sul e Sudeste intriga cientistas
CIÊNCIA
5 de abril de 2021 - Amas - foto ESA - Agência Espacial Europeia

Anomalia abrange faixa que se estende do Brasil ao continente africano / Foto: ESA – Agência Espacial Europeia

Uma anomalia magnética sobre a metade sul do Brasil é um mistério a ser desvendado por cientistas ligados ao setor espacial. A Anomalia Magnética do Atlântico Sul (Amas) é uma defasagem na proteção magnética da Terra localizada sobre o Atlântico Sul, mais especificamente nas regiões Sul e Sudeste, numa faixa que se estende até o Continente Africano.

O fenômeno vem chamando a atenção de especialistas que estudam o campo magnético do planeta, que é gerado no núcleo de ferro líquido superaquecido a pelo menos 3 mil quilômetros de profundidade. O campo magnético, uma espécie de escudo protetor contra radiação cósmica e ventos solares, surge a partir de correntes elétricas na região, entre outros fatores.

IMPLICAÇÕES E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS

Como esse campo magnético é bastante dinâmico e variável, diferentes intensidades de força e direção podem gerar efeitos como a Amas. Ao menos por enquanto, não há evidências sobre efeitos da anomalia na saúde humana, mas há implicações na área da tecnologia e não se descarta a ocorrência de problemas na área de distribuição de energia, como blecautes e apagões como o ocorrido em Quebec, no Canadá, em 1989.

Na ocasião, milhões de habitantes ficaram sem energia elétrica e transmissões de rádio foram interrompidas. Hoje em dia, com a dependência cada vez maior da internet e de sistemas informatizados, qualquer fenômeno dessa natureza, por mais curto que seja, pode causar prejuízos incalculáveis à economia de determinada região, com provável efeito mundial. Estudar para prevenir consequências dessa magnitude é o foco da ciência espacial.

Satélites que orbitam pela Terra podem sofrer avarias, apontam pesquisadores do Observatório Nacional. “Essa região tem um campo mais enfraquecido. As partículas do vento solar entram nessa região com mais facilidade e o fluxo de partículas carregadas que passam por aquela área é muito mais intenso. Isso faz com que os satélites, quando passam por essa região, tenham que, por vezes, ficar em stand by, desligar momentaneamente alguns componentes para evitar a perda do satélite, de algum equipamento que venha a queimar”, explica Marcel Nogueira, doutor em Física e pesquisador do Observatório Nacional.

A Agência Espacial Europeia (ESA) vem acompanhando o aumento gradativo da Amas desde 1970. Estudo publicado no ano passado aponta que o campo magnético da Terra perdeu 9% de força nos últimos 200 anos, sendo o maior impacto na região da anomalia.

Além do funcionamento dos satélites, especialistas alertam que com a baixa na retaguarda em um ponto específico do planeta, o mundo fica mais suscetível a tempestades magnéticas que podem afetar o dia a dia tecnológico na Terra.

No Brasil, além do nanossatélite lançado ao espaço em março em uma parceria com a Agência Espacial Russa, também há dois observatórios magnéticos que, entre outras missões, estão focados em responder questionamentos sobre essa anomalia. Eles ficam em Vassouras (RJ) e Tatuoca (PA).

Ambos fazem parte da Rede Global de Observatórios Magnéticos, o Intermagnet.