Em outubro de 2017, quando foi desligado da função de secretário municipal de Planejamento e do setor de Trânsito, Júlio Bittencourt estava com o projeto de implantação do Sistema de Estacionamento Rotativo encaminhado. “Estava com todo o planejamento pronto para implantar. Faltava apenas decidir como seria a fiscalização e alguns detalhes da sinalização”, lamenta para a reportagem do OCorreio Digital.
Foram nove meses no comando da pasta. No entanto, seu envolvimento durou mais de dois anos para a construção de um projeto concebido para ser baseado em coleta de informações e até em consulta pública para debater o assunto com a população. “Não perguntaram nada sobre o que eu já tinha executado”, revela Bittencourt ao mostrar estranheza pela falta de contato que poderia auxiliar na sequência da formulação do estudo. Ainda assim, a Prefeitura enviou uma proposta para a Câmara de Vereadores. O texto foi criticado e acabou retirado pelo Executivo Municipal. Um dos pontos negativos relacionados foi a previsão de R$ 400 mil para a aquisição de parquímetros. “A implantação é muito cara e o equipamento é obsoleto se comparar com as novas tecnologias”, justifica o ex-secretário. Na época em que elaborava o estudo, o custo de uma máquina girava em torno de R$ 20 mil. Ou seja, o montante previsto possibilitaria a aquisição de 20 parquímetros para viabilizar a cobrança.
O ex-responsável pela pasta de Planejamento ainda acredita ser improvável que o sistema englobe 1,4 mil vagas, conforme é ventilado nos bastidores políticos de Cachoeira do Sul. “Tem de tirar as vagas de idosos, deficientes, farmácias e tantas outras que resultariam em aproximadamente 1 mil vagas úteis”, explica. Segundo detalha, a determinação legal aponta para 5% das vagas destinadas a idosos e 2% para deficientes, além de espaços para farmácias, táxis e carga e descarga. “É um estudo complexo que já tinha pronto”, acentua. “Notei que não havia interesse que eu continuasse com o estudo”, acrescenta. “Não me deram nenhum tipo de apoio. O que fiz, foi por iniciativa própria”, completa. “Tenho o projeto de trânsito praticamente pronto para se debatido. Na Prefeitura não quiseram nem ouvir. Saí de lá por isso. Tem alguma coisa no ar”, dispara ao lembrar do período.
Conforme o ex-secretário que tratava do assunto internamente na Prefeitura, o projeto original previa um determinado número de ruas onde seria implantado o estacionamento rotativo. “Para aumentar a quantidade de vagas, teriam de aumentar o número de quadras. O que causaria um transtorno muito grande aos usuários”, considera.
A falta de consulta ainda ignorou, de acordo com Bittencourt, um curso universitário de Engenharia de Tráfego que é aplicado em Cachoeira do Sul. “O projeto de trânsito como um todo levaria pelo menos quatro anos, se tivesse o apoio de quem deveria ter interesse. Teria de realizar um amplo debate, o que já tinha iniciado”, recorda o ex-secretário municipal. “Tem obras de infraestrutura que seriam importantes e que não se faz de uma hora pra outra”, amplia Bittencourt.
Sobre a compra de parquímetros com dinheiro público e a possibilidade da empresa vencedora do processo receber os equipamentos para cobrar os motoristas, o autor do projeto original do Estacionamento Rotativo rebate com mais uma revelação: a proposta inicial era a empresa vencedora fosse responsável pela compra das peças e não usar dinheiro público para a aquisição. “Se a Prefeitura comprar, fica moleza. A empresa seria responsável pela colocação de todos os equipamentos necessários, inclusive sinalização”, enfatiza o ex-secretário de Planejamento. “A Prefeitura dá pra iniciativa privada justamente por não ter recursos para investir”, fecha.
Para Bittencourt, o projeto que elaborava tinha pretensões maiores. Parte do recurso obtido pela cobrança poderia ser aplicada no próprio trânsito cachoeirense e em obras que fossem consideradas necessárias. “Transformar a cidade”, resume o plano que tinha.
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