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“Almirante Negro”: quem foi o encruzilhadense que brilhou no Carnaval do Rio?

Busto em Encruzilhada do Sul / Crédito: Ass. Com.

Busto em Encruzilhada do Sul / Crédito: Ass. Com.

A Paraíso do Tuiuti foi a penúltima escola de samba a desfilar pela Marquês de Sapucaí, no Carnaval do Rio de Janeiro, na madrugada desta terça-feira (13). O enredo destacou um filho de Encruzilhada do Sul, que deixou seu nome marcado na história nacional e inspirou a homenagem: João Cândido, marinheiro líder da Revolta da Chibata, em 1910.

Militar brasileiro, o “Almirante Negro” nasceu em 24 de junho de 1880 em Encruzilhada do Sul, numa família de ex-escravizados. Entrou para a Marinha do Brasil aos 14 anos, onde presenciou penalidades a chibatadas sobre seus companheiros, apesar de este tipo de castigo ter sido abolido em 1890.

No ano de 1910, liderada por João Cândido, a tripulação da embarcação Minas Gerais se revoltou contra seu comandante, que castigara um dos homens da tripulação com 25 chibatadas. O marinheiro passou a reivindicar o fim dos maus-tratos psicológicos e das punições corporais, liderando assim a Revolta da Chibata.

Outras reivindicações do movimento foram o aumento de salário, a redução da jornada de trabalho e a anistia dos revoltosos. A principal conquista da rebelião foi o compromisso do governo da época de acabar com a chibata na Marinha. João Cândido foi expulso da corporação ainda em 1910, sob acusação de ter favorecido os rebeldes. Faleceu no Rio de Janeiro aos 89 anos.

Crédito: Reprodução

A Revolta

No dia 22 de novembro de 1910, tiros de canhão abalaram a cidade do Rio de Janeiro. Liderados pelo “Almirante Negro”, marinheiros deram início à Revolta da Chibata, que reivindicava o fim dos castigos físicos na Marinha.

A Revolta contra os maus-tratos paralisou o coração do Brasil por quatro dias e custou a vida de dezenas de pessoas, entre civis e militares. A punição pela chibata, até então, era um hábito herdado da Marinha portuguesa. Os castigos tinham a função de educar na marra os supostos maus elementos que compunham os quadros inferiores.

Os marinheiros não suportavam mais aquela situação e logo organizaram, sob a liderança do “Almirante Negro”, a manifestação. Dezenas de oficiais foram mortos, outros, detidos ou ainda desembarcados. Todo aquele que tentasse impedir o levante ou não se apresentasse a favor era considerado inimigo e tinha a embarcação tomada. Uma após outra, quase todas as embarcações foram sendo assumidas pelos marujos, e João Cândido, juntamente com outros líderes, assumiu o comando de toda a Armada. Pela primeira vez na história da humanidade um marinheiro foi comandante de toda uma esquadra. E um marinheiro negro.

Crédito: Reprodução

O ministro da marinha e demais setores militares se opunham à rendição diante de tripulações de marujos, majoritariamente, negros, analfabetos e descalços. Contudo, não havia outra maneira. O governo então, cedeu, e afirmou aceitar as condições da negociação e anistiar os participantes da revolta.

A anistia não durou dois dias. Traídos, presos e torturados, os revoltosos foram expulsos da Marinha. João Cândido, o líder da Revolta, foi um dos que mais sofreram perseguições, vindo a morrer muito pobre e doente. A sua prisão na Ilha das Cobras foi marcada por atrocidades e barbaridades. Após ser preso e torturado, o “Almirante Negro” foi internado num manicômio. Nos anos seguintes, enfrentou uma série de mazelas pessoais e familiares, sempre discriminado pela Marinha.

O “Almirante Negro” foi anistiado postumamente em julho de 2008.

Confira a letra do samba-enredo “Glória ao Almirante Negro”

G.R.E.S Paraíso do Tuiuti

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Nas águas da Guanabara
Ainda o azul de araras
Nascia um herói libertador
O mar, com as ondas de prata
Escondia no escuro a chibata
Desde o tempo do cruel contratador

Eram navios de guerra, sem paz
As costas marcadas por tantas marés
O vento soprou à negrura
Castigo e tortura no porão e no convés

Ô, a casa grande não sustenta temporais
Ô, veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais

Lerê, lerê, mais um preto lutando pelo irmão
Lerê, lerê, e dizer: Nunca mais escravidão
Ô, a casa grande não sustenta temporais
Ô, veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais
Lerê, lerê, mais um preto lutando pelo irmão
Lerê, lerê, e dizer: Nunca mais escravidão

Meu nego
A esquadra foi rendida
E toda gente comovida
Vem ao porto em saudação
Ah, nego
A anistia fez o flerte
Mas o Palácio do Catete
Preferiu a traição

O luto dos tumbeiros, a dor de antigas naus
Um novo cativeiro, mais uma pá de cal
Glória aos humildes pescadores
Iemanjá com suas flores
E o cais da luta ancestral

Salve o Almirante Negro
Que faz de um samba-enredo
Imortal

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Nas águas da Guanabara
Ainda o azul de araras
Nascia um herói libertador
O mar, com as ondas de prata
Escondia no escuro a chibata
Desde o tempo do cruel contratador

Eram navios de guerra, sem paz
As costas marcadas por tantas marés
O vento soprou à negrura
Castigo e tortura no porão e no convés

Ô, a casa grande não sustenta temporais
Ô, veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais

Lerê, lerê, mais um preto lutando pelo irmão
Lerê, lerê, e dizer: Nunca mais escravidão
Ô, a casa grande não sustenta temporais
Ô, veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais
Lerê, lerê, mais um preto lutando pelo irmão
Lerê, lerê, e dizer: Nunca mais escravidão

Meu nego
A esquadra foi rendida
E toda gente comovida
Vem ao porto em saudação
Ah, nego
A anistia fez o flerte
Mas o Palácio do Catete
Preferiu a traição

O luto dos tumbeiros
A dor de antigas naus
Um novo cativeiro
Mais uma pá de cal
Glória aos humildes pescadores
Iemanjá com suas flores
E o cais da luta ancestral

Salve o Almirante Negro
Que faz de um samba-enredo
Imortal

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Composição: Valdir W. Correa / Pier Ubertini / Moacyr Luz / Julio Alves / Gustavo Clarão / Alessandro Falcão / Cláudio Russo

Crédito: Prefeitura do Rio de Janeiro

*fonte: acervo do Governo do Brasil, Exército e Carnaval do Rio de Janeiro

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