Agressões, hostilidade, amizades desfeitas: o efeito devastador da polarização

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Agressões, hostilidade, amizades desfeitas: o efeito devastador da polarização
MILOS SILVEIRA
20 de março de 2021 - milos 2

Arte: Divulgação

Nem xiismo de esquerda e nem ultraconservadorismo de direita. Deveria haver uma terceira via para o que aí está posto. Não é nada contra o ex-presidente Lula e nem qualquer demérito ao presidente Bolsonaro. Ambos têm seus acertos: Lula provocou mudanças importantes na área social do Brasil, enquanto Bolsonaro – em parceria com o Exército – vem empilhando obras de infraestrutura viária de baixo custo e de maneira inteligente país afora. Mas não é essa a questão. Vamos deixar isso para outra discussão.

O que quero provocar aqui é uma reflexão sobre o efeito devastador que a polarização provocada pelo fanatismo de ambos os lados está causando para a sociedade brasileira nesses tempos em que todos têm voz pelo advento das redes sociais, que têm servido de ringue para todo tipo de confronto. O estresse causado pela pandemia e seus efeitos sociais e econômicos são combustível para o acirramento das discussões nas redes.

Essa semana, conectado ao Facebook, testemunhei em tempo real dois amigos desfazerem uma amizade de muitos e muitos anos, do tempo de escola, por conta dessa queda de braço de quem defende o Lula e quem defende o Bolsonaro. Eu sinceramente não consigo entender. Tudo começou com um compartilhamento de vídeo de um discurso do presidente Bolsonaro.

“Perdeu um cliente e perdeu um amigo. Eu não tolero quem apoia um genocida”, esbravejou um. “Sai daí que o teu presidente é o maior ladrão que o Brasil já viu. O PT quebrou o país”, retrucou o outro. E os dois seguiram num bate-boca que chegou às vias da baixaria e da falta de respeito, inclusive com ataques pessoais, às suas respectivas famílias, e por aí seguiu.

Uma situação patética. Cada qual passando mais vergonha, para o deleite de quem se diverte às custas disso. Mas pelo amor de Deus, tenha santa paciência!

Dois barbados, cada qual mais trabalhador e gente boa, se expondo e se autodestruindo dessa maneira diante dos olhos dos mais de 2 mil ou 3 mil amigos/seguidores que cada um coleciona em seus perfis.

Mas gente, ponham a mão na consciência. No frigir dos ovos, nem Lula e nem Bolsonaro sequer sonham que vocês existem. Comecem a pensar com um pouco mais de inteligência. Não pesem tanto a mão.

Querem discutir, discutam, mas com argumentos e, principalmente, bom senso e serenidade. Defendam ideias. Não tenham políticos de estimação. Eles não estão nem aí para vocês.

O fato é que, infelizmente, a sociedade adoeceu. Não existe mais discussão sadia. Tudo virou ataque e acusação.

Basta fazer qualquer publicação – sobre política, principalmente – nas redes que sempre haverá um, ou dez, ou centenas para te apontarem o dedo. Criadas para as pessoas fazerem novas amizades e até se relacionarem, as redes sociais inverteram seu papel original e se tornaram um poderoso microfone para quem tem aquela velha opinião formada sobre tudo.